Matérias com um olhar crítico e acima de tudo ético. Visando um respeito e responsabilidade ao transmitir as informações à sociedade. Mostrar a população as várias "faces" do jornalismo.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Tremor de terra atinge Caruaru na noite desse sábado
Com informações da Rádio Jornal
Um tremor de terra foi sentido em Caruaru às 22h30 desse sábado (27). Ainda não se sabe a magnitude do abalo. O último tremor ocorreu no dia 25 de novembro do ano passado e atingiu 2.1° na escala Ritcher.
O maior já registrado em Caruaru aconteceu em 20 de maio de 2006, que atingiu 4° e teve epicentro localizado em São Caetano.
Três estações sismológicas são monitoradas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), sendo uma em Caruaru, uma em Sanharó e outra em Gravatá.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Violência na Turma da Mônica
Na verdade, a exemplo da Disney, a Turma da Mônica, há muito tempo é bem mais que um grupo de personagens de Histórias em Quadrinhos (HQ). Estamos tratando de uma marca fazedora de dinheiro de uma grande empresa – Maurício de Souza Produções – que se manifesta em brinquedos, sabonetes, xampus, fraldas, pentes, parques temáticos... Enfim, uma gigantesca quantidade de produtos infantis.
A questão, porém, não é a dimensão ou os negócios da empresa. Não é o que interessa no momento. Vai se tratar aqui dos personagens da Turma e, em especial, da relação desses personagens com a violência.
O principal deles é, claro, a própria Mônica. A garotinha tem uma característica: ela resolve as coisas na porrada. Tudo. Este é um elemento educativo complicado. Ao invés do diálogo, da negociação, apela-se para a violência. Quando está em apuros, é no braço, ou fazendo uso do seu coelhinho, que Mônica resolve. Moral da história: em situações de conflito, ganha o mais forte.
Hábito que aprendeu com o pai
A Mônica é exemplo de um fenômeno muito comum entre as crianças, em especial nas escolas: o bulling. Pode se dizer que o bulling é uma agressão verbal e sistemática à criança, quando se apelidos que a incomodam, pejorativos, nomeando-a por algo que ela não gosta. No caso, Mônica é chamada de "dentuça", "gorducha" e "baixinha". Isso a deixa irritada. E ela resolve, claro, na porrada. É evidente que, na vida real, nenhum psicólogo iria sugerir o método Mônica para resolver os problemas do bulling. Seria por demais primitivo. No entanto, espantosamente, ele está presente nos gibis da Turma da Mônica. Tudo indica (seria preciso uma pesquisa mais aprofundada) que a solução pela violência é o tema mais recorrente nas histórias em que a garotinha aparece.
Ao que parece, os adultos leitores ou pais de crianças que lêem os gibis da Mônica são condescendente com esta prática da violência. Afinal, para uns, "é uma menina". Isto é, violência feminina pode, masculina não. Na verdade, estamos transferindo para o mundo infantil uma cultura do mundo adulto. A lógica é: se o nosso mundo adulto é machista, com extraordinários índices de violência masculina contra a mulher, é bom que as mulheres reajam. Esse pensamento comete um erro grave: a violência contra a mulher não pode ser corrigida com a mulher também sendo violenta. Quando ela usa as mesmas armas do homem-machista está se igualando a ele.
Claro, há momentos em que é preciso se defender, reagir, partir para a luta e aí vale tudo – porque pode ser uma questão de sobrevivência, inclusive. Mas não creio que seja bem aceita na sociedade a mulher que tem por hábito, como o homem violento e machista, resolver tudo na porrada.
De qualquer forma, esse é um problema do mundo dos adultos. Ainda não faz parte do universo infantil. Corrija-se: faz sim, quando as crianças observam os pais e como eles agem para resolver seus conflitos. Se o pai resolve na porrada, o filho ou a filha vão saber que é assim que deve ser feito. É desse modo que se constrói a personalidade. Enfim, numa leitura superficial pode se dizer que se a Mônica tem o hábito de resolver as coisas na porrada, a princípio, direta ou indiretamente, ela aprendeu isso com seu pai ou sua mãe – pela ação ou omissão, atos ou palavras. A princípio, porque teríamos que fazer uma análise mais aprofundada do seu caráter.
A ótica do hormônio
A Mônica, porém, não é um caso, uma personagem de gibi. Ela é um símbolo. Milhares de crianças lêem a Mônica. E o que estão aprendendo?
1) as coisas se resolvem na porrada;
2) a regra é olho por olho, dente por dente;
3) o bulling deve ser praticado;
3) a inteligência ou a sensibilidade não devem ser usados para resolver conflitos.
É o caso de se comparar a Turma da Mônica com outras turmas. Pode-se pensar na Mafalda, do argentino Quino. Mafalda é brilhante. Mesmo sendo uma HQ para adultos, os conflitos são resolvidos com inteligência e muita sensibilidade. Alguns personagens são cruéis, mas dificilmente alguém sai no tapa; não é comum, mas ocorre. Mas nenhum deles tem na violência sua marca, como é o caso da Mônica.
Outra turma brilhante é a do Calvin, do norte-americano Bill Watterson. Não é exatamente para crianças, mas elas também podem participar das histórias de um garotinho nada fácil que vive questionando as nossas regras morais ou sociais. Por exemplo, Calvin costuma fazer compras de bazucas e metralhadoras por telefone... Calvin tem uma "amiga", a Susie, a quem vive importunando. Quase sempre ele leva a pior. Mas, se observa, é uma questão de gênero – os meninos na sua idade não gostam de brincar com meninas. Eles pensam coisas diferentes do que elas pensam; cada qual vê o mundo diferente – pela ótica do seu hormônio. E, às vezes, ela sai no tapa com ele. Mas a violência não é um traço seu. Susie não é a mandona da rua ou da escola.
Desvios comportamentais
É importante registrar que Calvin e Mafalda são personagens com fundamentos sociais revolucionários; são filósofos – eles fazem o leitor refletir sobre o mundo, sobre a sociedade, o nosso modo de vida, a política, os costumes, e claro, a relação dos adultos com as crianças. A turma da Mônica não tem nada disso. Essa gurizada é extremamente conservadora e moralista. Reproduzem as tradições, os costumes, as modas e modos sociais, sem questionamentos. Talvez por isso, a violência com que a Mônica lida com os conflitos seja uma prática comum.
Na escola de Calvin há uma criança, Mool, um grandalhão que costuma bater nas outras crianças e resolver tudo na porrada. Mas seu autor, Bill Watterson, coloca-o no seu devido lugar: Mool é tratado como um grosso, sem nada na cabeça, um gorila. Ele é o resumo caricato de todo cara (ou instituição) que adota a força para se impor sobre os outros. No caso da Mônica ocorre exatamente o contrário: a palavra final, a decisão sobre os conflitos, quem dá é o personagem que tem mais força, isto é, a Mônica. E essa sua característica de violência é transformada numa virtude – devidamente premiada com a solução dos conflitos em que se envolve e a satisfação dos seus desejos.
O outro aspecto a se observar na Turma da Mônica é o abuso dos clichês. Pelo menos três personagens são clichês: Mônica, como se viu, a que resolve as coisas na porrada; Cascão, que odeia água; Magali, a comilona. Antes de tudo, note-se que são clichês negativos. Ninguém da turma é conhecido por ser inteligente, criativo, sensível, cuidadoso, gentil, amável, isto é, por qualidades humanas, por virtudes humanas. Na verdade, temos, mais uma vez, o incentivo ao bulling – esses três personagens trazem consigo motivos para discriminação e para serem agredidos pelos colegas.
