ELVIRA LOBATO da Folha de S.Paulo
A Confecom (Conferência Nacional de Comunicação), iniciada ontem, em Brasília, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pedirá mais transparência nas concessões de rádio e televisão, a proibição de políticos possuírem emissoras e a limitação do avanço das igrejas na mídia.
Entre as propostas encaminhadas para o evento está o acesso público ao cadastro de sócios de empresas de radiodifusão do Ministério das Comunicações. A identificação dos radiodifusores é tabu no governo, em parte, por causa da presença de políticos na lista.
A revogação das concessões vencidas também será proposta. Outra sugestão da Confecom é o fim das autorizações precárias de funcionamento.
A relação entre políticos, igrejas e a radiodifusão é foco de várias proposições. Uma delas sugere a proibição de que políticos recebam outorgas de emissoras comerciais, educativas ou comunitárias. Outra propõe que, no exercício do mandato, eles sejam impedidos de apresentar programas.
A legislação em vigor proíbe que políticos em exercício de mandato tenham cargos de gerência nas emissoras de radiodifusão, mas não os impede de serem acionistas das empresas.
No tocante às igrejas, uma sugestão é que exista apenas um canal religioso, a ser compartilhado entre todas as denominações religiosas, cada vez mais presentes no setor. A legislação não permite a concessão de radiodifusão a igrejas.
Propostas
Até o término da conferência, na quinta-feira, 15 grupos discutirão 1.400 propostas, das quais 105 serão colocadas em votação no plenário, onde estarão 1.539 delegados, indicados por empresas, sindicatos e movimentos sociais e governo.
A representação do empresariado na conferência está prejudicada pela ausência dos grandes meios de comunicação –6 das 8 entidades representantes das empresas do setor deixaram o evento. Restaram a Bandeirantes, a Rede TV e as empresas de telefonia.
Na agenda do evento estão várias propostas contrárias às empresas de radiodifusão, como o controle social sobre a mídia e a criação de horários gratuitos nas TVs e rádios para os movimentos sindicais e sociais.
A conferência não tem poder para impor mudanças, mas apenas para recomendá-las.
Fonte: www.paulorubem.com.br / Folha de S. Paulo.
Matérias com um olhar crítico e acima de tudo ético. Visando um respeito e responsabilidade ao transmitir as informações à sociedade. Mostrar a população as várias "faces" do jornalismo.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
UPE será gratuita em 2010
O Reitor da Universidade de Pernambuco (UPE), Prof. Carlos Calado, juntamente com o Excelentíssimo Governador do Estado, Eduardo Campos, a Ilustríssima Secretária Estadual de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Sectma), Luciana Santos, convidam todos os professores, servidores e alunos para participarem do ato de assinatura do decreto que institui a gratuidade na Universidade a partir de 2010. O evento acontece nesta segunda-feira (14/12), às 9hs, no auditório Clélio Lemos da Faculdade de Ciências da Administração da UPE (Fcap), que fica na Av. Sport Clube do Recife, 252 – Madalena.
Para o Reitor, a participação de toda comunidade acadêmica é muito importante, pois é um momento histórico que marca toda de luta da instituição em busca da democratização do acesso ao ensino superior gratuito e de qualidade. O ato representa, ainda, o primeiro passo para a Autonomia Plena da UPE.
fonte : UPE / www.paulorubem.com.br
Para o Reitor, a participação de toda comunidade acadêmica é muito importante, pois é um momento histórico que marca toda de luta da instituição em busca da democratização do acesso ao ensino superior gratuito e de qualidade. O ato representa, ainda, o primeiro passo para a Autonomia Plena da UPE.
fonte : UPE / www.paulorubem.com.br
Censura não pode ficar fora da pauta
A manutenção da mordaça no Estadão decidida pelo STF não pode ficar fora da pauta da 1ª Conferência de Comunicação (Confecom), que começa hoje em Brasília.
A incrível decisão do TJ do Distrito Federal impedindo a publicação de informações da Polícia Federal sobre os negócios da família Sarney vige há 136 dias e foi confirmada pela aberrante votação no STF da última quinta-feira.
Não é fato novo nem isolado, o presidente da secular e prestigiosa ABI, Associação Brasileira de Imprensa, jornalista Maurício Azedo, repete há anos a mesma e surpreendente denúncia: o Poder Judiciário é o grande algoz da liberdade de imprensa no Brasil.
O assunto, evidentemente, não é da alçada do Executivo e nem cabe aos ministérios que participaram da preparação da Conferência questionar o Judiciário. Mas o aberrante desvio funcional e institucional do poder encarregado de proteger o Estado de Direito democrático não pode ser minimizado ou desconsiderado pelas entidades do 3º Setor há meses empenhadas na preparação da Confecom, cuja meta central é tornar equitativa e plural a circulação de informações. Sobretudo depois do rompimento das maiores entidades empresariais com os órgãos governamentais que organizaram o evento.
Jornalistas prejudicados pela censura
As bandeiras da liberdade de imprensa e de expressão não são propriedade do empresariado da comunicação. Ao contrário, os maiores prejudicados pelo cerceamento da liberdade são os profissionais da informação. Eles – e não os executivos ou acionistas – são as primeiras e maiores vítimas dos atos de arbítrio. Uma imprensa amordaçada e controlada pelos tiranetes togados não precisa de repórteres, fotógrafos ou cinegrafistas. Lutar contra a censura é uma forma direta de garantir empregos.
O objetivo primário da censura é intimidar aqueles que fizeram do ofício de informar um compromisso de vida. Daí a importância de um pronunciamento subscrito pela Confecom contra magistrados e tribunais que sob diversos pretextos e a serviço de difusos interesses tentam reviver os paradigmas vigentes durante o regime militar.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br / Por Alberto Dines em 14/12/2009
A incrível decisão do TJ do Distrito Federal impedindo a publicação de informações da Polícia Federal sobre os negócios da família Sarney vige há 136 dias e foi confirmada pela aberrante votação no STF da última quinta-feira.
Não é fato novo nem isolado, o presidente da secular e prestigiosa ABI, Associação Brasileira de Imprensa, jornalista Maurício Azedo, repete há anos a mesma e surpreendente denúncia: o Poder Judiciário é o grande algoz da liberdade de imprensa no Brasil.
O assunto, evidentemente, não é da alçada do Executivo e nem cabe aos ministérios que participaram da preparação da Conferência questionar o Judiciário. Mas o aberrante desvio funcional e institucional do poder encarregado de proteger o Estado de Direito democrático não pode ser minimizado ou desconsiderado pelas entidades do 3º Setor há meses empenhadas na preparação da Confecom, cuja meta central é tornar equitativa e plural a circulação de informações. Sobretudo depois do rompimento das maiores entidades empresariais com os órgãos governamentais que organizaram o evento.
