sexta-feira, 26 de março de 2010

Casal Nardoni é condenado pela morte de Isabella

Após quase dois anos do crime e cinco dias de julgamento, o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá Nardoni foi condenado pela morte de Isabella Nardoni, após a queda do sexto andar do edifício London, na zona norte de São Paulo, em 29 de março de 2008. Ouça abaixo a sentença dada pelo juiz.

Condenados por homicídio triplamente qualificado e por terem cometido o crime de forma cruel, com recusso que impediu a defesa da vítima e contra menor de 14 anos, Alexandre Nardoni foi condenado a 31 anos e 1 mês e 10 dias de prisão e Anna Carolina Jatobá a 26 anos e 8 meses. Eles ainda foram condenados a 8 meses de detenção em regime semiaberto por fraude processual.

Fora do fórum, a condenação foi comemorada com fogos de artifício pelos polulares. O casal começa a cumprir a pena em regime fechado, no presídio de Tremembé.

O julgamento começou na segunda-feira, às 14h17, com a escolha dos jurados e o depoimento de 2h30 da mãe de Isabella, Ana Carolina de Oliveira. Após o interrogatório, o juiz determinou que ela ficasse incomunicável.

No segundo dia, duas testemunhas arroladas tanto pela defesa como pela acusação e uma testemunha-surpresa prestaram depoimento. A defesa do casal Nardoni tentou desqualificar as provas técnicas, mas as testemunhas relataram detalhes da investigação. A promotoria fez uso de uma maquete para mostrar o cenário do crime.

No terceiro dia, a situação em que se encontrava Ana Carolina de Oliveira era delicada. O advogado dos Nardoni foi vaiado e agredido, e uma perita afirmou ao júri que o sangue encontrado no apartamento dos Nardoni era de Isabella.

No quarto dia, o casal Nardoni deu a versão deles para a morte de Isabella Nardoni. Os dois choraram, negaram as acusações contra eles, criticaram o trabalho e comportamento da equipe policial que investigou o caso e chegaram a sensibilizar alguns jurados.


Por: Tayse Falcão

quinta-feira, 25 de março de 2010

ASSESSORIAS & “ASSESSORIAS” - Sobre embusteiros e picaretas

Gostaria de retomar um assunto que já abordei anteriormente neste Observatório, a saber, o papel de assessorias de imprensa na imprensa propriamente dita (ver "A praga das assessorias" e "Quando a fonte abre o jogo").

Não sou jornalista, mas já fui, nunca tendo realizado nada de notável ou relevante nessa área. Há mais de dez anos sou fonte da imprensa, por força da posição que ocupo. Sou também consumidor de veículos de informação.

Somando umas e outras coisas, fiz algumas observações ao longo da vida, que ofereço ao eventual leitor. Preliminarmente, convém definir os termos.

Jornalista é o sujeito que trabalha na imprensa e cumpre a tarefa de levantar informações para transmissão ao público. Seu compromisso fundamental é com o leitor, o telespectador, o ouvinte, o internauta.

Já assessor de imprensa é o sujeito que trabalha para uma empresa ou pessoa ou órgão público para "plantar" na imprensa noticiário simpático a quem lhe paga os serviços prestados. Seu compromisso é com o cliente. Não há nada de particularmente errado nisso, é claro.

O que importa é que assessores de imprensa não são a mesma coisa que jornalistas. Não é difícil compreender a diferença. Basta perguntar cui bono?, ou seja, "a quem interessa?".

A partir dessa pergunta elementar é fácil ver que assessoria de imprensa nada tem a ver com jornalismo. É mais fácil ainda perceber a diferença quando se designam assessores de imprensa pelo papel real que exercem, a saber, o de relações públicas.

Conheço uma porção de jornalistas, seja por ter sido colega deles em redações, seja por relacionar-me com eles enquanto fonte. Nunca conheci algum jornalista que fingisse ser relações públicas.

Já a recíproca acontece bastante. Há uma porção de relações públicas por aí que finge ser jornalista. São, nisso, estimulados por boa parte das empresas jornalísticas, em particular da imprensa escrita.


Ninguém é responsável


Um dos mistérios que envolve o comportamento dos órgãos de imprensa brasileiros é a tolerância em relação a informações provenientes de relações públicas. Vira e mexe, jornais e revistas tascam lá: "Conforme a assessoria de imprensa do órgão tal, etc.".

Ora, os relações públicas não podem ser fonte. Não são responsáveis por coisa nenhuma. Meramente transmitem aquilo que alguém com real responsabilidade lhes passou. Não poderiam jamais ser referidos como fontes de informação.

Na maior parte dos casos, esses assessores não são identificados pelo nome. Os jornais mencionam-nos genericamente, talvez envergonhadamente. Pelo menos isso. Há, contudo, exceções. Vide, por exemplo, o deputado Paulo Maluf. Este nunca diz nada a respeito de contas no exterior, de ter seu nome na lista de procurados da Interpol e assim por diante. Quem diz, e inauditamente é publicado com identificação, é seu assessor de imprensa. Cui bono?

A questão de se atribuir informação a assessorias não é secundária, pois incide sobre a responsabilização atribuída pela imprensa à informação que veicula. Ao aceitarem que informações sejam originadas não de pessoas com responsabilidade real, mas de indivíduos que funcionam como leva-e-traz de empresas, políticos e órgãos públicos, os veículos fornecem pretexto para que essas empresas, políticos e órgãos se desvencilhem de responsabilidades quando isso lhes convém.