O problema dos clichês nos personagens é que eles não existem fora disso. Cascão ou Magali (e a Mônica) não existem fora dessas suas "virtudes". As observações, as visões do mundo, as ideias, as sugestões, tudo isso que dá personalidade a um personagem, não existe na Turma da Mônica.
A gente sabe que é Magali quando ela fala em comida; a gente sabe que é Cascão por seu ódio à água; a Mônica aparece quando é hora da porrada. Mas essas características de Cascão e Magali, como veremos mais adiante, não são exatamente traços de personalidade, e sim, desvios comportamentais. A violência da Mônica, sim, está mais próximo de um problema de personalidade.
Por que Magali não engorda?
A Magali merece uma observação mais cuidadosa. Ela é uma menina que tem obsessão por comida. E como as histórias da Maurício de Souza Produções abordam isso? Como algo normal.
Ter obsessão por comer, para a Maurício de Souza Produções, não é problema.
Há uma confusão no discurso da Magali (o dela e o de quem a faz falar): a obsessão por comida é considerada um traço da sua personalidade, mas não causa efeitos negativos sobre a saúde. Esse é o problema. Se uma criança que tenha obsessão por comer se identificar com Magali, não vai se esforçar para romper com essa obsessão.
O que se percebe é que o assunto – o desejo de comer sempre mais – é muito sério para ser tratado da maneira como trata a Turma da Mônica. O Brasil tem uma população obesa de adultos que ultrapassa 50%. Entre os pobres, os percentuais podem chegar a 60%. No ano passado, o Ministério da Saúde fez uma campanha contra a obesidade das crianças. E obesidade é doença, reconhece a Organização Mundial da Saúde. Magali, porém, embora tenha essa obsessão pela comida, não é uma menina obesa. Isto é, os roteiristas e desenhistas eliminaram das histórias o que é consequência natural de quem come demais. Todo mundo que come bastante engorda. Magali, não. Porque a Maurício de Souza Produções eliminou essa parte da história da Magali? Pode-se pensar em várias alternativas: para focar no clichê da obsessão por comida; para não discriminar leitores e leitoras que têm essa obsessão; para não ferir os interesses comerciais da revista que costuma publicar anúncios de biscoitos e guloseimas para o público infantil. Seja como for, a abordagem é extremamente perigosa para o leitor, principalmente para aquele ou aquela que tem obsessão por comida.
As marcas das personalidades
A questão da personalidade merece mais atenção.
Observando os clássicos dos quadrinhos pode se notar que os personagens têm personalidade.
Não é necessário olhar a imagem para distinguir nos balões se quem fala é Batman ou Robin, Tarzan ou Guran, Flash Gordon, Fantasma; Miguelito, Felipe, Mafalda ou Manolito. A bem da verdade, diga-se que Quino também usa clichês, como Suzie (que é tudo que a mulher passiva deve ser) e Manolito (o capitalista radical). Mas, está bem claro aí que esses personagens são símbolos caricaturados de uma proposta de sociedade que ele (o autor) condena. De fato, estes dois aparecem como representações semióticas do cenário político ideológico da sociedade criticada por Mafalda e sua turma. Seriam o contraponto ao mundo que Mafalda (Quino) pensa.
E mesmo assim não se pode dizer que não tenham personalidade. Suzie e Manolito pensam e agem conforme a postura ideológica de cada um. Eliminem-se os desenhos na HQ e o leitor que costuma ler Quino irá identificar os dois. Eles têm opinião, idéias, posturas. Todos os personagens de Mafalda têm personalidade – cada um pensa diferente. As boas histórias em quadrinhos criam personagens fortes – e são considerados fortes porque se impõem pela singularidade, pela personalidade. Vide a turma de Hagar, o horrível, de Dik Browne; ou os personagens criados por Laerte (Piratas do Tietê, Zelador, Gato & gata) ou Angeli (Rê Bordosa, Rhalah Ricota), F Gosales (Niquel Naúsea); ou gibis mais antigos como Manda-chuva e Os Flinststones. Tira, cartum ou HQ, os personagens têm personalidade.
E quanto aos principais personagens da Turma da Mônica? Não têm nada disso. Quais são as marcas das personalidades deles? Não existem. A única que se sabe tem uma personalidade é Mônica, mas por seu desvio. Quando ela não está dando porrada, também não existe.
A demanda bélica do Pentágono
Podemos pensar em outros personagens. Chico Bento, por exemplo, revela a vida no campo, mas como clichê. As situações vividas por ele mais parecem narradas por um observador instalado na Rua Augusta, um urbanóide que nunca botou os pés na terra. Por isso, o meio rural é tratado como um outro planeta. E se alguém perguntar as características da personalidade de Chico Bento não vai ter resposta. No máximo vai fazer uso do clichê – que ele é um matuto, um caipira paulista, algo genérico. Chico Bento é uma visão burguesa – distante e elitista – do campesinato. Ele não existe, o que existe é o meio em que vive, forjando todos iguais a ele. (Ele não existe porque não pensa, tomando de empréstimo o cogito cartesiano.) Não pensa como uma pessoa chamada Chico Bento, mas como o protótipo de um ser qualquer, genérico, que vive no meio rural. A gente identifica Chico Bento por causa do ambiente, da roupa, do sotaque caipira. Mas Chico Bento pode ser qualquer um.
Esta visão de personagem que não pensa, não tem opinião, mas apenas age e, conforme o meio, vem dos anos 50, 60 ou 70 do século passado, quando a turma da Marvel já fazia sucesso. Além dos citados Batman, Tarzan, Fantasma, havia Hulk e uma enormidade de gibis de cowboys. No Brasil, a melhor experiência de HQ infantil foi a Turma do Pererê, de Ziraldo, que já ia além dos personagens clichês, fazendo-os ter personalidade.
Hoje são outros tempos. E os personagens mudaram. Batman ainda é cultivado pela garotada mais nova, porém avançou em traços mais exuberantes (Frank Miller, por exemplo) e adquiriu uma personalidade dark. O mesmo aconteceu com Hulk. E com a grande maioria dos antigos heróis. De fato, eles evoluíram porque o público também evoluiu. Os desenhos (e filmes) de Batman contêm muita violência, mas, regra geral, agora se tenta explicar isso como traço de personalidade (revolta pela morte de parentes). Isto é, Batman tem personalidade. Super-heróis puramente ideológicos, como é o Capitão América, criados para atenderem à demanda bélica do Pentágono, são mortos e depois revividos conforme os interesses bélicos do momento.
Um exagero na idolatria
Neste sentido, a Turma da Mônica é um retrocesso. É um monte de clichês, como era comum principalmente nos personagens de Walt Disney – sem opinião e naturalmente conservadores. Sim, Disney foi um histórico conservador, conhecido por delatar aqueles que lhe pareciam comunistas na época do presidente McArthur. Tio Patinhas é o símbolo maior da Disney.
A personagem Mônica não tem uma obsessão como a do Tio Patinhas (pelo dinheiro), mas os dois têm algo em comum – Mônica sugere que os conflitos do mundo devam ser resolvidos através da violência. E isso pode ser visto como uma postura bélica, característica histórica e cultural dos Estados Unidos. Afinal, o big stick, a solução de conflitos através da porrada, tem sido a forma diplomática dos Estados Unidos agirem nos últimos séculos.
Tio Patinhas, salvo engano, é de meados do século passado. Mas Tio Patinhas, mesmo assim, ainda é um avanço em relação a Cascão ou Magali porque, como o Manolito de Quino, a sua necessidade de juntar dinheiro é uma ideologia, e o medo da água de Cascão ou a fome de Magali, são apenas bullings reverenciados pela Maurício de Souza. É muito provável que Maurício de Souza tenha se espelhado em Walt Disney para criar os seus. Talvez haja um exagero nessa idolatria: há uma semelhança física (forjada ou não) entre o criador da Turma da Mônica e o criador do Pateta. Isso não explica o porquê da Mônica ser violenta ou dos personagens da sua turma não terem personalidade. Mas deixa o alerta sobre o que nossas crianças estão lendo.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br / Por Dioclécio Luz em 23/2/2010
Limitações da linguagem jornalística
Nesse cenário, sobra também para os observadores da imprensa sua cota de mal-entendidos e interpretações ambíguas.