Jornalistas prejudicados pela censura
As bandeiras da liberdade de imprensa e de expressão não são propriedade do empresariado da comunicação. Ao contrário, os maiores prejudicados pelo cerceamento da liberdade são os profissionais da informação. Eles – e não os executivos ou acionistas – são as primeiras e maiores vítimas dos atos de arbítrio. Uma imprensa amordaçada e controlada pelos tiranetes togados não precisa de repórteres, fotógrafos ou cinegrafistas. Lutar contra a censura é uma forma direta de garantir empregos.
O objetivo primário da censura é intimidar aqueles que fizeram do ofício de informar um compromisso de vida. Daí a importância de um pronunciamento subscrito pela Confecom contra magistrados e tribunais que sob diversos pretextos e a serviço de difusos interesses tentam reviver os paradigmas vigentes durante o regime militar.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br / Por Alberto Dines em 14/12/2009
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
O problema ambiental e as responsabilidades de mídia
Por Lilia Diniz em 10/12/2009
Em Copenhague, capital da Dinamarca, os principais líderes do mundo decidem as metas para a redução da emissão de gases poluentes na atmosfera para os próximos dez anos. Os chefes de Estado concordam que é preciso rever o modo de produção industrial e mudar práticas sociais para evitar as catastróficas mudanças climáticas previstas por especialistas, mas relutam estabelecer metas ousadas que possam prejudicar suas economias.
Mas a questão ambiental que atualmente ocupa manchetes de jornais por conta da realização da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15) logo passará para segundo plano. O Observatório da Imprensa exibido ao vivo na terça-feira (8/12) pela TV Brasil discutiu o papel da imprensa na mobilização da sociedade para a preservação do meio ambiente.
Os meios de comunicação conseguem alertar à população para o fato de que as mudanças climáticas já podem ser sentidas no Brasil – e que cada cidadão pode fazer a sua parte na preservação do planeta?
Para debater este tema, o Observatório recebeu no estúdio do Rio de Janeiro Eduardo Viola, professor titular de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), que trabalha com política ambiental internacional desde o fim da década de 1980. Em São Paulo, participaram dois convidados: Luciano Martins Costa, colunista do jornal Brasil Econômico e apresentador do Observatório no rádio, e Adalberto Marcondes Wodianer, fundador e editor da Envolverde, site especializado em meio ambiente e sustentabilidade. Aldem Bourscheit, repórter do site O Eco, participou pelo estúdio de Brasília. Bourscheit acompanha questões ambientais desde a Rio-92, é pós-graduado em Meio Ambiente, Economia e Sociedade pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso, da Argentina).
Antes do debate ao vivo, na coluna "Mídia na Semana", Alberto Dines comentou a cobertura da imprensa sobre as denúncias de pagamento de propinas envolvendo o governador do distrito federal, José Roberto Arruda. O jornalista destacou que o escândalo deveria ficar conhecido como "Propinoduto de Brasília" e não como "mensalão do DEM". Na avaliação de Dines, a mídia comportou-se exemplarmente. "Não se serviu de vazamentos exclusivos e ilícitos, todos publicaram tudo no mesmo dia e agora cabe à mídia inteira evitar que o caso caia no esquecimento e os panetones de Arruda se transformem em pizza."
A informação descontextualizada
Ainda antes do debate no estúdio, em editorial [íntegra abaixo], Dines comentou que o Brasil já está sendo afetado pelas mudanças climáticas, como pode ser verificado por efeitos como a seca na região amazônica. "E quem será capaz de costurar estas dezenas de acidentes climáticos? Qual o segmento da sociedade humana treinado para contextualizar e dar sentido aos fragmentos da pauta diária? Chegou a vez da mídia arregaçar as mangas para convocar o mundo a defender-se da catástrofe anunciada", afirmou. Dines chamou a atenção para o fato de não apenas as políticas públicas podem alterar o panorama do meio ambiente. Todos os cidadãos devem empenhar-se na luta contra o desequilíbrio ambiental.
A equipe da TV Brasil que está em Copenhagem entrevistou Washington Novaes, jornalista especializado na questão ambiental, ao final do primeiro dia do evento. Novaes destacou que ao longo de conferências como esta – que envolvem um grande número de países e onde estão em jogo questões polêmicas – posições diferentes são expostas. Líderes já afirmaram que somente no próximo ano será feito um acordo, enquanto outros garantem que metas serão estabelecidas ao final da COP-15.
O jornalista observou que representantes de ONGs têm dificuldade em assumir posições mais pessimistas e influenciar a opinião pública e governos. "É um jogo difícil, pesado e muito complicado", avaliou. Outro ponto destacado por Novaes é que a mídia não dedica uma cobertura sistemática ao meio ambiente. Dá destaque a grandes catástrofes ambientais, mas não mostra no dia-a-dia a relação entre desabamentos e a ocupação ilegal de encostas de morros, por exemplo.
A mudança climática já assombra o Brasil?
Marilene Ramos, secretária de Gestão do Ambiente do governo do Rio de Janeiro, avaliou que a mídia brasileira tende a mostrar os fatos como se o problema do desequilíbrio ambiental ainda não tivesse atingido o Brasil. Há sinais mais evidentes das conseqüências do aquecimento global, como o derretimento das geleiras, mas o Brasil também já é afetado, na avaliação da secretária. A mídia leva a população a acreditar que "isto é um problema dos países desenvolvidos e não nosso; e, na verdade, nós estamos dentro deste problema". A secretária defende que o Brasil colabore para a diminuição da emissão de gases que contribuam para o efeito estufa, mas que ao mesmo tempo mude práticas ambientais "medievais", como as queimadas e os lixões.
Para Aluízio Maranhão, editor de Opinião do jornal O Globo, a cobertura da questão ambiental é um desafio para a mídia por ser extremamente técnica. Muitos climatologistas acreditam que ainda é cedo, do ponto de vista científico, para estabelecer uma relação direta entre certos eventos que já ocorrem no Brasil – como ciclones, enxurradas e secas – com o aquecimento global. "Nós jornalistas funcionamos em outro timing e temos, sim, que procurar aproximar causas e efeitos", disse.
De Londres, o jornalista Sílio Boccanera afirmou que a mídia na Europa rotineiramente estabelece a ligação entre as catástrofes locais da natureza – como enchentes e secas – e o problema global da mudança do clima. Franceses, suíços e italianos mostram-se preocupados com o degelo nos Alpes e a redução da neve nas suas estações de esqui. "É mais do que uma preocupação meramente ecológica. Perde-se dinheiro com isso", sublinhou. Na Inglaterra, a repetição de enchentes devastadoras nos últimos anos também tem sido ligada à mudança geral do clima.