Assim, se um jornal publica uma informação proveniente de um relações públicas e que mais tarde se revele errônea ou parcial, de quem é a responsabilidade? Não é da origem efetiva, de alguém que faça alguma coisa na empresa ou repartição, pois essa pessoa, embora tenha de fato originado a informação falsa, permaneceu oculta.

A responsabilidade seria então do relações públicas? Também não, porque esses de fato não pensam nada, não geram nada, só intermedeiam, sendo por isso inimputáveis.

Resultado: na prática, como quem aparece é inimputável e como quem seria imputável não aparece, ninguém é de fato responsável. É isso o que acontece toda vez que aparece no jornal a frase "segundo a assessoria de imprensa de não sei quê, tal coisa".


Os mais deletérios


Entre os relações públicas existe uma subcategoria que engloba os indivíduos que fingem não sê-lo. Esses são particularmente deletérios. Esse tipo de sujeito pode estar em redações, recebendo propina de empresas para contrabandear noticiário que lhes seja favorável. O risco de isso acontecer é alto, e qualquer empresa jornalística minimamente organizada vigia os sinais o tempo todo.

Outros montam suas próprias empresas de relações públicas e as disfarçam como órgãos de imprensa. Esses são os piores, não porque a sua venalidade seja maior do que a de outros picaretas, mas porque têm mais recursos para praticar o seu embuste.

Diferentemente dos assessores de imprensa, que exercem a sua atividade honestamente (a maioria, quero crer), esses outros sujeitos trabalham no esgoto. Alguns vivem de achacar políticos e empresários. Aproximam-se do camarada e mordem: "Se não me pagar, publicarei sua foto saindo do motel com a secretária".

Outros existem para fazer o trabalho sujo de seus clientes. Funciona da seguinte maneira: digamos que um ministro, presidente de estatal, governador ou prefeito queira atingir alguém. Fará isso pessoalmente? Jamais. Mobilizará os relações públicas que emprega oficialmente na folha do governo ou da repartição? Também não, pois isso deixaria pegadas inconvenientes.

O que esse pessoal faz é pagar um desses pseudojornalistas desclassificados, via laranjas ou empresas "amigas", para que estes assinem com seus próprios nomes aquilo que o cliente quiser. Assim é que desinformação é veiculada como se fosse informação.

O único contrapeso para os efeitos corrosivos da atividade desses indivíduos é a existência de outros veículos, que cubram os mesmos assuntos com isenção. A comparação dos leitores deveria, ao menos em tese, permitir identificar quem é quem.

O diabo é que isso mal acontece quando se trata de assuntos recônditos; como, por exemplo, a cobertura da Justiça brasileira, ou dos bastidores do mundo financeiro, ou dos subterrâneos do futebol, ou da criação de peixes da espécie Myxocyprinus asiaticus.


Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br / Por Claudio Weber Abramo em 25/3/2010

terça-feira, 23 de março de 2010

Pernambuco recebe curso de formação em Ayurveda

Diversos profissionais trabalham com terapias alternativas em Pernambuco, mas só agora o Estado vai receber um curso de formação para quem deseja se aprofundar nessa técnica. O Curso Básico de Formação em Ayurveda iniciará no dia 9 de abril e terá duração de 240 horas, no Libertas.

O Ayurveda é uma técnica milenar indiana que estuda as influências dos elementos da natureza nas pessoas. Com isso, é possível revigorar e fortalecer o indivíduo com o intuito de melhorar a qualidade de vida mental e fisicamente. O curso de formação, creditado pela Associação Brasileira de Ayurveda (ABRA), terá 10 meses de duração.

O público-alvo são médicos, biólogos, fisioterapeutas, pessoas ligadas à cultura hindu, alunos e professores de yoga, profissionais de saúde em geral e terapeutas ou qualquer pessoa que queira trabalhar na área. Nas aulas serão apresentadas técnicas de massoterapia, alimentação, diagnóstico, psicologia e fitoterapia.

O curso terá formato extensivo com duração de 240 horas, sendo 160 horas de aulas teóricas e práticas + 80 horas de estudo dirigido. Ao todo, serão dez módulos, sendo cada módulo ministrado num fim de semana por mês. As inscrições já estão abertas. Para maiores informações, acesse www.libertas.com.br ou telefone para 081.3268.3311, 081.9606.6128 e 081.9269.9432.


Fonte: www.jconline.com.br / Publicado em 23.03.2010.
Do JC Online

quinta-feira, 18 de março de 2010

O olhar vesgo da imprensa

Atenta, como sempre, às oportunidades do jornalismo como espetáculo, a imprensa brasileira dá grande destaque, nas edições de quinta-feira (18/3), à manifestação ocorrida no Rio de Janeiro em protesto contra a emenda do deputado Ibsen Pinheiro, que tenta alterar o sistema de partilha dos recursos da exploração do petróleo.

Os jornais estão prenhes de imagens e declarações, quase unanimemente repercutindo as queixas dos estados em cujas áreas territoriais é feita a extração, mas nenhum deles vai ao que interessa na questão dos royalties.

A análise mais interessante não cativou os editores e nem brotou de uma pergunta inteligente de um repórter. Ela foi dada espontaneamente pelo empresário Oded Grajew, um dos criadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social Empresarial e o principal articulador do movimento Nossa São Paulo.


