quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Caos nas ruas, confusão nos jornais

Comentários para o programa radiofônico do OI, 9/12/2009

Mais um dia de caos em São Paulo após as chuvas fortes é a manchete inevitável dos grandes jornais paulistas e destaque no Globo.

No Globo, manchete para o aumento de preços de materiais de construção no Rio, destaque para as enchentes em São Paulo e para a conferência do clima, que começa em Copenhague.

Nos jornais paulistas, nenhuma atenção à conferência de Copenhague na primeira página. Apenas uma referência, no pé de um texto na manchete do Estado de S.Paulo: "Para estudiosos, as chuvas persistentes podem já ser resultado das mudanças climáticas".

Poucas aulas de jornalismo poderiam ser mais esclarecedoras do que a observação das edições de quarta-feira (9/12) dos jornais para se chegar à constatação de que a imprensa ainda não integrou o aquecimento global como tema transversal ao noticiário.

Apesar das evidências de que o fenômeno afeta praticamente todos os aspectos da vida comum, os jornais ainda o tratam como assunto isolado, distante do noticiário econômico, dos acontecimentos que afetam a qualidade de vida da população e das escolhas de políticas públicas.


Poder do boato


Acobertura dos debates em Copenhague ficou totalmente comprometida pelas controvérsias, alimentadas pela imprensa, em torno de um documento atribuído ao governo da Dinamarca, e que foi considerado desfavorável aos países em desenvolvimento. O documento, publicado pelo jornal britânico Guardian, provocou uma sucessão de informações desencontradas em sites noticiosos de todo o mundo.

Nas edições de papel de quarta-feira (9), fica claro que se tratava de um balão de ensaio para uma suposta negativa dos países ricos a pedidos de financiamento por parte das nações em desenvolvimento para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

O texto, sem assinaturas, circulou como se fosse um documento oficial, o que aumentou a confusão. Propõe medidas para limitar o crescimento da temperatura média do planeta ao máximo de 2 ºC em relação aos níveis do período pré-industrial, reconhece que as nações industrializadas são responsáveis pela maior parte das emissões de gases do efeito estufa e admite que as medidas para mitigar seus malefícios não podem ser partilhadas igualmente com os países em desenvolvimento, cuja prioridade é erradicar a pobreza.

A controvérsia, que seguia sem esclarecimento, indica que a imprensa não tem uma estratégia clara para a cobertura da conferência.
Um simples boato é capaz de desmanchar todo o planejamento da edição. E os jornais ainda não enxergam a relação direta entre o tema de Copenhague e as enchentes quase diárias nas cidades brasileiras.


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A política do avestruz

Luiz Egypto

"Diante de uma grave emergência." Este é o título de um editorial publicado na segunda-feira (7/12), simultaneamente, por 56 jornais de 45 países a propósito da abertura da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, reunida em Copenhague (Dinamarca), com término previsto para 18 de dezembro.

A iniciativa dos jornais é mais uma evidência da gravidade do problema que assola o planeta, até agora incapaz de equacionar a contento a questão energética e a emissão descontrolada de gases de efeito estufa.

"Se não nos unirmos para empreender ações decisivas", afirma o editorial, "a mudança climática causará estragos em nosso planeta e, com ele, em nossa prosperidade e em nossa segurança." O tom compreensivelmente alarmista continua ao longo do texto: "Agora, os fatos começaram a falar por si próprios: 11 dos últimos 14 anos foram os mais quentes já registrados, a calota polar do Ártico está derretendo e a incrível alta dos preços do petróleo e dos alimentos, no ano passado, nos oferece a antecipação do caos que se avizinha". E por aí vai. O texto termina com um recado aos dirigentes mundiais: Os políticos presentes em Copenhague têm o poder de determinar como nos julgará a história: uma geração que viu um desafio e o enfrentou, ou uma geração tão estúpida que viu o desastre mas não fez nada para evitá-lo."

Dessa ação de caráter simbólico, mas não por isso pouco relevante, participaram apenas dois jornais brasileiros – Zero Hora e Diário Catarinense – ambos vinculados ao grupo RBS. Os três chamados jornalões de circulação nacional desconheceram olimpicamente a iniciativa. Será que esses grandes veículos – e seus congêneres eletrônicos – estão de fato fazendo a parte que lhes cabe nessa guerra que a Humanidade deverá travar por sua sobrevivência? Esta, aliás, é a pergunta da enquete desta semana na edição online do Observatório: "A mídia tem conseguido vincular as catástrofes ambientais no Brasil ao processo de mudanças climáticas?". Cartas para a Redação.


Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br

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