Quando se observa que a imprensa tem pesos e medidas variados e às vezes contraditórios para os muitos casos noticiados, deve-se levar em conta uma série de condicionantes, entre as quais o peso relativo de cada notícia, e o valor da cada módulo informativo disponível para ser selecionado em cada edição.
Segundo o professor da USP Vinícius Romanini e outros especialistas em mídia, a linguagem jornalística tradicional sofre de grave limitação: os módulos noticiosos, conforme adotados nos jornais e revistas, não conseguem abranger a complexidade dos temas tratados no nosso tempo.
Agregar artigos e comentários de especialistas nem sempre resolve o problema, pois a tendência dos editores é sempre apostar numa das versões, em detrimento da diversidade de interpretações alternativas. As limitações do espaço, na mídia de papel, e de tempo, na televisão, apenas agravam essa carência.
Poder dividido
A observação de que a imprensa deveria tratar de maneiras diferentes os diversos protagonistas de escândalos, separando meras suspeitas de casos em processo de julgamento ou com decisões preliminares da Justiça, é tipicamente o caso em que, ao analisar módulos noticiosos, o observador também corre o risco de abordar de maneira restrita os temas ali tratados.
Num ponto futuro, resta a expectativa de que, com a evolução da internet, tornem-se disponíveis novos recursos que permitam aos editores – em parceria com seus leitores – a co-autoria de reportagens mais abrangentes, nas quais os pesos relativos de cada notícia possam estar explicitados num mesmo espaço.
Resta saber se os editores aceitarão abrir mão do poder de escolha das manchetes – atualmente usadas aleatória e abusivamente – e transferir ao leitor o direito de decidir por onde quer começar a ler sobre determinado assunto.
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Ninguém quer assinar
A hipótese de intervenção federal no Governo do Distrito Federal (GDF), discutida arduamente por jornalistas e comentaristas em programas de televisão ao longo da quarta-feira (24/2), desapareceu das manchetes dos jornais de quinta-feira. Envolvida em muitas controvérsias jurídicas, essa solução parece uma batata quente: ninguém quer segurar.
O Executivo já deixou bastante claro que o atual governo não pretende passar para a História como aquele que usou um ato de força para resolver um caso de corrupção.
O Supremo Tribunal Federal, já bastante criticado em ocasiões anteriores, nas quais decidiu sobre temas das alçadas do Executivo e do Legislativo, também prefere não meter a mão na cumbuca.
O Legislativo, no caso a Câmara Distrital de Brasília, já se provou tão contaminado que não encontra ninguém na linha sucessória capaz de garantir a governabilidade. Quase metade dos deputados distritais de Brasília são suspeitos de participar do chamado mensalão.
Caso exemplar
A prisão do governador licenciado José Roberto Arruda foi determinada no dia 11 de fevereiro. De lá para cá, o grupo que ele coordenava tentou de tudo para manter-se no poder, mas seus bons companheiros foram caindo um a um.
Por último, renunciou o vice-governador Paulo Octávio, e o atual governador em exercício, o deputado Wilson Lima, é investigado como beneficiário do esquema que mandou para a cadeia o governador titular.
Os jornais reduzem a exposição do assunto justamente quando a questão está próxima de ter um desenlace.
Arruda pediu ao Judiciário um tempo extra para preparar a renúncia, e assim tentar preservar seus direitos políticos. Quer convencer o STF de que, sem o mandato, não teria poderes para ameaçar ou subornar testemunhas. A renúncia também o livraria da perda dos direitos políticos por oito anos, se vier a ter o impeachment aprovado pela Câmara Legislativa.
A imprensa precisa registrar o escândalo em todos os seus detalhes, como fez em outros casos semelhantes, porque o caso de Brasília pode ficar para a História como uma crônica exemplar da corrupção.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br / Por Luciano Martins Costa em 25/2/2010Comentário para o programa radiofônico do OI, 25/2/2010
Lirinha anuncia saída do Cordel do Fogo Encantado. E banda chega ao fim
Uma das bandas representantes da nova safra de boa música brasileira anuncia seu fim. O Cordel do Fogo Encantado publicou em seu site comunicado oficial informando o "encerramento das atividades artísticas da banda".
Segundo Gutie, produtor do grupo, o motivo do fim do conjunto pernambucano é a saída, por vontade própria, de seu fundador e vocalista, Lirinha, o que "implica na impossibilidade de continuidade".
"Revelo, por respeito aos que me acompanham, a minha vital necessidade de trilhar novos caminhos", diz Lirinha, em sua carta de despedida. O artista, que no palco com o Cordel sempre misturou música com teatro, já vinha investindo na carreira de ator. Seu monólogo Mercadorias e futuro colhe elogios da crítica nacional.
» Assista a reportagens e vídeos do Cordel do Fogo Encantado
Foram 14 anos de trabalho do Cordel do Fogo Encantado, sendo 11 anos de banda e 3 de peça teatral que levava o mesmo nome.
Não se fala em show de despedida. Mas, de acordo com o comunicado, será lançado em breve o DVD do show que o Cordel realizou no Domingo de Carnaval, no Marco Zero do Recife, assim como material de arquivo selecionado entre registros realizados ao longo da carreira.
Na última apresentação, não havia sinais do fim da banda. Lirinha, inclusive, cantou músicas inéditas que estariam no próximo disco do grupo.
Confira abaixo a carta de despedida de Lirinha:
"Com a permissão dos Encantados, sempre:
Anuncio a minha saída da banda Cordel do Fogo Encantado.
São 14 anos de trabalho ininterrupto (11 anos de banda e 3 anos de peça teatral de mesmo nome).
O grupo que é independente desde a sua origem, com integrantes do sertão de Pernambuco (Arcoverde) e do Morro da Conceição (Recife) se tornou uma das bandas mais ativas do cenário de shows da música brasileira. Isso aconteceu com a total entrega dos participantes e a verdade da mensagem emitida.
É com muita dificuldade que redijo essa informação, devido ao imenso amor que eu sinto pelo público e pelos meus companheiros/guerreiros do projeto.
Revelo, por respeito aos que me acompanham, a minha vital necessidade de trilhar novos caminhos.
Ajudei a desenvolver um dos espetáculos mais originais da cultura pop do país e é com esse sentimento de orgulho que sigo em frente.
Com a certeza de que o fogo da nossa poesia e da nossa música nunca se apagará e que nossa força é infinita.
Abraço forte,
José Paes de Lira, Lirinha."
Fonte: www.jconline.com.br
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
E agora, o jornalismo estilo "lavoura de notícias"
Do ponto de vista cibernético, o projeto parece um achado porque usa robôs eletrônicos para varrer o YouTube, Twitter, comunidades virtuais e outros sites não divulgados para detectar tendências informativas entre os internautas. Depois de identificadas as preferências por meio de softwares analíticos, o sistema compara os dados obtidos com o perfil de jornalistas free lancers, cadastrados no site a AOL.
O computador seleciona alguns nomes de profissionais ao mesmo tempo em que faz uma pesquisa na Web com palavras chaves recolhendo material de apoio para a reportagem ou artigo. Tudo isto paralelamente a uma varrida nos perfis de possíveis anunciantes para que o material possa ser publicado já com os custos pagos pela publicidade.
