
Enquanto a esquerda mostra-se incapaz de apresentar um programa anticapitalista, a direita apressa-se em salvar o capitalismo. O encontro do G20 ocorrido em Londres marca uma reação dos Estados nações na busca de uma solução para administrar os rombos da crise econômica.
No lugar do G8 tem-se agora o G20. Muda o tamanho, mas não necessariamente os objetivos. O encontro terminou com um anúncio bombástico: "A era do segredo bancário acabou", mas na realidade pouco irá se alterar na ordem econômica internacional pós-crise. O que se decidiu em Londres foi garantir ao capital financeiro continuar a agir como tem agido nos últimos trinta anos. Ou seja, acumular lucros fabulosos nas épocas de prosperidade e contar, nas épocas de crise, com a “generosidade” do Estado.
A agenda do G20 resumiu-se a propostas de reformar o FMI e o Banco Mundial que caducaram com o tamanho da crise. Por outro lado, as energias maiores do debate centraram-se em como socorrer as economias combalidas. Mais transfusão de recursos públicos para mãos privadas. A questão ambiental sequer entrou na agenda.
Uma das decisões foi a de injetar mais recursos no Fundo Monetário Internacional (FMI) com a justificativa de que existem economias nacionais que necessitam urgentemente de recursos para enfrentar a crise. Essa decisão é boa para os países ricos. Para esses, fortalecer o FMI é necessário. Dessa forma, dirão que estão protegendo os pobres, mas, na verdade, ao lhes fornecer recursos para pagarem suas dívidas, estarão protegendo seus próprios bancos.
A mudança mais significativa, de caráter política do G20, é a indicação de que a geopolítica está mudando. Talvez, a maior dica de mudanças no mapa-múndi geopolítico tenha sido dada por um documento do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, vazado para a mídia britânica. Nele, os outros 19 países que compõem o G-20 foram, às vésperas da cúpula dos chefes de Estado em Londres, classificados em duas divisões de importância para os planos britânicos, incluindo uma campanha de relações públicas. Enquanto nações de ligações históricas, como as ex-colônias Austrália e Canadá, foram colocadas no segundo escalão “ ao lado de México, Turquia e Argentina” , Brasil, China e Índia apareceram ao lado de Estados Unidos, Japão, França e Alemanha.
Na própria cúpula, o cumprimento entusiasmado do presidente dos EUA, Barack Obama, a Lula (Esse é o cara!) foi um sinal de uma nova ordem mundial, em que o poder econômico já não é monopolizado pelos países mais industrializados do mundo, tampouco por Washington.
A tese de uma nova geopolítica mundial do fim do unilateralismo, decursiva da crise, é contestada, entretanto, por José Luis Fiori, para quem trata-se de um mito a propalada ideia do fim do poder americano. Para Fiori, “as guerras e a crise econômica mundial que estão em pleno curso não são um sintoma do fim do poder americano”. Pelo contrário, diz ele, “fazem parte de uma transformação de longo prazo, que está aumentando a pressão competitiva dentro do sistema mundial, e está provocando uma nova corrida imperialista entre as grandes potências, com a participação decisiva dos EUA, da China e da própria Rússia, que retorna ao sistema depois de uma década de derrota, crise e reestruturação”. Ele ainda acrescenta que a longa “adolescência assistida” da América do Sul acabou. E que “o mais provável é que esta mudança provoque, no médio prazo, uma competição cada vez mais intensa entre o Brasil e os Estados Unidos, pela supremacia na América do Sul”.
Fonte: (*) Pesquisador do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores e doutorando de Ciências Sociais na UFPR. (http://www.radioagencianp.com.br/)
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