Na Europa, um panorama bem diferente
Jornais e emissoras de TV na Europa oferecem amplo espaço ao assunto. Boccanera enfatizou que a mídia destaca que não se trata apenas do aquecimento da Terra, o que faz com que a população pense "apenas em mais calor", o que poderia ser visto como positivo em um país frio a Inglaterra. "A ênfase é na mudança do clima e no desequilíbrio dá resultante, que vem dar em problemas não só lá em cima, na estratosfera, mas na esquina de cada um de nós", explicou.
No debate ao vivo, Dines questionou se há "uma percepção formal de que já estamos à beira do abismo". O professor Eduardo Viola explicou que a percepção das mudanças climáticas está diretamente ligada ao nível de instrução da população. Quanto maior grau de educação do cidadão, mais este observa a gravidade do problema e compreende a necessidade de transformar um sistema de alta intensidade de carbono em um de baixa intensidade. O professor destacou que a questão da distribuição dos custos desta mudança torna a negociação mais intensa. E, embora todos os países estejam adotando políticas de transição, a velocidade das ações concretas é lenta se comparada ao que os especialistas apontam como a necessária.
Para Luciano Martins, a cobertura do meio ambiente é um desafio para os meios de comunicação porque estes não têm o costume de tratar questões de forma sistêmica. Na opinião do jornalista, a mídia tem feito uma cobertura fragmentada e pontual. "Tem fugido da relação óbvia que existe entre a questão ambiental e outras questões como, por exemplo, o modo como a economia está organizada", avaliou. Os jornais passaram a cobrir de forma mais intensa a mudança climática em fevereiro de 2007, quando foi divulgado o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas, na sigla em inglês), mas o enfoque foi catastrófico, emotivo e assustador.
Logo depois, o assunto foi abandonado e só retornou aos meios de comunicação já próximo à realização da COP-15.
A internet como aliada
Um aliado para a criação de uma consciência ambiental no cidadão é a internet. Aldem Bourscheit disse que a rede de computadores supre uma lacuna da grande mídia, que cobre o meio ambiente apenas em momentos pontuais, como durante a realização de um grande evento internacional.
"Os veículos brasileiros, de forma geral, têm pouca gente cobrindo a área ambiental frente ao tamanho do desafio", avaliou. O repórter comentou que um estudo apontou que na região mais castigada pelas enchentes em Santa Catarina, 85% dos setores afetados estavam em topos de morros, margens de rios e encostas.
"Seria interessante que a grande mídia ligasse estes pontos mostrando que o aquecimento global pode potencializar esses efeitos climáticos, e que a ocupação do território é um fator importante a ser debatido no Brasil", enfatizou. Aldem Bourscheit destacou que percebe na população brasileira uma "angústia" em saber como agir para preservar os recursos naturais e colaborar com as políticas públicas de preservação do meio ambiente. O cidadão também tem interesse em cobrar dos governos o cumprimento de planos apresentados.
Nos grandes jornais, o meio ambiente deixou de ser um tema restrito a uma única editoria. Adalberto Marcondes Wodianer disse que a pauta ambiental ganhou espaços nobres na mídia, como a primeira página. "Saiu da editoria de Geral e de Ciência para ganhar um espaço na Economia porque interessa às empresas." Mas a cobertura ainda não é transversal, na opinião de Wodianer. O ideal seria a pauta ambiental estar presente em todos os aspectos das coberturas.
Outro tema discutido no Observatório foi o conflito de interesses que pode haver nos jornais em relação à publicidade. Dines questionou se a mídia será capaz de levar ao extremo a conscientização da população sem entrar em confronto com os anunciantes de produtos que poluem o ambiente, como carros a diesel, por exemplo. Luciano Martins concordou que este é um ponto de contradição. O jornalista explicou que a grande quantidade de anúncios de carros off road – que não são modelo flex – se deve ao fato de que os jornais estão voltados para o público de classe A e B, onde estão os consumidores deste produto. O setor de construção civil é outro ponto de contradição. Aos domingos, as páginas dos grandes jornais estão repletas de anúncios de lançamentos do setor imobiliário. "Os jornais em nenhum momento questionam o fato de que muitos dos insumos das construções são buscados em fontes das quais não se cobra a questão ambiental", criticou.
Estado ausente
Adalberto Marcondes Wodianer destacou que no Brasil há uma grande necessidade da presença do Estado. Na Amazônia, por exemplo, os serviços básicos do Estado não estão presentes para a maioria da população. "É muito difícil falar em conter o desmatamento na Amazônia em uma região em que você não tem a capacidade de comando e controle do Estado, não tem a capacidade de entrar com políticas públicas eficientes para cumprir metas", afirmou.
Wodianer explicou que um fator que prejudica a cobertura é o alto custo do jornalismo de qualidade. Mesmo jornais de circulação nacional não têm recursos para mandar equipes com frequência para a Amazônia. E na internet o problema é ainda mais grave. Mesmo sem ter o custo industrial do papel, há menos capital porque não há o aporte publicitário disponível para a mídia impressa.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br
Em Copenhague, capital da Dinamarca, os principais líderes do mundo decidem as metas para a redução da emissão de gases poluentes na atmosfera para os próximos dez anos. Os chefes de Estado concordam que é preciso rever o modo de produção industrial e mudar práticas sociais para evitar as catastróficas mudanças climáticas previstas por especialistas, mas relutam estabelecer metas ousadas que possam prejudicar suas economias.
Mas a questão ambiental que atualmente ocupa manchetes de jornais por conta da realização da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15) logo passará para segundo plano. O Observatório da Imprensa exibido ao vivo na terça-feira (8/12) pela TV Brasil discutiu o papel da imprensa na mobilização da sociedade para a preservação do meio ambiente.
Os meios de comunicação conseguem alertar à população para o fato de que as mudanças climáticas já podem ser sentidas no Brasil – e que cada cidadão pode fazer a sua parte na preservação do planeta?
Para debater este tema, o Observatório recebeu no estúdio do Rio de Janeiro Eduardo Viola, professor titular de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), que trabalha com política ambiental internacional desde o fim da década de 1980. Em São Paulo, participaram dois convidados: Luciano Martins Costa, colunista do jornal Brasil Econômico e apresentador do Observatório no rádio, e Adalberto Marcondes Wodianer, fundador e editor da Envolverde, site especializado em meio ambiente e sustentabilidade. Aldem Bourscheit, repórter do site O Eco, participou pelo estúdio de Brasília. Bourscheit acompanha questões ambientais desde a Rio-92, é pós-graduado em Meio Ambiente, Economia e Sociedade pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso, da Argentina).