Baixo IDH


Grajew declarou, inicialmente à rádio CBN, que os debates em torno da riqueza potencial das novas reservas de petróleo estão deslocados do seu eixo mais importante. Discute-se para onde deve ir o dinheiro, quanto cabe a cada estado e a cada município detentor dos direitos segundo a lei; se o dinheiro deve privilegiar ou compensar essas unidades da Federação ou se deve ser repartido igualmente para todos os Estados.

Na opinião de Oded Grajew, que sequer foi suspeitada pelos jornais, a questão principal é: o que fazer com a dinheirama.

O empresário lembra que, até agora, os royalties pago aos municípios que são sede de atividades petrolíferas não serviram a suas populações. Ele observa que os municípios fluminenses de Campos dos Goytacazes e Macaé, duas das principais entradas do petróleo da bacia de Campos, não registraram melhoras significativas nas condições de vida de suas populações desde que o petróleo começou a jorrar.

Segundo dados da ONU, Macaé se encontra na posição 815 no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal no Brasil. Campos dos Goytacazes é o município número 1.818 na lista do IDH-M, com altos índices de analfabetismo e uma renda per capita equivalente à de Nova Iguaçu e inferior à de Nilópolis.

Os jornais passam ao largo dessa questão. Por quê?


Benefícios de longo prazo


A maioria dos principais meios da imprensa brasileira ainda separa a economia do bem-estar social. Orçamentos, faturamentos, receita tributária, Produto Interno Bruto e outros dados sobre a riqueza nacional raramente são cotizados com o que podem ou devem produzir de bem-estar para a população.

No caso dos royalties do petróleo, a observação de Oded Grajew apanha a imprensa de olhos tapados. Por que antes que ele fizesse essa observação nenhum jornal havia proporcionado a seus leitores esse questionamento, que deveria ser a essência de todo o noticiário sobre os recursos financeiros disponíveis? A quem devem beneficiar?

No caso do Rio, centro principal dos protestos dos estados e municípios produtores de petróleo, que se sentem lesados pela emenda do deputado Ibsen Pinheiro, o principal argumento que se apresenta é o da suposta dificuldade que tal emenda, se vier a ser aprovada pelo Senado e aceita pelo Executivo, poderá provocar para o financiamento da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Muito provavelmente os queixosos têm razão, a se considerar o que diz a Constituição.

A pergunta que nenhum jornalista fez, e que foi respondida assim mesmo pelo empresário Oded Grajew, é: que benefícios de longo prazo as populações desses e de outros estados podem esperar da anunciada riqueza que deve jorrar das reservas do pré-sal?


Reproduzindo o chororô


Os principais jornais do país, aqueles que têm influência nacional, não se tocaram que essa é a questão mais importante porque não possuem, em seu DNA e em sua cultura interna, a sensibilidade para os temas relacionados à questão do desenvolvimento sustentável.

Costumam investir tempo e dinheiro na remodelação gráfica, como fez o Estado de S.Paulo na semana que passou, fazem esforços de cobertura dos grandes eventos, mas não tratam de introduzir em seu sistema de convicções os paradigmas da sustentabilidade.

Aceitar o chororô de governadores e prefeitos que alegam o risco da falência – sem perguntar o que o dinheiro do petróleo tem feito pelo bem-estar de suas populações – é o mesmo que reproduzir os press-releases, os comunicados oficiais dos governantes.

Para isso nem é preciso ser jornalista.


www.observatoriodaimprensa.com.br / Por Luciano Martins Costa em 18/3/2010 Comentário para o programa radiofônico do OI, 18/3/2010

sexta-feira, 12 de março de 2010

Não estamos lá

Basicamente, aquele filme sobre a vida do Bob Dylan é assim: alguns atores interpretam fases marcantes da vida do cantor. Parece que cada um construiu um Dylan imaginário. Segundo o que li, o roteiro é extremamente "surreal e criativo", os atores estão muito bem e conseguiram transpor para a tela o caleidoscópico talento de Dylan. Bob Dylan é um cara genial. Eu gosto bastante dele! Pessoas como ele – que atingiram esse status artístico – parecem dar aos outros o direito de interpretá-las (como se fossem obras de arte na paisagem do mundo, e talvez seja isso mesmo, oras!).

Mas para que tudo isso, se eu gostaria na verdade de falar sobre o dia das mulheres? Isso sem resvalar para aquelas histórias sobre beleza e maternidade e maternidade e beleza, tão comuns nesse dia. Com o pensamento do avesso, eu fui então, folhear três revistas femininas. Fui ver como elas nos veem. A mim, minhas irmãs, amigas, às mulheres com as quais convivo; mulheres como eu e diferentes de mim, mas mulheres, enfim.


Amor e sexo


E foi assim: na Claudia eu vi mulheres quarentonas com roupas juvenis – é preciso deter o tempo! – mulheres maduras (por exemplo, a talentosa atriz Lilia Cabral está na capa desse mês) com ares sensatos e equilibrados, mulheres de menos de trinta, com deslumbrantes e coloridas roupas; vi consultorias sentimentais, emocionais, fashions, dietéticas; vi casas fantásticas e sugestões para que a querida leitora possa se inspirar e decorar a sua etc. Nada mais bonitinho. A Claudia é uma revista bonita e as mulheres lá são tão lindas, mas tão lindas, que tanta perfeição assusta. Mete medo! Penso que a mulher de Claudia, ainda que descabelada por dores, traições, filhos drogados ou empregos horríveis, será sempre bela e estará sempre de salto alto. É uma mulher de sonhos comportados, aquela de Claudia. Na Claudia, a seção "Amor e Sexo" parece definir o óbvio: sexo para as mulheres apaziguadas de Claudia, só com amor. E, caso haja arroubos, devem ser comedidos.