Parece a maravilha do jornalismo estilo biônico executado pelo que alguns críticos norte-americanos já chamam de mediaborgs, numa alusão aos cyborgs, organismos metade humano metade eletrônicos, famosos em filmes protagonizados pelo atual governador de Califórnia, Arnold Schwarzenegger.
Os tecnófilos estão maravilhados com o jornalismo estilo “lavoura de notícias”, como foi classificado pela crítica da mídia Patrícia Handschiegel . A American Online diz já ter recebido inscrições de cerca de 200 jornalistas, que em sua maioria perderam os empregos nos últimos dois anos. Mas o resto da imprensa norte-americana tem sido extremamente mordaz em relação do cyberjornalismo da AOL, cujos responsáveis são chamados de “coveiros da informação qualificada”.
O projeto está atraindo muitos profissionais desempregados porque oferece um sistema de remuneração baseado em percentuais na publicidade recebida pela reportagem ou artigo.
A invasão do jornalismo por soluções tecnológicas é um processo irreversível porque está apoiado no interesse das empresas de reduzir gastos e aumentar receitas com publicidade. A AOL esteve à beira da falência durante vários meses no ano passado e o seu site de notícias continua sob a ameaça de fechamento, por falta de anunciantes.
Neste contexto, a preocupação com a qualidade da informação passa a depender cada vez mais dos jornalistas. São eles que poderão dar uma nova dimensão à sua atividade na era digital. As empresas, agora mais do que nunca, procuram a lucratividade. Não adianta esperar delas preocupações humanísticas porque o esforço para sobreviver está consumindo todas as suas energias.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
CARTA ABERTA AOS JORNALISTAS
Depois do exercício de reflexão sobre o ferido, resolveu contemplar os autores da ferida e constatou que, à redução do intervalo entre suas demissões, correspondia uma diminuição da média de idade dos responsáveis por elas.
Apresenta no lúcido ensaio abaixo conclusões preliminares cujo lead é o seguinte:
"Estamos vivendo um Camboja em nossa vida profissional, desde o advento dos novos bárbaros, que passaram a dar feições pavorosas ao exercício do poder nas redações."
O texto de Manzano faz lembrar outro libelo, um discurso de Gabriel García Márquez publicado neste OBSERVATÓRIO em outubro de 1996 (ver remissão abaixo). Mas há entre os dois uma singular diferença. Enquanto García Márquez se dirige aos patrões, na abertura de uma reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa, Nivaldo Manzano, após esclarecer que exerceu funções de chefia durante pelo menos metade de sua vida profissional, faz ver que prepostos estão exercendo nas redações um tipo de mando selvagem que não lhes foi encomendando nem recomendado.
(Os Observadores.)
Os novos bárbaros
Nivaldo T. Manzano
"Em vez de admirar os homens dotados, valentes ou justos, o tirano os teme: a multidão pode querê-los em seu lugar. Quando o medo leva o tirano a eliminar gente dessa estirpe, a quem irá colocar a seu serviço senão os criminosos, os canalhas e os servis?"
"Depois de ter eliminado a todos os que temia, o tirano, longe de sossegar, redobra as precauções. A guerra que move contra os que oprime não cessa".
Xenofonte, Da Tirania (palavras do tirano Hieron ao sábio Simônides)
Uma pergunta freqüente que ocorre a dois jornalistas que se cruzam é: "Onde você está?" (trabalhando). Com certeza ela não ocorre com igual freqüência a profissionais liberais de outras categorias que trabalham em equipe, como administradores ou engenheiros. Atesta esse fato a dança nervosa dos nomes nos expedientes das revistas e dos jornais.
Nos meus 32 anos de profissão, permaneci em média 20 meses em cada emprego, média que suponho esteja abaixo da categoria. Assim ocorreu em parte por convites que recebi para trabalhar em outro lugar, em parte porque fui demitido. A primeira demissão ocorreu quinze anos depois de ter iniciado a vida profissional; a segunda, oito anos depois da primeira; a terceira, cinco anos depois da segunda; a quarta, um ano depois da terceira. Notei, assim, que o intervalo entre minhas demissões vinha se reduzindo, ao mesmo tempo em que caía a média de idade dos responsáveis por elas.
Estava aí uma pauta a ser trabalhada. Estaria isso ocorrendo somente comigo ou seria eu um caso entre muitos? Qual a razão de tantas demissões, cada vez mais freqüentes na vida de cada um? O interesse no assunto cresceu ainda mais quando me dei conta, a partir de meu caso, de que os motivos disciplinares constam em porcentagem tão ínfima que não mereceriam consideração. Saí a campo, e são minhas conclusões preliminares que submeto agora à apreciação de você, colega. Para aprofundar o tema, seria necessário que nossos sindicatos tabulassem as estatísticas de que dispõem sobre o assunto, e somente então estaríamos seguros de que não tem furo na nossa matéria. Enquanto o estudo definitivo não vem, vou fazendo aqui minhas elucubrações.
Estamos vivendo um Camboja em nossa vida profissional, desde o advento dos novos bárbaros, que passaram a dar feições pavorosas ao exercício do poder nas redações. Não haveria por que deter-se no lado sombrio de nosso cotidiano - na verdade, mera extensão da violência institucional que grassa por toda parte, abatendo gente ainda mais indefesa que nós. Ocorre que à diferença de muitos, nós, jornalistas, nos consideramos por profissão e vocação um dos instrumentos das mudanças que apontam para um convívio melhor entre os homens. Sabemos, mais do que ninguém, que o autoritarismo é a mais pesada das poitas que nos retém próximos da selvageria. Mas como converter nossa fé e esperança em tarefa, se nos golpeiam fundo na vontade, castram nosso moral, anulam nossas energias e comprometem a eficácia de nosso trabalho?
A quem interessa e a quem beneficia o saldo do mando a bel-prazer?
Aos nossos empregadores, em primeiro lugar, certamente que não. Embora sejam senhores absolutos da decisão de contratar e demitir, não pode passar pela cabeça de ninguém que estejam jogando dinheiro fora ao recrutar com o esmero de hoje os talentos que sua máquina irá moer amanhã. A propósito, por muito tempo o debate foi bloqueado pelo maniqueísmo. Por isso, retomá-lo na direção aqui proposta pode sugerir que se pretende escamotear o essencial, desviando-o para o conforto do oportunismo. Aos que assim pensam, respondo: pelo menos metade de minha vida profissional consumiu-se em funções de chefia - a serviço dos patrões, portanto. Nunca jamais me foi sequer de longe insinuado que perpetrasse as barbaridades que hoje presenciamos, algumas das quais relato aqui, apenas a título de exemplo. Peço paciência ao leitor, que lá chegaremos.
Ao longo da década de 90, nós, jornalistas, despejamos sobre os leitores os princípios que devem informar o "novo" conceito de capital humano. Divulgamos aos quatro ventos que, depois da era do músculo e da era da máquina, havíamos chegado finalmente à era propriamente humana do trabalho intelectual.
Fomos ainda enfáticos, apregoando que o futuro dos povos está na dependência do reconhecimento de uma descoberta absolutamente inédito na história das relações capital-trabalho: a cabeça - desde a do peão da fábrica até à do penúltimo executivo no topo da hierarquia, já não pode ser considerada como mero suporte do capacete.
Nos últimos anos do século, estamos divulgando inovações ainda mais surpreendentes, como a importância de se zelar pelas emoções e afeições no mundo do trabalho, de modo a liberar a criatividade e extrair mais excedentes. Assim, já se começa a admitir no ambiente de trabalho a presença de cães - animais agora convertidos em amansadores de seus próprios donos. E não estranhará que amanhã veremos o cão puxado pela criança puxada pela babá puxada pela patroa - todos rumo ao escritório, para o melhor desempenho profissional do "chefe de família".