Antes do debate ao vivo, na coluna "Mídia na Semana", Alberto Dines comentou a cobertura da imprensa sobre as denúncias de pagamento de propinas envolvendo o governador do distrito federal, José Roberto Arruda. O jornalista destacou que o escândalo deveria ficar conhecido como "Propinoduto de Brasília" e não como "mensalão do DEM". Na avaliação de Dines, a mídia comportou-se exemplarmente. "Não se serviu de vazamentos exclusivos e ilícitos, todos publicaram tudo no mesmo dia e agora cabe à mídia inteira evitar que o caso caia no esquecimento e os panetones de Arruda se transformem em pizza."
A informação descontextualizada
Ainda antes do debate no estúdio, em editorial [íntegra abaixo], Dines comentou que o Brasil já está sendo afetado pelas mudanças climáticas, como pode ser verificado por efeitos como a seca na região amazônica. "E quem será capaz de costurar estas dezenas de acidentes climáticos? Qual o segmento da sociedade humana treinado para contextualizar e dar sentido aos fragmentos da pauta diária? Chegou a vez da mídia arregaçar as mangas para convocar o mundo a defender-se da catástrofe anunciada", afirmou. Dines chamou a atenção para o fato de não apenas as políticas públicas podem alterar o panorama do meio ambiente. Todos os cidadãos devem empenhar-se na luta contra o desequilíbrio ambiental.
A equipe da TV Brasil que está em Copenhagem entrevistou Washington Novaes, jornalista especializado na questão ambiental, ao final do primeiro dia do evento. Novaes destacou que ao longo de conferências como esta – que envolvem um grande número de países e onde estão em jogo questões polêmicas – posições diferentes são expostas. Líderes já afirmaram que somente no próximo ano será feito um acordo, enquanto outros garantem que metas serão estabelecidas ao final da COP-15.
O jornalista observou que representantes de ONGs têm dificuldade em assumir posições mais pessimistas e influenciar a opinião pública e governos. "É um jogo difícil, pesado e muito complicado", avaliou. Outro ponto destacado por Novaes é que a mídia não dedica uma cobertura sistemática ao meio ambiente. Dá destaque a grandes catástrofes ambientais, mas não mostra no dia-a-dia a relação entre desabamentos e a ocupação ilegal de encostas de morros, por exemplo.
A mudança climática já assombra o Brasil?
Marilene Ramos, secretária de Gestão do Ambiente do governo do Rio de Janeiro, avaliou que a mídia brasileira tende a mostrar os fatos como se o problema do desequilíbrio ambiental ainda não tivesse atingido o Brasil. Há sinais mais evidentes das conseqüências do aquecimento global, como o derretimento das geleiras, mas o Brasil também já é afetado, na avaliação da secretária. A mídia leva a população a acreditar que "isto é um problema dos países desenvolvidos e não nosso; e, na verdade, nós estamos dentro deste problema". A secretária defende que o Brasil colabore para a diminuição da emissão de gases que contribuam para o efeito estufa, mas que ao mesmo tempo mude práticas ambientais "medievais", como as queimadas e os lixões.
Para Aluízio Maranhão, editor de Opinião do jornal O Globo, a cobertura da questão ambiental é um desafio para a mídia por ser extremamente técnica. Muitos climatologistas acreditam que ainda é cedo, do ponto de vista científico, para estabelecer uma relação direta entre certos eventos que já ocorrem no Brasil – como ciclones, enxurradas e secas – com o aquecimento global. "Nós jornalistas funcionamos em outro timing e temos, sim, que procurar aproximar causas e efeitos", disse.
De Londres, o jornalista Sílio Boccanera afirmou que a mídia na Europa rotineiramente estabelece a ligação entre as catástrofes locais da natureza – como enchentes e secas – e o problema global da mudança do clima. Franceses, suíços e italianos mostram-se preocupados com o degelo nos Alpes e a redução da neve nas suas estações de esqui. "É mais do que uma preocupação meramente ecológica. Perde-se dinheiro com isso", sublinhou. Na Inglaterra, a repetição de enchentes devastadoras nos últimos anos também tem sido ligada à mudança geral do clima.
Na Europa, um panorama bem diferente
Jornais e emissoras de TV na Europa oferecem amplo espaço ao assunto. Boccanera enfatizou que a mídia destaca que não se trata apenas do aquecimento da Terra, o que faz com que a população pense "apenas em mais calor", o que poderia ser visto como positivo em um país frio a Inglaterra. "A ênfase é na mudança do clima e no desequilíbrio dá resultante, que vem dar em problemas não só lá em cima, na estratosfera, mas na esquina de cada um de nós", explicou.
No debate ao vivo, Dines questionou se há "uma percepção formal de que já estamos à beira do abismo". O professor Eduardo Viola explicou que a percepção das mudanças climáticas está diretamente ligada ao nível de instrução da população. Quanto maior grau de educação do cidadão, mais este observa a gravidade do problema e compreende a necessidade de transformar um sistema de alta intensidade de carbono em um de baixa intensidade. O professor destacou que a questão da distribuição dos custos desta mudança torna a negociação mais intensa. E, embora todos os países estejam adotando políticas de transição, a velocidade das ações concretas é lenta se comparada ao que os especialistas apontam como a necessária.
Para Luciano Martins, a cobertura do meio ambiente é um desafio para os meios de comunicação porque estes não têm o costume de tratar questões de forma sistêmica. Na opinião do jornalista, a mídia tem feito uma cobertura fragmentada e pontual. "Tem fugido da relação óbvia que existe entre a questão ambiental e outras questões como, por exemplo, o modo como a economia está organizada", avaliou. Os jornais passaram a cobrir de forma mais intensa a mudança climática em fevereiro de 2007, quando foi divulgado o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas, na sigla em inglês), mas o enfoque foi catastrófico, emotivo e assustador.
Logo depois, o assunto foi abandonado e só retornou aos meios de comunicação já próximo à realização da COP-15.
A internet como aliada
Um aliado para a criação de uma consciência ambiental no cidadão é a internet. Aldem Bourscheit disse que a rede de computadores supre uma lacuna da grande mídia, que cobre o meio ambiente apenas em momentos pontuais, como durante a realização de um grande evento internacional.
"Os veículos brasileiros, de forma geral, têm pouca gente cobrindo a área ambiental frente ao tamanho do desafio", avaliou. O repórter comentou que um estudo apontou que na região mais castigada pelas enchentes em Santa Catarina, 85% dos setores afetados estavam em topos de morros, margens de rios e encostas.