Já a Marie Claire consegue desarrumar um pouco o cabelo de suas mulheres; elas parecem, sei lá, mais reais. Nela, a Sandra Bullock, na capa deste mês, sorri e seus cabelos parecem levemente bagunçados, ao natural. É como se ela tivesse sido clicada em uma tarde preguiçosa. Sem saltos altos ou reuniões chatas logo de manhã. Mas isso não significa que a MC seja "melhor" que a Claudia.

Apesar de estilosas, modernas e vibrantes (e também coloridas), as mulheres da Marie Claire ainda não se parecem com as que eu conheço, digo, com aquelas que eu vejo por aí, nas ruas (bom, talvez aquelas mulheres andem apenas nos Jardins ou no Leblon; lugares que não frequento, embora tenha uma leve impressão de que nem lá elas andem). Onde estão as mulheres mulheres? Ah, sim, na MC a seção "sexo" é separada de "amor": talvez isso signifique algo. Agora uma coisa eu preciso dizer: as matérias sobre viagens e algumas sobre lugares ou pessoas interessantes, na Marie Claire parecem mesmo mais interessantes.


O direito de ser o que somos


E a Nova, hein? Tão ousada e sensual. Aquelas atrizes da Globo ficam irreconhecíveis lá, com aqueles decotões, aquelas cabeleireiras selvagens, aqueles ares de mulheres sempre dispostas àquilo a qualquer hora. Lá não se esconde o jogo. Mulheres se arrumam, se maquiam, estudam e trabalham, viajam e fazem compras, mas o mais importante, a razão de suas vidas, a verdade absoluta que deve guiá-las é: sou bonita, gostosa e hei de sair com muitos homens! E ponto.

Pois é, e assim, entre estereótipos imaginários ou fabricados por talentosos designers – o trabalho deles é muito bom, deve ser parabenizado e isso não é uma ironia – muitas caras e corpos de mulheres ficaram pairando em um imenso oceano de imagens. E no horizonte desse mar, há toda uma indústria de moda e beleza que deixa as mulheres de Claudia, Marie Claire e Nova realmente deslumbrantes. Inatingíveis.

E no horizonte que se formou ainda há a mídia que se alimenta – reproduzindo e digerindo – disso tudo e ainda há as mulheres, leitoras do lado de cá, como eu, que talvez tentem se achar nesses mares de belezas fake e nunca, nunca, se encontram. Afinal, nós – eu e talvez você – não estamos lá. Aquilo são ideais de mulheres dispostas em quadros, emolduradas por tudo o que o mundo de agora (porque amanhã, tudo muda, este mar midiático é revolto!) considera cool.

E, diante disso, me pergunto: será que um dia seremos amadas pelo que somos de verdade, realmente, com a maquiagem borrada porque não conseguimos segurar o choro quando fomos despedidas, com os quilos a mais aparecendo sob a roupa barata, comprada em liquidação, será que temos o direito de ser o que somos para além do que qualquer revista anuncie como sendo in?


Uma "mulher de verdade"


Será que um dia, estaremos lá, de fato, de verdade, nas revistas que só nos querem se formos a imagem pré-fabricada – mitificada e vazia (há raras exceções) – da perfeição photoshopada? Somos caleidoscópicas, interessantes, criativas, doces e amargas, mas só nos querem se cabemos em um manequim 38 (as anoréxicas modelos que o digam) e uma Marina Silva, por exemplo, uma admirável mulher "fora do padrão", que conseguiu sair numa revista feminina, para ter o direito de estar lá, teve que literalmente, mover montanhas.

Mas me resta o consolo de saber que talvez sejamos tão multifacetadas – todas nós, todas mesmo! Talvez sejamos obras de arte, ora e porque não?! – que nenhuma revista – o que são folhas com imagens impressas diante de uma mulher de verdade? – foi ou será capaz de apreender tantos matizes.

Elas bem que tentam... Pobrezinhas.


Por: Ana Vargas em 9/3/2010 / www.observatoriodaimprensa.com.br

quinta-feira, 4 de março de 2010

As drogas e a política

Os jornais deram pouca importância ao estudo feito por médicos da Universidade Maastricht, da Holanda, sobre os efeitos da maconha nos jovens, divulgado nesta semana. O resultado da pesquisa, publicado originalmente no British Medical Journal, publicação científica do Reino Unido, deveria ilustrar os debates sobre a descriminalização da maconha, tema que mobiliza principalmente alguns líderes do Partido Verde e que ganhou nas últimas semanas a ponderável participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O estudo foi feito durante quatro anos, com o acompanhamento de 2.437 jovens com idades entre 14 e 24 anos, e levou em conta fatores sociais e econômicos e a associação da maconha com o uso de álcool e outras drogas.

A conclusão não deixa dúvida quanto à periculosidade da maconha: "O uso moderado da maconha aumenta o risco de desenvolver perturbações psicóticas", diz o relatório científico. A conclusão derruba a tese dos defensores da droga, segundo a qual pessoas com maior predisposição a psicoses são mais atraídas para o uso da maconha.

Informação escondida

Quase simultaneamente à publicação do estudo da universidade holandesa, também foi divulgado o resultado de pesquisas do Instituto Neurológico de Queensland, na Austrália, sobre os efeitos graduais da maconha proporcionalmente ao uso prolongado e à potência da erva fumada.