Por mais que se queira ver nisso tudo mera retórica das teorias da organização, ainda assim será preciso render-se à evidência de uma grande mudança: a retórica organizacional humaniza-se cada vez mais.
Assim, ficam cada vez mais distantes os tempos em que Henry Ford e Alfred Sloan sonhavam com um robô que substituísse à perfeição a força muscular do operário-camarão, cuja cabeça não lhes interessava. Reduzido a força mecânica, esse simulacro de gente, acionado por comandos de voz ou elétricos, ainda apresentava o inconveniente de portar uma cabeça debaixo do capacete - um fator de dirupção na rígida estrutura hierárquica piramidal, concebida segundo o modo de funcionar da própria máquina.
Diferentemente do mundo da fábrica, a corporação jornalística não passou pela primeira revolução na organização do trabalho nem pela última. Desde a invenção da imprensa até os dias de hoje, pouca coisa mudou na forma como estabelecemos nossa rotina de trabalho ou no modo como promovemos a interação entre os indivíduos que dela participam.
Ao contrário do que ocorria na fábrica de Ford, não operamos como partes mecânicas, isoladas e inertes, sem interação. Se a cor do capacete devesse indicar o lugar que ocupamos na estrutura arborescente de Ford e Sloan, cada um de nós deles portaria uma coleção inteira - não importa a função, fazemos necessariamente de tudo um pouco e conjuntamente, de modo que a obra final é sempre resultado de um esforço comum.
Os vínculos funcionais que nos ligam uns aos outros não são apenas do tipo linear, como na fábrica de Ford. Podem estabelecer-se entre nós interdependências tanto num mesmo nível de ramificação quanto em níveis diferentes - e essas interdependências assumem a forma de circuitos de retroalimentação, conceito que operamos séculos antes de Wiener valorizá-lo na Cibernética.
Assim, nas redações o trabalho de A pode tornar possível o aprimoramento do trabalho de B, e o trabalho de B, por sua vez, pode ser utilizado para melhorar o trabalho de A. E a melhoria de A tornará possível o crescimento da eficácia de B, e assim por diante. Um por todos e todos por um é o lema de nossa prática mosqueteira que está por trás de cada matéria, de cada título, de cada manchete.
E por que é assim? Porque o método de ataque e de resolução de problemas nas redações deve corresponder ao objeto com o qual lidamos.
O objeto com que lidamos é a história do presente - e essa é feita de liberdade. Ela se inventa. E é para darmos conta da invenção - que não sabemos quando, onde, por que, por quem e como vai ocorrer - que a organização de nosso trabalho só é comparável em flexibilidade, agilidade, leveza e improvisação às asas da imaginação. Tudo orientado para captar o novo, o singular. E estamos tão seguros de nossa escolha que, mesmo que os físicos nos quisessem demonstrar que a existência do Universo é uma improbabilidade estatística, lá estaríamos nós, incrédulos, à espera de que algo pudesse ocorrer, porque para nós uma improbabilidade ainda não é uma impossibilidade.
Sem o brilho dos poetas, estamos sempre enunciando algo como que pela primeira vez, ainda que na forma de rascunho. Sabendo que a notícia altera o contexto em que cai, obrigamo-nos a cada momento a recalibrar nossa percepção, de modo a não deixar escapar o evento que está por vir.
Temos, assim, as habilidades requeridas da mais celebrada das profissões do futuro - a perspicácia para identificar novos contextos.
Mas é verdade também que, como rascunhadores da história do presente, não dispomos do saber categórico. Nossa pauta é sempre resultado de um compromisso precário entre o passado de ontem, que já não é o mesmo, ante o que acaba de ocorrer, e o futuro que ainda não veio. É desse fundo turvo e movediço que tiramos nossas certezas, saltando do que não é mais para o que ainda não é. E, assim, como os engajados na ação política, pagamos por nossas apostas.
É a essa organização-modelo, feita para lidar com o imponderável, que faz da solidariedade objetiva condição de trabalho e aceno à virtude, que os novos bárbaros querem pôr abaixo, reduzindo-nos a autômatos que Ford recusaria, tivesse ele o robô, pela impossibilidade de cortar-lhes a cabeça.
Uma diretora de redação de uma revista de circulação nacional passa a exigir como critério de seleção do pessoal o mapa astrológico. Outro diretor exige que eu demita a secretária por causa da cor do batom, muito viva para seu gosto soberano. Um terceiro me recrimina por manter a porta aberta a todos os subordinados, mesmo sabendo que os problemas por eles trazidos serão resolvidos somente na instância em que ocorreram e à qual eles estão vinculados. Um editor, recém-chegado ao jornal, demite toda a equipe, contrata um bando de amigos bichos-grilos, e, vendo-se então incapaz de editar, pede demissão vinte dias depois.
No momento em que digito este texto, sem que ninguém soubesse que pretendia fazê-lo, sou interrompido pelo telefone que me faz saber da demissão de uma repórter, por se ter recusado a fornecer ao chefe imediato suas fontes. O primata que a demitiu tem dois meses de casa; a repórter, dez anos de excelentes serviços prestados, na opinião unânime dos colegas. Do currículo do mesmo primata consta a decisão de ter demitido de forma igualmente sumária, sem consulta a ninguém, outro repórter que (pediu, e depois) exigiu retificação na edição do dia seguinte de uma informação crucial que havia sido alterada na sua matéria.
Seria o caso de prosseguir em relatos de casos conhecidos de todos?
Ausente durante cinco anos da grande imprensa, constato ao meu retorno como cresceu o império do arbítrio. Restringindo minhas observações apenas ao que ocorre nas cinco maiores empresas de comunicação, verifico que não passa um dia sequer sem notícia de alguma demissão profundamente injusta e atrabiliária.
As novas gerações precisam saber que nem sempre foi assim e que não deve ser assim.
De minha infância e adolescência profissional lembro-me com saudade do ambiente nervosamente alegre e ruidoso das redações, lideradas por gente que entendia a autoridade como um valor a conquistar junto aos liderados, razão por que não receavam mover-se entre nossas baias, como um mortal comum, eventualmente responsável por um aporte superior de discernimento. Seria impensável esperar de quaisquer de meus ex-chefes de então que patrocinassem a demissão de quem se recusou, por aplicação no trabalho, a morder a isca do trote do boimate, ou que demitissem a redatora, impossibilitada de mudar o horário de trabalho em menos de doze horas, como lhe foi exigido, por não ter ainda quem buscasse o filho na escola.
Seria aquela sua intolerância com a intolerância manifestação de uma postura superior de caráter?
Hoje vejo insinuar-se nas grandes redações um silêncio tumular. Vejo as pessoas moverem-se cautelosamente pelos cantos, como que com medo de que o chefe as flagre no exercício culposo de existir. O terror parece tornar-se onipresente, ainda não ostensivo como um pelourinho na praça, mas já veladamente insidioso como um câncer da próstata.
"Vais conhecer o mundo", disse o pai do menino Raul Pompéia à porta do Ateneu. Li-o na adolescência, para saber cedo na vida que não haveria por que esperar que em nossas redações os sonhos devessem manter-se ao abrigo do risco de serem moídos pela brutalidade. Mas, ao contrário do que se passava no Ateneu, nossa vida cá fora tem a ver com responsabilidades públicas, como atesta a lei que rege nossa atividade.
Como o flagelo espalha-se em ondas avassaladoras, começo a recear pelo destino das novas gerações, sensíveis igualmente à brutalidade, mas desprovidas de nossas referências passadas, e tendentes, como observo, a encarar como "natural" esse caminhar moralmente de cócoras.