"Seria interessante que a grande mídia ligasse estes pontos mostrando que o aquecimento global pode potencializar esses efeitos climáticos, e que a ocupação do território é um fator importante a ser debatido no Brasil", enfatizou. Aldem Bourscheit destacou que percebe na população brasileira uma "angústia" em saber como agir para preservar os recursos naturais e colaborar com as políticas públicas de preservação do meio ambiente. O cidadão também tem interesse em cobrar dos governos o cumprimento de planos apresentados.
Nos grandes jornais, o meio ambiente deixou de ser um tema restrito a uma única editoria. Adalberto Marcondes Wodianer disse que a pauta ambiental ganhou espaços nobres na mídia, como a primeira página. "Saiu da editoria de Geral e de Ciência para ganhar um espaço na Economia porque interessa às empresas." Mas a cobertura ainda não é transversal, na opinião de Wodianer. O ideal seria a pauta ambiental estar presente em todos os aspectos das coberturas.
Outro tema discutido no Observatório foi o conflito de interesses que pode haver nos jornais em relação à publicidade. Dines questionou se a mídia será capaz de levar ao extremo a conscientização da população sem entrar em confronto com os anunciantes de produtos que poluem o ambiente, como carros a diesel, por exemplo. Luciano Martins concordou que este é um ponto de contradição. O jornalista explicou que a grande quantidade de anúncios de carros off road – que não são modelo flex – se deve ao fato de que os jornais estão voltados para o público de classe A e B, onde estão os consumidores deste produto. O setor de construção civil é outro ponto de contradição. Aos domingos, as páginas dos grandes jornais estão repletas de anúncios de lançamentos do setor imobiliário. "Os jornais em nenhum momento questionam o fato de que muitos dos insumos das construções são buscados em fontes das quais não se cobra a questão ambiental", criticou.
Estado ausente
Adalberto Marcondes Wodianer destacou que no Brasil há uma grande necessidade da presença do Estado. Na Amazônia, por exemplo, os serviços básicos do Estado não estão presentes para a maioria da população. "É muito difícil falar em conter o desmatamento na Amazônia em uma região em que você não tem a capacidade de comando e controle do Estado, não tem a capacidade de entrar com políticas públicas eficientes para cumprir metas", afirmou.
Wodianer explicou que um fator que prejudica a cobertura é o alto custo do jornalismo de qualidade. Mesmo jornais de circulação nacional não têm recursos para mandar equipes com frequência para a Amazônia. E na internet o problema é ainda mais grave. Mesmo sem ter o custo industrial do papel, há menos capital porque não há o aporte publicitário disponível para a mídia impressa.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br
O problema ambiental e as responsabilidades de mídia
Por Lilia Diniz em 10/12/2009
Em Copenhague, capital da Dinamarca, os principais líderes do mundo decidem as metas para a redução da emissão de gases poluentes na atmosfera para os próximos dez anos. Os chefes de Estado concordam que é preciso rever o modo de produção industrial e mudar práticas sociais para evitar as catastróficas mudanças climáticas previstas por especialistas, mas relutam estabelecer metas ousadas que possam prejudicar suas economias.
Mas a questão ambiental que atualmente ocupa manchetes de jornais por conta da realização da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15) logo passará para segundo plano. O Observatório da Imprensa exibido ao vivo na terça-feira (8/12) pela TV Brasil discutiu o papel da imprensa na mobilização da sociedade para a preservação do meio ambiente.
Os meios de comunicação conseguem alertar à população para o fato de que as mudanças climáticas já podem ser sentidas no Brasil – e que cada cidadão pode fazer a sua parte na preservação do planeta?
Para debater este tema, o Observatório recebeu no estúdio do Rio de Janeiro Eduardo Viola, professor titular de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), que trabalha com política ambiental internacional desde o fim da década de 1980. Em São Paulo, participaram dois convidados: Luciano Martins Costa, colunista do jornal Brasil Econômico e apresentador do Observatório no rádio, e Adalberto Marcondes Wodianer, fundador e editor da Envolverde, site especializado em meio ambiente e sustentabilidade. Aldem Bourscheit, repórter do site O Eco, participou pelo estúdio de Brasília. Bourscheit acompanha questões ambientais desde a Rio-92, é pós-graduado em Meio Ambiente, Economia e Sociedade pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso, da Argentina).
Antes do debate ao vivo, na coluna "Mídia na Semana", Alberto Dines comentou a cobertura da imprensa sobre as denúncias de pagamento de propinas envolvendo o governador do distrito federal, José Roberto Arruda. O jornalista destacou que o escândalo deveria ficar conhecido como "Propinoduto de Brasília" e não como "mensalão do DEM". Na avaliação de Dines, a mídia comportou-se exemplarmente. "Não se serviu de vazamentos exclusivos e ilícitos, todos publicaram tudo no mesmo dia e agora cabe à mídia inteira evitar que o caso caia no esquecimento e os panetones de Arruda se transformem em pizza."
A informação descontextualizada
Ainda antes do debate no estúdio, em editorial [íntegra abaixo], Dines comentou que o Brasil já está sendo afetado pelas mudanças climáticas, como pode ser verificado por efeitos como a seca na região amazônica. "E quem será capaz de costurar estas dezenas de acidentes climáticos? Qual o segmento da sociedade humana treinado para contextualizar e dar sentido aos fragmentos da pauta diária? Chegou a vez da mídia arregaçar as mangas para convocar o mundo a defender-se da catástrofe anunciada", afirmou. Dines chamou a atenção para o fato de não apenas as políticas públicas podem alterar o panorama do meio ambiente. Todos os cidadãos devem empenhar-se na luta contra o desequilíbrio ambiental.
A equipe da TV Brasil que está em Copenhagem entrevistou Washington Novaes, jornalista especializado na questão ambiental, ao final do primeiro dia do evento. Novaes destacou que ao longo de conferências como esta – que envolvem um grande número de países e onde estão em jogo questões polêmicas – posições diferentes são expostas. Líderes já afirmaram que somente no próximo ano será feito um acordo, enquanto outros garantem que metas serão estabelecidas ao final da COP-15.
O jornalista observou que representantes de ONGs têm dificuldade em assumir posições mais pessimistas e influenciar a opinião pública e governos. "É um jogo difícil, pesado e muito complicado", avaliou. Outro ponto destacado por Novaes é que a mídia não dedica uma cobertura sistemática ao meio ambiente. Dá destaque a grandes catástrofes ambientais, mas não mostra no dia-a-dia a relação entre desabamentos e a ocupação ilegal de encostas de morros, por exemplo.