Com o acompanhamento de mais de 3.800 homens e mulheres nascidos entre 1981 e 1984, após os 21 anos de idade e durante quatro a seis anos, foi possível determinar que os danos aumentam quanto maior for o tempo de uso, e se multiplicam com a escolha de substâncias mais fortes. Quem fuma skunk, forma mais potente da cannabis, apresenta sete vezes mais o risco de desenvolver doenças psicóticas como a esquizofrenia, do que aquelas pessoas que fumam haxixe.

Os jornais deram bastante publicidade, recentemente, a declarações do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, em favor da liberação do uso da maconha. O ministro também participou, em maio do ano passado, de uma manifestação pela descriminalização da droga, e ganhou amplos espaços na imprensa.

Nesta semana, as informações científicas sobre os efeitos da maconha foram amplamente reproduzidas pela imprensa, mas ficaram escondidas, como meras curiosidades, nas páginas internas dos jornais.

Efeito cumulativo

Não são poucas as personalidades que têm vindo a público, recentemente, para defender a descriminalização de drogas. Destacou-se na imprensa, em fevereiro, a manifestação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na defesa da tese. Ele faz parte da Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia, composta por intelectuais e políticos como os ex-presidentes César Gaviria, da Colômbia, e Ernesto Zedillo, do México. Em comum, os três ex-governantes têm o fato de haverem fracassado em suas políticas de combate ao narcotráfico.

Um dos argumentos apresentados pelo ex-presidente Cardoso na ocasião foi a tese de que o dano causado pela maconha é similar aos do álcool e do tabaco. Os estudos divulgados nesta semana comprovam que a tese está errada. Todas as três substâncias causam danos à saúde, mas a maconha comprovadamente tem um efeito cumulativo como causa de doenças psicóticas não-afetivas. Com o fato agravante de que atinge os jovens em formação, comprometendo por longos períodos sua capacidade de discernimento.

Perfil ideológico

Ao embarcar num movimento que costuma produzir mais barulho do que reflexões, o ex-presidente que construiu grande reputação como sociólogo corre o risco de ver sua biografia alterada.

Como a imprensa não demonstra interesse ou capacidade para discutir as sutilezas da questão das drogas, ele pode acabar sendo mais citado por uma teoria da dependência química do que por sua célebre teoria da dependência econômica.

Já o Partido Verde, que costuma puxar as alegres manifestações em favor das drogas, principalmente na orla do Rio de Janeiro, e que sonha conduzir a ex-ministra Marina Silva à Presidência da República, pode ver reduzido seu perfil ideológico de protetor das florestas para defensor dos pacotes de erva prensada.



Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br / Por Luciano Martins Costa em 4/3/2010 Comentário para o programa radiofônico do OI, 4/3/2010

quarta-feira, 3 de março de 2010

A arte de chorar mais alto

Pelos grandes jornais – e pelos grandes telejornais também –, chegam até nós notícias sobre intolerância e autoritarismo em Cuba e na Venezuela. Com muita regularidade. Isso significa que a nossa imprensa não tem olhos para as violações dos direitos humanos cometidas em outras partes do mundo, ou perpetradas por governos que não se pretendam "socialistas"?

Não. Eu, pelo menos, acredito que não. Sei que essa minha impressão contraria muita gente, que não vê nada além de uma gigantesca máquina de propaganda neoliberal no conjunto dos meios de comunicação no Brasil. Pois eu, de minha parte, que tantas vezes apontei defeitos das comunicações no Brasil, defeitos que agora viraram chavões de muitos discursos engajados, sem abrir mão de uma vírgula do que já escrevi, tenho afirmado recentemente, e afirmo uma vez mais, que acredito no oposto.

Acredito que essa visão, ela sim, dos que só vêem propagandismo na imprensa, tem procurado desconstruir a percepção do valor da liberdade entre nós. Se fosse bem sucedida, essa visão teria efeitos muito mais nefastos que qualquer notícia incorreta ou deliberadamente distorcida.
Sobre isso, portanto, escrevo uma vez mais.


O pensamento perseguido em Cuba


Na semana passada, circulou entre nós com imenso destaque a notícia da morte de um prisioneiro político em Cuba, Orlando Zapata Tamayo, depois de 85 dias de greve de fome. O caso coincidiu com a visita do presidente brasileiro à ilha dos irmãos Fidel e Raúl, e por isso teve potencializada a sua repercussão. No mais, como tudo o que diga respeito à ilha, as notícias costumam ser desencontradas. Fontes diferentes afirmaram que o enterro de Zapata, que reuniu cerca de 100 pessoas, sofreu uma espécie de repressão preventiva da ditadura, que pretendia impedir que o funeral se convertesse em ato político. Em boa medida, o objetivo foi alcançado. Depois disso, outros cubanos entraram em greve de fome, alegando que não querem deixar que se apague a chama acesa por Zapata. Pedem a libertação de outros prisioneiros.

Organizações de direitos humanos não reconhecidas pelo regime falam que em Cuba existem duas centenas de "presos de consciência", ou seja, gente que está enjaulada porque pensa diferente.

Sobre assuntos assim, os maiores diários e telejornais brasileiros informam e discutem minimamente. Há quem atribua essas pautas a uma oposição ideológica contumaz que os proprietários dos meios de comunicação no Brasil moveriam contra o "socialismo" de Chávez e dos irmãos Castro. Para os defensores de Chávez e dos Castro, a imprensa brasileira daria destaque às distorções e aos excessos de autoritarismo porque estaria empenhada em fazer propaganda contra o "socialismo", apenas isso. Pelo mesmo motivo, ela não reportaria, jamais, o que chamam de "avanços" na área da saúde, da educação, do saneamento básico.