Assim, deixam que os chefes metam a mão em seus textos, às vezes suprimindo ou alterando conteúdos de importância crucial, sem se dar conta de que ao repórter cabe responder ética e civilmente perante a fonte e o leitor.
Da castração moral à infantilização beócia das equipes, o passo é apenas lógico, como o foi no fascismo. Assim, uma editora jovem alçada subitamente à condição de editora sênior - digo, melhor, demiurgo - convoca editores e repórteres, alguns deles com mais de quinze anos de jornalismo, para ministrar-lhes durante uma hora, com despudor anedótico, lições transcendentais sobre como falar ao telefone com o entrevistado.
Explica-se: ao tempo em que o mundo se debruça sobre nosso modelo de organização, para dele colher o segredo das estruturas versáteis, os novos bárbaros, avançando sobre os escombros de nosso orgulho, fazem escola nas redações - e são esses padrões de mando despótico que passam a moldar o comportamento dos mais novos, do subchefe ao último repórter ou paginador na escala hierárquica. Estaria aí o começo da explicação de uma das tendências a que me propus investigar no início?
Conhecendo-lhe a matriz histórica, sabemos que o despotismo esterilizante de nossos dias não é uma fatalidade. Trabalhei em organizações jornalísticas exemplares, como é a TV e Rádio Suécia e a BBC londrina. Ali, já no início dos anos 70 tamanha era a preocupação com remover do ambiente de trabalho empecilhos que pudessem dificultar o exercício da inteligência, que se suprimiu, simplesmente, a figura do chefe. Nem por isso ruiu a hierarquia para instalar-se a anarquia.
Criou-se em seu lugar a figura do líder de grupo de quem, por precaução, se retirou o poder de vida e de morte sobre os subordinados. O objetivo era remover da relação hierárquica a possibilidade de prevalecer na decisão das chefias elementos de força, de uso inteiramente inadequado no caso. Subjacente a essa postura, que reconcilia a natureza de nossa atividade com a forma de organização que lhe convém, está o entendimento de que a arma do argumento - e não o porrete - é o instrumento por excelência de nosso trabalho.
É brandindo o argumento, às vezes com veemência como fazíamos no passado, que se faz vir à luz a manchete. E é sempre em razão dos argumentos que se armam os qüiproquós, tônico da criatividade que dá origem ao melhor lead, ao melhor título, à escolha da melhor foto, ao melhor texto final, que, embora assinado, traz as marcas da contribuição de cada um. (Diga-me, colega, haverá profissão mais apaixonante que a nossa? Não é assim que o operário alienado do produto de seu trabalho fantasiou seu paraíso?)
Esse é o grande debate, que sem ódio nem ressentimento precisamos ter coragem de levar às redações e aos sindicatos da categoria. Quando se tiver removido o despotismo atual, as novas gerações poderão ver com mais clareza que o jornalismo alimenta-se exclusivamente dessa substância seminal, que é o dissenso. Entre nós, os embates, longe de visar à eliminação do contendor, são funcionais: seu objetivo é produzir o mesmo efeito polifônico do choque entre metais e cordas na orquestra.
É, assim, com o propósito de restabelecer o princípio da dissonância em nossa atividade, que convoco os colegas para uma cruzada cultural, que sabemos longa, e que nos conduza ao seguinte:
1 - suspensão das demissões sumárias, à parte as questões disciplinares, assunto que não é objeto de nossas considerações;
2 - remoção da possibilidade do arbítrio, cassando-se o "direito" do chefe de decidir sobre o destino dos colegas sem consulta a ninguém (na BBC são necessárias pelo menos três pessoas para formalizar o processo e tomar a decisão);
3 - levar aos empregadores, mediante negociação com os sindicatos, uma proposta de adoção de uma política de pessoal ad hoc.
Aprendemos com Tocqueville que o mais terrível dos poderes é o poder de mandar a bel-prazer. Assim concebido, ele é, nas palavras do gênio, infinitamente perigoso. Não pelo fato de mandar - mas pelo fato de que pode tomar conta da sociedade. Não pelo fato de controlar - mas pelo fato de que pode privar os cidadãos de qualquer iniciativa política e, mais grave que tudo, porque pode privá-los do desejo de tomar iniciativas. Daí a urgência desta cruzada.
Estou confiante na compreensão de nossos empregadores, a quem, como a nós, não interessa a asfixia de nossa criatividade e a ineficácia de nosso trabalho. Vejo como possível restabelecerem-se as responsabilidades compartilhadas nos erros e nos acertos, o espírito de confiança, o princípio do dissenso e a paixão pelo trabalho, para melhor proveito de nossos leitores.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
PT abre congresso para aclamar candidatura de Dilma
No discurso, Dilma vai enaltecer as obras do governo Lula e a necessidade de preservar o modelo econômico, como afirma a nova versão de sua plataforma, retocada a pedido do Planalto. A última versão do plano de governo, que será votada amanhã pelo congresso do PT, prega o fortalecimento das estatais e das políticas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal (CEF), Banco do Nordeste (BNB) e Banco da Amazônia (BASA) para o setor produtivo.
Nesse tópico, porém, foi acrescentado um trecho esclarecendo que "os bancos devem orientar-se para a produção e o consumo, a custo cada vez menores, de modo a promover o emprego e a renda em um quadro de estabilidade monetária".
Fonte: Agência Estado
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Original Olinda Style celebra o pop pernambucano no encerramento do Rec Beat

Foto: Chico Porto/JC Imagem
Uma noite de celebração encerrou o festival Rec Beat, que completa 15 anos neste 2010. Nesta Terça-Feira de Carnaval, a música pop de Pernambuco foi homenageada pela grande estrela do dia, o Original Olinda Style, projeto encabeçado pelas bandas Eddie e Original Olinda Style.
O que se viu nestas primeiras horas da quarta-feira ingrata foi uma multidão que cantava todas as músicas em coro. Grande acerto na escalação do festival, que tem Recife já no nome e desde seu nascimento foi fomentador da cena cultural da cidade. A ideia de trazer o Original Olinda Style - cujos integrantes traziam adereços como cabeça de La Ursa e perucas - foi justamente essa, de linkar as referências do passado, quando passaram pelo palco bandas como Devotos, Sheik Tosado e inúmeras outras que só o esforço faz lembrar.
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Fantasiado de Slash (do Guns n´ roses), Fábio Trummer se mostrou um excelente "anfitrião" do levante e mostrou que sua banda, a Eddie, é a que tem mais força no Recife hoje em dia. A Orquestra Contemporânea de Olinda possui seu séquito de fãs, uma galera que parece expelir pelos poros certo orgulho bairrista. Não faltaram hits, "É De fazer chorar", "Pode me chamar", "Ciranda de maluco". Destaque para a participação de Erasto Vasconcelos, desengonçado com sua peruca laranja. Ele cantou um de seus maiores sucessos, "Maranguape". Detalhe que Erasto é morador deste bairro da periferia de Paulista, no Grande Recife.
O Cais da Alfândega lotado curtiu o som do Original Olinda Style por mais de duas horas, no show mais longo do festival. E poderia ainda durar por mais tempo, dada a animação e o gogó de quem cantava tudo que saía dos caixas de som.
ENFIM, A TERÇA - Outra banda bastante esperada foi o Cidadão Instigado, do Ceará. Fernando Catatau é nome conhecido entre os frequentadores do festival e conquistou o público com música de seus dois discos. Ano passado, o grupo lançou o elogiado álbum UHUU, e o show foi baseado nas canções desse último trabalho.