A mudança climática já assombra o Brasil?
Marilene Ramos, secretária de Gestão do Ambiente do governo do Rio de Janeiro, avaliou que a mídia brasileira tende a mostrar os fatos como se o problema do desequilíbrio ambiental ainda não tivesse atingido o Brasil. Há sinais mais evidentes das conseqüências do aquecimento global, como o derretimento das geleiras, mas o Brasil também já é afetado, na avaliação da secretária. A mídia leva a população a acreditar que "isto é um problema dos países desenvolvidos e não nosso; e, na verdade, nós estamos dentro deste problema". A secretária defende que o Brasil colabore para a diminuição da emissão de gases que contribuam para o efeito estufa, mas que ao mesmo tempo mude práticas ambientais "medievais", como as queimadas e os lixões.
Para Aluízio Maranhão, editor de Opinião do jornal O Globo, a cobertura da questão ambiental é um desafio para a mídia por ser extremamente técnica. Muitos climatologistas acreditam que ainda é cedo, do ponto de vista científico, para estabelecer uma relação direta entre certos eventos que já ocorrem no Brasil – como ciclones, enxurradas e secas – com o aquecimento global. "Nós jornalistas funcionamos em outro timing e temos, sim, que procurar aproximar causas e efeitos", disse.
De Londres, o jornalista Sílio Boccanera afirmou que a mídia na Europa rotineiramente estabelece a ligação entre as catástrofes locais da natureza – como enchentes e secas – e o problema global da mudança do clima. Franceses, suíços e italianos mostram-se preocupados com o degelo nos Alpes e a redução da neve nas suas estações de esqui. "É mais do que uma preocupação meramente ecológica. Perde-se dinheiro com isso", sublinhou. Na Inglaterra, a repetição de enchentes devastadoras nos últimos anos também tem sido ligada à mudança geral do clima.
Na Europa, um panorama bem diferente
Jornais e emissoras de TV na Europa oferecem amplo espaço ao assunto. Boccanera enfatizou que a mídia destaca que não se trata apenas do aquecimento da Terra, o que faz com que a população pense "apenas em mais calor", o que poderia ser visto como positivo em um país frio a Inglaterra. "A ênfase é na mudança do clima e no desequilíbrio dá resultante, que vem dar em problemas não só lá em cima, na estratosfera, mas na esquina de cada um de nós", explicou.
No debate ao vivo, Dines questionou se há "uma percepção formal de que já estamos à beira do abismo". O professor Eduardo Viola explicou que a percepção das mudanças climáticas está diretamente ligada ao nível de instrução da população. Quanto maior grau de educação do cidadão, mais este observa a gravidade do problema e compreende a necessidade de transformar um sistema de alta intensidade de carbono em um de baixa intensidade. O professor destacou que a questão da distribuição dos custos desta mudança torna a negociação mais intensa. E, embora todos os países estejam adotando políticas de transição, a velocidade das ações concretas é lenta se comparada ao que os especialistas apontam como a necessária.
Para Luciano Martins, a cobertura do meio ambiente é um desafio para os meios de comunicação porque estes não têm o costume de tratar questões de forma sistêmica. Na opinião do jornalista, a mídia tem feito uma cobertura fragmentada e pontual. "Tem fugido da relação óbvia que existe entre a questão ambiental e outras questões como, por exemplo, o modo como a economia está organizada", avaliou. Os jornais passaram a cobrir de forma mais intensa a mudança climática em fevereiro de 2007, quando foi divulgado o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas, na sigla em inglês), mas o enfoque foi catastrófico, emotivo e assustador.
Logo depois, o assunto foi abandonado e só retornou aos meios de comunicação já próximo à realização da COP-15.
A internet como aliada
Um aliado para a criação de uma consciência ambiental no cidadão é a internet. Aldem Bourscheit disse que a rede de computadores supre uma lacuna da grande mídia, que cobre o meio ambiente apenas em momentos pontuais, como durante a realização de um grande evento internacional.
"Os veículos brasileiros, de forma geral, têm pouca gente cobrindo a área ambiental frente ao tamanho do desafio", avaliou. O repórter comentou que um estudo apontou que na região mais castigada pelas enchentes em Santa Catarina, 85% dos setores afetados estavam em topos de morros, margens de rios e encostas.
"Seria interessante que a grande mídia ligasse estes pontos mostrando que o aquecimento global pode potencializar esses efeitos climáticos, e que a ocupação do território é um fator importante a ser debatido no Brasil", enfatizou. Aldem Bourscheit destacou que percebe na população brasileira uma "angústia" em saber como agir para preservar os recursos naturais e colaborar com as políticas públicas de preservação do meio ambiente. O cidadão também tem interesse em cobrar dos governos o cumprimento de planos apresentados.
Nos grandes jornais, o meio ambiente deixou de ser um tema restrito a uma única editoria. Adalberto Marcondes Wodianer disse que a pauta ambiental ganhou espaços nobres na mídia, como a primeira página. "Saiu da editoria de Geral e de Ciência para ganhar um espaço na Economia porque interessa às empresas." Mas a cobertura ainda não é transversal, na opinião de Wodianer. O ideal seria a pauta ambiental estar presente em todos os aspectos das coberturas.
Outro tema discutido no Observatório foi o conflito de interesses que pode haver nos jornais em relação à publicidade. Dines questionou se a mídia será capaz de levar ao extremo a conscientização da população sem entrar em confronto com os anunciantes de produtos que poluem o ambiente, como carros a diesel, por exemplo. Luciano Martins concordou que este é um ponto de contradição. O jornalista explicou que a grande quantidade de anúncios de carros off road – que não são modelo flex – se deve ao fato de que os jornais estão voltados para o público de classe A e B, onde estão os consumidores deste produto. O setor de construção civil é outro ponto de contradição. Aos domingos, as páginas dos grandes jornais estão repletas de anúncios de lançamentos do setor imobiliário. "Os jornais em nenhum momento questionam o fato de que muitos dos insumos das construções são buscados em fontes das quais não se cobra a questão ambiental", criticou.
Estado ausente
Adalberto Marcondes Wodianer destacou que no Brasil há uma grande necessidade da presença do Estado. Na Amazônia, por exemplo, os serviços básicos do Estado não estão presentes para a maioria da população. "É muito difícil falar em conter o desmatamento na Amazônia em uma região em que você não tem a capacidade de comando e controle do Estado, não tem a capacidade de entrar com políticas públicas eficientes para cumprir metas", afirmou.