Esses setores parecem postular que o suposto atendimento de necessidades básicas – um prato de comida, um teto, um leito hospitalar – substituiria a necessidade de liberdade. Parecem acreditar que um ambiente político que impõe a censura, mais ou menos explícita, é um problema menor. E, para dar sustentação a seus argumentos, denunciam os crimes contra os direitos humanos cometidos por governos "do outro lado", como os Estados Unidos e Israel. Fazem essas denúncias como se a tal "grande imprensa" simplesmente silenciasse sobre as atrocidades praticadas por autoridades "do lado capitalista".

Muitos ainda acreditam que a "grande imprensa" só publica reportagens desfavoráveis aos ditadores "socialistas" – e favoráveis aos governantes pró-mercado. Por isso, desqualificam em regra todo discurso jornalístico baseado na idéia de objetividade, de independência e de crítica. Esse equívoco polui a visão que temos da nossa própria imprensa.

Bem sei que sempre que digo isso atraio pedradas e desaforos, mas o fato é que nossa imprensa é bem melhor do que esse tipo de mentalidade tenta dizer que é.


Os cybercoronéis mandam e desmandam no Brasil


Sem dúvida, há selvageria para todos os gostos nas páginas dos maiores jornais e revistas do país. Do mesmo modo, há brutalidades simbólicas – e às vezes brutalidades de fato – nos principais telejornais, no radiojornalismo e também em sites de grandes veículos na internet. Em alguns estados brasileiros, a imprensa é pouca coisa além do diário de um oligarca obscurantista, patrimonialista praticante, que também é dono de uma TV afiliada a uma rede nacional. Com esse equipamento nas mãos, os coronéis de última geração – os cybercoronéis, que aliam as formas de dominação das capitanias hereditárias às especulações financeiras e ao Bluetooth – promovem calúnias as mais diversas, impedem a diversidade no debate público, fazem propaganda (ou contrapropaganda) eleitoral o ano inteiro e desinformam o público.

Tudo isso é verdadeiro, mas dizer isso – que, aliás, já está dito, por mim mesmo, há muito tempo – é dizer muito pouco. Dizer isso e nada além disso pode nos fechar os olhos para os coronéis partidários, uma nova conformação de coronelismo de extração sindical, por assim dizer, que é igualmente nociva ao jornalismo. Alguns acreditam até mesmo que, por padecer de seus defeitos ancestrais, toda a imprensa brasileira deveria ser varrida para o lixo, pois nada do que ela publica tem validade. Pior ainda, acreditam que os neocoronéis que supostamente têm "consciência de classe" poderiam ser mais "progressistas" que os primeiros.

Não é assim. A despeito de todas as tragédias que decorrem das precariedades do jornalismo pátrio, tanto do lado dos coronéis à antiga, remodelados pelas novas tecnologias, como dos neocoronéis à esquerda, turbinados pelo dinheiro, há pluralidade no espaço público. O que tem nos faltado, paradoxalmente, é capacidade de enxergar que a pluralidade existe, apesar de tão graves limitações. Falta-nos perceber que o desafio posto para a democracia brasileira é o de aprofundar a liberdade de imprensa – não o de restringi-la. A liberdade de imprensa inclui a má qualidade, infelizmente, mas só um ambiente de mais liberdade é capaz de abrir horizontes para o aprimoramento da imprensa. Se nos permitíssemos um olhar menos apressado, menos partidário, e mais amplo ao próprio fenômeno da imprensa, chegaríamos a essa conclusão. Mas, lamentavelmente, estamos soterrados pelas agendas partidárias.

Por mais que alguns se esforcem em demonstrar o contrário, a imprensa brasileira não é monolítica. Por mais que tenha suas tendências de propaganda ideológica, às vezes obstinada, ela não é imune às contradições da realidade, que ela reflete, de um modo ou de outro. Por mais que nela existam vícios, nenhuma virtude viria de seu confinamento. Quanto mais livre, mais crítica ela será. E, por incrível que pareça, mais controlável ela será – controlável, eu quero dizer, pelo cidadão, pela sociedade, não pelo Estado.


Israel agora difama jornalistas


Eu pensava nisso enquanto assistia ao Jornal Nacional na sexta-feira (26/2). Tinha lá uma nota sobre a cara que Hugo Chávez fez quando faltou luz durante um pronunciamento oficial. A energia anda escassa na Venezuela, até mesmo para o chefe. Um pouquinho antes, entrou uma breve informação sobre o clima de perseguição a jornalistas que vai ganhando corpo não na Venezuela, mas em Israel.


Transcrevo a nota a seguir:


"Campanha do governo de Israel irrita imprensa.

"Uma campanha lançada pelo governo de Israel gerou protestos dos jornalistas estrangeiros que trabalham no país.

"O governo quer que os israelenses que viajem para o exterior expliquem o que chamou de `a realidade do país´. A campanha usa vídeos com atores para ilustrar supostos erros cometidos pelos correspondentes.

"Em um deles, um camelo é retratado como o principal meio de transporte em Israel. Em outro, uma apresentadora de TV fala sobre ruídos de uma guerra, enquanto são mostradas imagens de uma comemoração com fogos de artifício.

"A associação de imprensa estrangeira de Israel classificou os vídeos como ofensivos."