A noite dessa terça ainda foi recheada com promessas, como a Caldo de Piaba, e mais uma atração latina, os mexicanos do Cabezas de Cera. Mas boa surpresa foi mesmo o pernambucano Mestre Galo Preto. Aos 75 anos, este repentista e embolador mostrou carisma, conversando com a plateia e mostrando que ainda segura a onda de ser chamado de "O menestrel do Coco". Fez bastante sucesso sua música, "Homem com homem, mulher com mulher", para um público que ainda desconhece seu trabalho.
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Quanta Ladeira faz as pazes com o público no domingo do Rec Beat
Fonte: http://www.jconline.com.br/
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Naná recepciona Momo nesta sexta-feira e abre o Carnaval do Recife

Como acontece há nove anos, Naná Vasconcelos é o mestre da maior cerimônia festiva do Recife. Fica ao comando do batuqueiro abrir oficialmente, nesta sexta-feira (12), o nosso Carnaval. Oficialmente porque quem circulou pelas ruas de qualquer canto da cidade nas três últimas semanas sabe que, por aqui, Momo já chegou.
A programação começa às 17h, quando 700 batuqueiros de 17 nações de maracatus se encontram na Rua da Moeda para iniciar o cortejo rumo ao Marco Zero. Dona Santa, conhecida como a eterna rainha dos maracatus, e Mãe Menininha do Gantois, ialorixá mais importante do Brasil, serão exaltadas durante o percurso - que também será feito pelo Rei e Rainha do Carnaval, caboclos de lança do maracatu de baque solto Piaba de Ouro e uma clarinada composta por 12 clarins. [Veja abaixo entrevista com Naná e outros artistas].
Às 19h, Naná e seus batuqueiros chegam ao Marco Zero para fazerem uma reverência ao Carnaval. É quando o Rei Momo recebe a chave da cidade e, agora sim, está dada a largada para os shows do principal palco da folia da capital. Maestro Spok, Claudionor Germano, Elba Ramalho, Maestro Forró, Geraldo Maia, o Bloco da Saudade e Luiz Melodia se apresentam nesta noite no Marco Zero. Às 22h30, Zeca Pagodinho vem para mostrar que, no Carnaval do Recife, a festa é dos pernambucanos, baianos, cariocas...
PROGRAMAÇÃO - As praças e ruas do Recife Antigo também dão início à agenda carnavalesca nesta sexta-feira. A Praça do Arsenal é um dos polos mais movimentados Às 20h, tem desfiles de agremiações e orquestra de frevo, além da Orquestra de Frevo Harmonia, que faz show itinerante, acompanhada pelos passistas do Grupo Guerreiros do Passo. A partir das 21h30, Boi de Mainha, Bloco Carnavalesco Madeira do Rosarinho, Gigantes do Samba e Orquestra 19 de Fevereiro comandam a folia.
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Já no Pátio de São Pedro, o Carnaval começa às 17h, com Orquestra de Frevo Imperial e passistas do grupo Forrobodó. Ainda passam por lá os blocos Batutas de São José e Com Você no Coração. Às 21h, o show fica por conta da Orquestra de Pau e Corda Usina das Cordas, Orquestra do Bloco Cordas e Retalhos e a Orquestra de Frevo de Bloco Levino Ferreira.
Fonte: www.jconline.com.br
Quanta Ladeira apresenta problemas em seu primeiro ano com estrutura de gigante
Utilizando um jargão apropriado ao Quanta, o público estava "de cara" durante quase todo o show. Explico: por volta da 0h30, não havia bebida alcoólica disponível para venda. Com filas enormes para comprar fichas, muita gente teve que retirar o dinheiro de volta. A pouca cerveja que tinha estava quente e muitos reclamavam. O bom humor estava indo embora antes mesmo do início da "greia". Sorte para os ambulantes, que fizeram sucesso com seus isopores cheio de bebidas geladas. "Latão é quatro conto", foi o que mais se ouviu entre a multidão.
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No palco, a música tema do Quanta Ladeira fez o levante inicial do público, que cantava em coro. Em seguida, as aguardadas novas composições não desceram muito bem. Referências ao mensalão do Democratas, candidatura de Dilma ("essa Dilma ninguém azara") e José Serra não empolgou muito a plateia, que ficou esperando os standards, como "Para eu comer teu c* falta uma polegada" e outros. Divertida a paródia com a morte de Michael Jackson, cantada logo no início do show.
No palco, destaques para uma Luíza Possi bastante animada e Fafá de Belém, bem solta, entoando palavrões e abraçando com bom humor a tiração de onda com seus enormes peitos. Lenine fez falta, mas Nena - a cada ano que passa o rosto mais característico do Quanta Ladeira - mandou bem no improviso e na empolgação. Outros apenas figuraram, como Vitor Araújo. O show ainda não tinha terminado quando uma multidão fazia fila para sair do sítio.
Panorama bem diferente do bloco no Rec-Beat ano passado, durante o domingo de Carnaval, quando milhares de pessoas em frente ao Paço Alfândega pediram bis. Se é irrelevante citar as críticas sobre a mudança de público que o bloco vem tendo com sua popularização, o que chama mais atenção é o fato de a proposta estar desencontrada.
Enquanto músicos ainda parecem se divertir como um despretensioso encontro de Carnaval, o público fez do Quanta um dos eventos mais concorridos, com ingressos esgotados em menos de duas horas . E isso gerou uma demanda que a equipe parece ainda não saber lidar direito. Já foi citado pelos produtores o notável desconforto de lidar com esse crescimento. E reconhece-se em atender a essa demanda que surge a cada ano, como mudar o local da prévia para um palco e espaço maior. Mas, nos próximos anos, talvez, o Quanta Ladeira precise repensar o que quer mesmo se tornar.
Mesmo com uma "bad vibe" nesta prévia e críticas ao show, a expectativa é grande para o domingo (14), quando o Bloco se apresenta no palco do Rec-Beat, no Paço Alfândega. Ninguém duvida que a plateia estará lotada mais uma vez.
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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Abaixo as calamidades; animação é o nome do jogo
O que veio para ficar é a novíssima versão do new-new journalism concebida pelo messianismo marqueteiro com a missão de extirpar das almas qualquer possibilidade de desassossego. A maçã da realidade expulsou Adão e Eva do Éden e outra maçã, a da Apple, nos leva aos delírios da virtualidade [veja remissões abaixo].
As maiores nevascas dos últimos 90 anos nos Estados Unidos foram mostradas no noticiário da BBC do último fim de semana com a imagem de uma americana idiota, extasiada com a fofura da neve a exclamar, "it´s gorgeous" ("deslumbrante").
Muitos segundos depois, se descobria que a capital americana, pela primeira vez em sua história, deixou de funcionar num dia util. Terrorismo? Pior: a natureza endoidou, o descontrole climático está aí, qualquer que seja a explicação dos cientistas.
Modernidade fingida
Um dos mais tórridos verões cariocas das últimas décadas foi mostrado pelos líderes de audiência como uma magnífica temporada de praia com águas semelhantes às do Caribe. Seguem-se os inevitáveis conselhos dos dermatologistas, receitas dos gourmets com menus gelados e depoimentos de idiotizados turistas escandinavos preparando-se para a folia carnavalesca.
Ninguém se lembra dos milhões de cidadãos obrigados a trabalhar com temperaturas superiores ao teto civilizado dos 40ºC. Os inéditos incêndios das matas cariocas em pleno verão não valem manchetes nem merecem figurar nas "escaladas" do noticiário televisivo. Verão é tesão, mulher pelada, cerveja gelada descendo redondo. Aqui ó, para o sofrimento, para a desidratação, para a falta de ar, para a hipotensão. O Haiti não é aqui. Definitivamente.
Verão é bacana desde que não se fale em suor.