Wodianer explicou que um fator que prejudica a cobertura é o alto custo do jornalismo de qualidade. Mesmo jornais de circulação nacional não têm recursos para mandar equipes com frequência para a Amazônia. E na internet o problema é ainda mais grave. Mesmo sem ter o custo industrial do papel, há menos capital porque não há o aporte publicitário disponível para a mídia impressa.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br
Em Copenhague, capital da Dinamarca, os principais líderes do mundo decidem as metas para a redução da emissão de gases poluentes na atmosfera para os próximos dez anos. Os chefes de Estado concordam que é preciso rever o modo de produção industrial e mudar práticas sociais para evitar as catastróficas mudanças climáticas previstas por especialistas, mas relutam estabelecer metas ousadas que possam prejudicar suas economias.
Mas a questão ambiental que atualmente ocupa manchetes de jornais por conta da realização da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15) logo passará para segundo plano. O Observatório da Imprensa exibido ao vivo na terça-feira (8/12) pela TV Brasil discutiu o papel da imprensa na mobilização da sociedade para a preservação do meio ambiente.
Os meios de comunicação conseguem alertar à população para o fato de que as mudanças climáticas já podem ser sentidas no Brasil – e que cada cidadão pode fazer a sua parte na preservação do planeta?
Para debater este tema, o Observatório recebeu no estúdio do Rio de Janeiro Eduardo Viola, professor titular de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), que trabalha com política ambiental internacional desde o fim da década de 1980. Em São Paulo, participaram dois convidados: Luciano Martins Costa, colunista do jornal Brasil Econômico e apresentador do Observatório no rádio, e Adalberto Marcondes Wodianer, fundador e editor da Envolverde, site especializado em meio ambiente e sustentabilidade. Aldem Bourscheit, repórter do site O Eco, participou pelo estúdio de Brasília. Bourscheit acompanha questões ambientais desde a Rio-92, é pós-graduado em Meio Ambiente, Economia e Sociedade pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso, da Argentina).
Antes do debate ao vivo, na coluna "Mídia na Semana", Alberto Dines comentou a cobertura da imprensa sobre as denúncias de pagamento de propinas envolvendo o governador do distrito federal, José Roberto Arruda. O jornalista destacou que o escândalo deveria ficar conhecido como "Propinoduto de Brasília" e não como "mensalão do DEM". Na avaliação de Dines, a mídia comportou-se exemplarmente. "Não se serviu de vazamentos exclusivos e ilícitos, todos publicaram tudo no mesmo dia e agora cabe à mídia inteira evitar que o caso caia no esquecimento e os panetones de Arruda se transformem em pizza."
A informação descontextualizada
Ainda antes do debate no estúdio, em editorial [íntegra abaixo], Dines comentou que o Brasil já está sendo afetado pelas mudanças climáticas, como pode ser verificado por efeitos como a seca na região amazônica. "E quem será capaz de costurar estas dezenas de acidentes climáticos? Qual o segmento da sociedade humana treinado para contextualizar e dar sentido aos fragmentos da pauta diária? Chegou a vez da mídia arregaçar as mangas para convocar o mundo a defender-se da catástrofe anunciada", afirmou. Dines chamou a atenção para o fato de não apenas as políticas públicas podem alterar o panorama do meio ambiente. Todos os cidadãos devem empenhar-se na luta contra o desequilíbrio ambiental.
A equipe da TV Brasil que está em Copenhagem entrevistou Washington Novaes, jornalista especializado na questão ambiental, ao final do primeiro dia do evento. Novaes destacou que ao longo de conferências como esta – que envolvem um grande número de países e onde estão em jogo questões polêmicas – posições diferentes são expostas. Líderes já afirmaram que somente no próximo ano será feito um acordo, enquanto outros garantem que metas serão estabelecidas ao final da COP-15.
O jornalista observou que representantes de ONGs têm dificuldade em assumir posições mais pessimistas e influenciar a opinião pública e governos. "É um jogo difícil, pesado e muito complicado", avaliou. Outro ponto destacado por Novaes é que a mídia não dedica uma cobertura sistemática ao meio ambiente. Dá destaque a grandes catástrofes ambientais, mas não mostra no dia-a-dia a relação entre desabamentos e a ocupação ilegal de encostas de morros, por exemplo.
A mudança climática já assombra o Brasil?
Marilene Ramos, secretária de Gestão do Ambiente do governo do Rio de Janeiro, avaliou que a mídia brasileira tende a mostrar os fatos como se o problema do desequilíbrio ambiental ainda não tivesse atingido o Brasil. Há sinais mais evidentes das conseqüências do aquecimento global, como o derretimento das geleiras, mas o Brasil também já é afetado, na avaliação da secretária. A mídia leva a população a acreditar que "isto é um problema dos países desenvolvidos e não nosso; e, na verdade, nós estamos dentro deste problema". A secretária defende que o Brasil colabore para a diminuição da emissão de gases que contribuam para o efeito estufa, mas que ao mesmo tempo mude práticas ambientais "medievais", como as queimadas e os lixões.
Para Aluízio Maranhão, editor de Opinião do jornal O Globo, a cobertura da questão ambiental é um desafio para a mídia por ser extremamente técnica. Muitos climatologistas acreditam que ainda é cedo, do ponto de vista científico, para estabelecer uma relação direta entre certos eventos que já ocorrem no Brasil – como ciclones, enxurradas e secas – com o aquecimento global. "Nós jornalistas funcionamos em outro timing e temos, sim, que procurar aproximar causas e efeitos", disse.
De Londres, o jornalista Sílio Boccanera afirmou que a mídia na Europa rotineiramente estabelece a ligação entre as catástrofes locais da natureza – como enchentes e secas – e o problema global da mudança do clima. Franceses, suíços e italianos mostram-se preocupados com o degelo nos Alpes e a redução da neve nas suas estações de esqui. "É mais do que uma preocupação meramente ecológica. Perde-se dinheiro com isso", sublinhou. Na Inglaterra, a repetição de enchentes devastadoras nos últimos anos também tem sido ligada à mudança geral do clima.
Na Europa, um panorama bem diferente
Jornais e emissoras de TV na Europa oferecem amplo espaço ao assunto. Boccanera enfatizou que a mídia destaca que não se trata apenas do aquecimento da Terra, o que faz com que a população pense "apenas em mais calor", o que poderia ser visto como positivo em um país frio a Inglaterra. "A ênfase é na mudança do clima e no desequilíbrio dá resultante, que vem dar em problemas não só lá em cima, na estratosfera, mas na esquina de cada um de nós", explicou.