Se essas poucas linhas, lidas pelo apresentador, sem imagens, tivessem como objeto não o governo de Israel, mas o de Caracas, provavelmente os defensores do chavismo se apressariam em desqualificá-las como mais um capítulo da odiosa propaganda ideológica etc. Mas ela denunciou o governo de Israel, que agrediu a liberdade de imprensa. Isso significa que o JN entrou em pregação contra Israel? Ou significa apenas que está noticiando um fato relevante?

Sou pela segunda alternativa, mas, para isso, boa parte dos comentadores da imprensa no Brasil não costuma prestar atenção. Muitos deles falam de um espaço público que não examinam direito. Com seu olhar engajado – e engajado por antecipação – não nos ajudam a entender o que se passa e, em vez disso, tentam nos convencer a todo custo de que essa "mídia patronal" mereceria menos, não mais liberdade. Não sabem que quando a "mídia patronal" tiver menos liberdade, todas as outras, supostamente não-patronais, terão menos liberdade ainda.

Mas deixemos isso de lado.


Um caso dos anos 1950, para não esquecer


Em 1990, eu era editor da revista Teoria & Debate, então vinculada ao diretório estadual paulista do Partido dos Trabalhadores. Lembro-me de que publicamos, no número 11, uma entrevista que Jacob Gorender concedeu a Alípio Freire e Paulo de Tarso Venceslau. Foram sete horas de conversa gravada, que os dois entrevistadores sintetizaram em algumas páginas de revista.

Jacob Gorender contou uma história bastante esclarecedora. Na década de 1950, ele estava na União Soviética, estudando. Acompanhou de perto os debates em torno dos crimes de Stalin, durante os preparativos do XX Congresso do Partido Comunista, em 1956.

Ele conta:


"Durante o curso [que ele fazia em Moscou], realizou-se o XX Congresso do PC da União Soviética. O [Diógenes de] Arruda foi ao congresso como representante brasileiro, e a ele se juntaram [Maurício] Grabois e Jover Telles, participantes do curso em Moscou. Para nossa surpresa, o jornal Pravda começou a publicar artigos e discursos de vários dirigentes com críticas a Stalin. Depois, veio o famoso informe confidencial de Kruchev. Não o lemos porque não nos foi distribuído. Só circulava dentro do âmbito do próprio PCUS. Mas nós ouvimos conferências de professores que nos transmitiram seu conteúdo. O informe fez a primeira revelação oficial de parte dos crimes de Stalin. Esse congresso vai abalar o PCB. Em maio de 1956, o informe foi publicado na íntegra pelo New York Times e pelos grandes jornais do mundo inteiro. Aqui no Brasil ele foi, a princípio, declarado falso pelos comunistas. Porém, Arruda, ao regressar da viagem, confirmou a autenticidade do documento." (T&D, nº 11, agosto de 1990, p. 28-29)

Gorender nos contou suas memórias com naturalidade. Ele lembrou que os militantes do PCB, na época, liam no Estado de S.Paulo as dimensões tenebrosas da tirania stalinista, suas carnificinas, seus desmandos, e atribuíam tudo à propaganda anticomunista. Semanas se passaram até que próprios representantes do PCB ao congresso do PCUS pudessem retornar de Moscou e confirmar o noticiário. O que a imprensa burguesa dizia era estritamente a verdade. Diante disso, correndo, os próprios dirigentes brasileiros, stalinistas até o dia anterior, se repaginaram em anti-stalinistas e se mantiveram em seus postos por muitos anos mais. Mudaram para permanecer.

Mas, curiosamente, o que os stalinistas diziam sobre a imprensa burguesa, as críticas que faziam, fáceis e virulentas, mesmo quando falsas, essas ficaram. Estão aí, até hoje, com as adaptações de praxe. Quando não podem negar a verdade dos fatos, essas críticas se insurgem contra a liberdade do mensageiro. Agora, como antes. Antes, como agora.


A quem serve esse tipo de histeria?


Especializados em chorar mais do que os outros, em fazer barulho a ponto de ensurdecer os demais, os denunciadores profissionais da mídia burguesa (ou patronal, ou imperialista, o que quer que seja) desenham uma paisagem forjada, irreal. Movidos por uma agressividade irracional contra os que deles discordam, numa postura que encontra paralelos entre as piores intolerâncias da direita, só vêem o que convém – e, quando convém, forçam o que veem. Não parecem ter compromisso com a função de informar a sociedade, mas com forças políticas exteriores à imprensa. Não prezam o arejamento, mas as diretrizes rígidas. Não enxergam as contradições, mas a verdade oficial. Choram quando contrariados – e, com sua birra estridente, iludem suas platéias, que ainda veem a liberdade de imprensa como um mal a ser contido.



Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br / Por Eugênio Bucci em 3/3/2010

Bispo quer a carteirinha de jornalista

O bispo-empresário Edir Macedo insiste em ser jornalista. É dono de uma poderosa rede de TV, tem concessões para dezenas de emissoras de rádio, pode dizer o que quer, enganar, subtrair, distorcer, criar fatos e factóides. Mas não está satisfeito. Quer uma carteirinha de jornalista. Para atender suas angústias existenciais ou ganhar convite para as estréias de filmes.

Apelou para a justiça em 2001, conseguiu ser admitido como jornalista-colaborador e em agosto de 2009, depois de o Supremo Tribunal Federal acabar com a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo, entrou com uma ação no Tribunal Regional Federal da 2ª Região. O desembargador Fernando Marques o atendeu.