São Paulo ilude-se à sua maneira, fingindo modernidades. A Desvairada, mais desvairada do que nunca, não consegue enxergar-se como espelho ampliado da ineficiência carioca. Os 47 dias ininterruptos de dilúvio e enchentes não foram suficientes para despertar os aguerridos jornais e seus incansáveis jornalistas para uma cruzada contra o lixo.
Última palavra
Lixo?! Coisa nojenta. A palavra foi embargada pelos "manuéis" das redações. Lixo só aparece no sentido figurado: lixo da história, fulana está um lixo etc., etc. A maior cidade do mundo está literalmente entupida pelo lixo, as classes médias – tanto a emergente como a submergente – têm horror ao lixo. Compram maquinetas de pressão para lavar as calçadas mas poucos se dão conta de que as sacolas de lixo deixadas displicentemente nas calçadas anulam os mais eficazes sistemas de vazão de águas pluviais: empurradas pela enxurrada, aquelas montanhas de lixo plastificado tapam os ralos e arrolham a canalização. Nada flui, tudo se acumula.
Já houve tempo em que os jornalistas paulistanos se imaginavam em Manhattan, não repararam que agora estão em New Orleans e que o Katrina local poderia ter sido evitado se um grande jornal lançasse uma vibrante cruzada para ensinar governantes e governados a lidar com o lixo que geram e não sabem administrar.
O novíssimo new journalism não foi feito para retratar os dramas das maiorias, isso já era. Nem para promover melhorias no modo de viver – isso pressupõe a existência de coisas horríveis que incomodam e não convém mencionar. O que interessa neste momento é o que se passa no gueto dos privilegiados – entre os quais se incluem muitos formadores de opinião e respectivos padrinhos, pagos para endeusar celebridades, promover novidades, inchar bolhas e enganar os trouxas.
O fenômeno não é brasileiro, é universal. As massas não devem ser incomodadas, nosso mundinho deve parecer viável, ai dos candidatos que ousam exibir problemas ! Nosso cartão de crédito deve transmitir segurança, nosso carro, Toyota ou não, é a última palavra em matéria de tecnologia. A condição humana não deve ser subvertida, essencial mantê-la desumanizada. Livre de perturbações, medos e presságios.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br /
Por Alberto Dines em 10/2/2010
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Já estão definidas as datas do II Congresso de Jornalismo Cultural: o evento realizado pela Revista CULT ocorre entre os dias 3 e 6 de maio de 2010 no Teatro TUCA, em São Paulo. Serão reunidos jornalistas, intelectuais, escritores e artistas brasileiros e estrangeiros para discutir e analisar a produção cultural contemporânea acadêmica e jornalística.

Em 2009, o I Congresso de Jornalismo Cultural reuniu cerca de 3 mil pessoas, principalmente graduandos e pós-graduandos de jornalismo, durante cinco dias de evento. Entre os palestrantes convidados estavam os principais jornalistas do país.

Também participou do evento o espanhol Juan Cruz, um dos principais jornalistas europeus, diretor-adjunto do espanhol El País.
Mesas sobre o papel da mídia e do Estado na cultura, discussões sobre a crítica de música, teatro, literatura, artes plásticas, foram os destaques do evento. Na mesa sobre cinema, participaram especialistas como Luiz Zanin (O Estado de S. Paulo), Sérgio Rizzo (Folha de S.Paulo) e Bráulio Mantovani (roteirista de Cidade de Deus). Já o debate sobre crítica musical analisou a importância das resenhas e da criação de novos espaços de difusão musical, como o myspace, os blogs e os zines. A crítica literária, por sua vez, foi assunto para personalidades do meio, como Manoel da Costa Pinto (TV Cultura), Jerônimo Teixeira (Veja) e Cristovão Tezza (escritor, ganhador do prêmio Jabuti de 2008, com o romance O filho eterno).

A televisão e a qualidade dos programas de entretenimento também pautaram as discussões no I Congresso de Jornalismo . O professor da ECA-USP e ex-presidente da Radiobrás Eugênio Bucci destacou a necessidade de fazer debates como aquele promovido pela Revista CULT: “É uma grande vitória quando um congresso consegue dialogar sobre vários aspectos da televisão brasileira de forma democrática”, disse. Da mesma forma, Alfredo Manevy, Secretário Executivo do Ministério da Cultura, afirmou que aquele foi um “momento histórico. Nunca o Brasil parou para discutir políticas públicas para a cultura com alunos universitários. É importante que a grande imprensa reproduza e dê destaque para esse debate”.
Crítica musical: Sérgio Martins, Lobão, Marcos Fonseca, Arthur Dapieve e Pedro Alexandre Sanches
Realizado em parceria com ECA-USP, UFRJ, UNESP, UFREGS, PUC-SP, PUC-RS, Cásper Líbero, Mackenzie e Metodista, o II Congresso de Jornalismo Cultural trará novos debates e temas ligados à comunicação e à produção cultural, que certamente gerarão discussões e reflexões que contribuirão para o desenvolvimento da visão crítica e do repertório dos participantes.
Mais informações podem ser obtidas com Gabriela Longman, coordenadora do II Congresso, através do e-mail: congresso2010@revistacult.com.br
Fonte: www.revistacult.com.br
Amazônia perdeu 247 quilômetros quadrados de floresta em dois meses
O desmatamento na Amazônia em outubro e novembro de 2009 atingiu 247 quilômetros quadrados (km²) de floresta. Na comparação com os mesmos meses de 2008, houve queda de 72,5%. Os números, divulgados nesta terça-feira (2), são calculados pelo Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espacias (Inpe).
“Os dados são de queda significativa. Houve redução de 68% em um mês e 80% em outro”, avaliou o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.
Em outubro de 2008, o Inpe havia registrado 540 km² de desmate, em 2009 contabilizou 175 km². Já em novembro de 2008, a área desmatada foi de 356 km² contra 72 km² em 2009. A medição do Deter considera as áreas que sofreram corte raso (desmate completo) e as que estão em degradação progressiva. Segundo Minc, a cobertura de nuvens na região em 2009 foi menor que em 2008, o que permitiu que os satélites observassem áreas maiores de floresta.
“Ninguém pode dizer que não vimos o desmatamento porque estava tudo coberto de nuvens. Não é o caso, porque a nuvem abriu e mesmo assim verificamos que o desmatamento caiu.”
O Pará lidera o ranking do desmatamento acumulado nos dois meses, com 108 km² a menos de floresta em outubro e novembro. Mato Grosso aparece em seguida, com 50 km² desmatados. No Amazonas, o Inpe registrou 33 km² de derrubada somente em outubro. Na avaliação do ministro, o estado foi o “destaque negativo”, já que tradicionalmente não aparece nas primeiras posições entre os desmatadores.
O governo atribui a queda no desmatamento às operações de fiscalização e controle, realizadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Força Nacional de Segurança e às atividades da Operação Arco Verde, que oferece alternativas econômicas ao desmatamento ilegal.
“Esses são os primeiros números pós Arco Verde, que cobriu os 43 municípios mais desmatadores”, disse Minc.
Nos quatro primeiros meses do calendário oficial do desmatamento – de agosto a novembro – a redução entre 2008 e 2009 foi de quase 50%, com queda de 2.238 km² para 1.144 km² no acumulado medido pelo Deter.
Nesse ritmo, Minc acredita que será possível cumprir a meta de redução do desmatamento prevista na Política Nacional de Mudanças Climáticas muito antes do prazo.
“A meta é reduzir o desmatamento em 80% e chegar a 3,5 mil km² em 2020. Podemos alcançar essa meta ainda este ano, com nove ou dez anos de antecedência”, aposta.
“Podemos chegar em 2020 com redução de 95% do desmatamento em relação à década anterior”, completou.
Fonte: Agência Brasil