Errou o meritíssimo, data vênia: a entidade à qual Edir Macedo pretende associar-se (o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro) é composta exclusivamente por trabalhadores. Na condição de patrão, empregador – e aqui não vai nenhum juízo de valor –, Macedo não pode pretender a defesa dos interesses dos empregados. É incompatível.


Sindicato é, segundo o dicionário Houaiss, uma...


"...associação, para fins de estudo, defesa e coordenação de seus interesses econômicos e/ou profissionais, de todos os que (na qualidade de empregados, empregadores, agentes ou trabalhadores autônomos ou profissionais liberais) exerçam a mesma atividade ou atividades similares ou conexas."

Edir Macedo tem todo o direito de associar-se a um sindicato de empresas ou empresários. São seus iguais, conexos. Suas atividades e funções na Rede Record (ou em qualquer outro veículo do seu grupo) não são similares às dos demais funcionários. A começar pelo poder de admitir ou demitir que o colocam em posição desconexa frente aos demais companheiros.


Especificidade liquidada


Absorvido pelas novidades aportadas pela decisão do STF no tocante ao diploma, o magistrado passou ao largo dos condicionantes ontológicos e morfológicos de uma entidade sindical. A guilde francesa, guild inglesa ou gilde alemã eram corporações de artesões formadas na Idade Média, organicamente coesas e obrigatoriamente uniformes.


Segundo o mesmo Houaiss, corporação é um...


"...conjunto de pessoas que apresentam alguma afinidade profissional, de idéias etc., organizadas em uma associação e sujeitas ao mesmo estatuto ou regulamento... Organismo social que reúne os membros de uma mesma profissão".

A um comerciante de vinhos jamais ocorreria associar-se a uma corporação de vinhateiros. Um vende, o outro produz, ambos lidam com vinhos mas em diferentes posições do processo, com interesses divergentes.

Mesmo que Edir Macedo seja capaz de redigir corretamente um texto de 10 linhas como as centenas de jornalistas aos quais paga salários, o simples fato de ser o detentor de um meio de produção (e representar o capital), coloca-o em posição diametralmente oposta à daqueles que representam o trabalho. Não são categorias melhores ou piores – são diferentes, radicalmente diferentes.

Ao justificar a extinção da exigência do diploma, o ministro Gilmar Mendes do STF tentou ir além e liquidou a especificidade de uma profissão com registros históricos que remontam ao Império Romano. Agora, o egrégio Tribunal Regional Federal da 2ª Região avança na dissolução de um sindicato e anula sua definição e função social.

Estamos no bom caminho...

Fonte: www.observatoriodamprensa.com.br

segunda-feira, 1 de março de 2010

Tremor de 2.4 graus atinge Caruaru na noite desse sábado

Tremor de 2.4 graus atinge Caruaru na noite desse sábado

O tremor que atingiu o agreste de Pernambuco no final da noite do último sábado não tem relação com o terremoto de 8,8 graus na escala Richter que atingiu o Chile menos de 24 horas antes. A afirmação é do coordenador do Departamento de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Joaquim Ferreira. De acordo com informações da UFRN, o tremor atingiu 2 4 graus, e seu epicentro foi localizado em uma área rural entre os municípios de Caruaru e São Caetano, a cerca de 150 quilômetros da capital, Recife.

Mesmo tendo sido sentido por moradores das duas cidades - que relatam a observação de movimentos de móveis e lustres, além de sensações de náuseas e tonturas - o sismo não provocou nenhum dano material e não causou vítimas. A Defesa Civil de Caruaru e o Corpo de Bombeiros da cidade receberam ligações de moradores, mas diante da ausência de sinais de maior gravidade não chegaram sequer a acionar a Coordenadoria de Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe). "Estamos acompanhando os relatos com atenção. Mas tudo está sob controle e por isso os órgãos municipais não nos acionaram", destacou o coordenador executivo do órgão, o tenente-coronel Ivan Ramos.

Segundo especialistas da UFRN, este tipo de fenômeno é comum na região, que fica localizada em uma falha geológica de 254 km de extensão, que vai do Recife até a cidade de Arcoverde, no sertão do estado. O último registro de tremor havia sido feito no dia 25 de novembro do ano passado. Na ocasião, o sismo atingiu 2,1 graus e também não causou maiores transtornos. A maioria dos tremores, segundo os técnicos, ocorre em uma profundidade que vai de quatro a seis quilômetros.

O maior abalo sísmico já registrado na área aconteceu em Caruaru em 20 de maio de 2006, e atingiu 4 graus. Três estações sismológicas são monitoradas pela UFRN na região, em Caruaru, Sanharó e Gravatá. De acordo com o coordenador da Defesa Civil de Caruaru, Evandro Barreto, o clima na região é de tranquilidade. "É claro que na hora em que o tremor acontece, as pessoas ficam preocupadas. Mas como não há efeitos mais graves, sem feridos ou desabamentos não há maiores problemas", destacou.

O farmacêutico Hugo Abreu, de 38 anos, estava chegando em casa, por volta das 22h30, quando sentiu os efeitos do tremor. "Foi leve. O portão que eu tinha acabado de abrir fechou-se. Fiquei tonto, como se estivesse andando para trás. Mas só desconfiei que fosse um tremor quando olhei para as lâmpadas do jardim e elas estava balançando e não havia vento", afirmou o farmacêutico, que mora no bairro de Maurício de Nassau, na região central de Caruaru.

Fonte: Agência Estado