No debate ao vivo, Dines questionou se há "uma percepção formal de que já estamos à beira do abismo". O professor Eduardo Viola explicou que a percepção das mudanças climáticas está diretamente ligada ao nível de instrução da população. Quanto maior grau de educação do cidadão, mais este observa a gravidade do problema e compreende a necessidade de transformar um sistema de alta intensidade de carbono em um de baixa intensidade. O professor destacou que a questão da distribuição dos custos desta mudança torna a negociação mais intensa. E, embora todos os países estejam adotando políticas de transição, a velocidade das ações concretas é lenta se comparada ao que os especialistas apontam como a necessária.
Para Luciano Martins, a cobertura do meio ambiente é um desafio para os meios de comunicação porque estes não têm o costume de tratar questões de forma sistêmica. Na opinião do jornalista, a mídia tem feito uma cobertura fragmentada e pontual. "Tem fugido da relação óbvia que existe entre a questão ambiental e outras questões como, por exemplo, o modo como a economia está organizada", avaliou. Os jornais passaram a cobrir de forma mais intensa a mudança climática em fevereiro de 2007, quando foi divulgado o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas, na sigla em inglês), mas o enfoque foi catastrófico, emotivo e assustador.
Logo depois, o assunto foi abandonado e só retornou aos meios de comunicação já próximo à realização da COP-15.
A internet como aliada
Um aliado para a criação de uma consciência ambiental no cidadão é a internet. Aldem Bourscheit disse que a rede de computadores supre uma lacuna da grande mídia, que cobre o meio ambiente apenas em momentos pontuais, como durante a realização de um grande evento internacional.
"Os veículos brasileiros, de forma geral, têm pouca gente cobrindo a área ambiental frente ao tamanho do desafio", avaliou. O repórter comentou que um estudo apontou que na região mais castigada pelas enchentes em Santa Catarina, 85% dos setores afetados estavam em topos de morros, margens de rios e encostas.
"Seria interessante que a grande mídia ligasse estes pontos mostrando que o aquecimento global pode potencializar esses efeitos climáticos, e que a ocupação do território é um fator importante a ser debatido no Brasil", enfatizou. Aldem Bourscheit destacou que percebe na população brasileira uma "angústia" em saber como agir para preservar os recursos naturais e colaborar com as políticas públicas de preservação do meio ambiente. O cidadão também tem interesse em cobrar dos governos o cumprimento de planos apresentados.
Nos grandes jornais, o meio ambiente deixou de ser um tema restrito a uma única editoria. Adalberto Marcondes Wodianer disse que a pauta ambiental ganhou espaços nobres na mídia, como a primeira página. "Saiu da editoria de Geral e de Ciência para ganhar um espaço na Economia porque interessa às empresas." Mas a cobertura ainda não é transversal, na opinião de Wodianer. O ideal seria a pauta ambiental estar presente em todos os aspectos das coberturas.
Outro tema discutido no Observatório foi o conflito de interesses que pode haver nos jornais em relação à publicidade. Dines questionou se a mídia será capaz de levar ao extremo a conscientização da população sem entrar em confronto com os anunciantes de produtos que poluem o ambiente, como carros a diesel, por exemplo. Luciano Martins concordou que este é um ponto de contradição. O jornalista explicou que a grande quantidade de anúncios de carros off road – que não são modelo flex – se deve ao fato de que os jornais estão voltados para o público de classe A e B, onde estão os consumidores deste produto. O setor de construção civil é outro ponto de contradição. Aos domingos, as páginas dos grandes jornais estão repletas de anúncios de lançamentos do setor imobiliário. "Os jornais em nenhum momento questionam o fato de que muitos dos insumos das construções são buscados em fontes das quais não se cobra a questão ambiental", criticou.
Estado ausente
Adalberto Marcondes Wodianer destacou que no Brasil há uma grande necessidade da presença do Estado. Na Amazônia, por exemplo, os serviços básicos do Estado não estão presentes para a maioria da população. "É muito difícil falar em conter o desmatamento na Amazônia em uma região em que você não tem a capacidade de comando e controle do Estado, não tem a capacidade de entrar com políticas públicas eficientes para cumprir metas", afirmou.
Wodianer explicou que um fator que prejudica a cobertura é o alto custo do jornalismo de qualidade. Mesmo jornais de circulação nacional não têm recursos para mandar equipes com frequência para a Amazônia. E na internet o problema é ainda mais grave. Mesmo sem ter o custo industrial do papel, há menos capital porque não há o aporte publicitário disponível para a mídia impressa.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Caos nas ruas, confusão nos jornais
Comentários para o programa radiofônico do OI, 9/12/2009
Mais um dia de caos em São Paulo após as chuvas fortes é a manchete inevitável dos grandes jornais paulistas e destaque no Globo.
No Globo, manchete para o aumento de preços de materiais de construção no Rio, destaque para as enchentes em São Paulo e para a conferência do clima, que começa em Copenhague.
Nos jornais paulistas, nenhuma atenção à conferência de Copenhague na primeira página. Apenas uma referência, no pé de um texto na manchete do Estado de S.Paulo: "Para estudiosos, as chuvas persistentes podem já ser resultado das mudanças climáticas".
Poucas aulas de jornalismo poderiam ser mais esclarecedoras do que a observação das edições de quarta-feira (9/12) dos jornais para se chegar à constatação de que a imprensa ainda não integrou o aquecimento global como tema transversal ao noticiário.
Apesar das evidências de que o fenômeno afeta praticamente todos os aspectos da vida comum, os jornais ainda o tratam como assunto isolado, distante do noticiário econômico, dos acontecimentos que afetam a qualidade de vida da população e das escolhas de políticas públicas.
Poder do boato
Acobertura dos debates em Copenhague ficou totalmente comprometida pelas controvérsias, alimentadas pela imprensa, em torno de um documento atribuído ao governo da Dinamarca, e que foi considerado desfavorável aos países em desenvolvimento. O documento, publicado pelo jornal britânico Guardian, provocou uma sucessão de informações desencontradas em sites noticiosos de todo o mundo.
Nas edições de papel de quarta-feira (9), fica claro que se tratava de um balão de ensaio para uma suposta negativa dos países ricos a pedidos de financiamento por parte das nações em desenvolvimento para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
O texto, sem assinaturas, circulou como se fosse um documento oficial, o que aumentou a confusão. Propõe medidas para limitar o crescimento da temperatura média do planeta ao máximo de 2 ºC em relação aos níveis do período pré-industrial, reconhece que as nações industrializadas são responsáveis pela maior parte das emissões de gases do efeito estufa e admite que as medidas para mitigar seus malefícios não podem ser partilhadas igualmente com os países em desenvolvimento, cuja prioridade é erradicar a pobreza.
A controvérsia, que seguia sem esclarecimento, indica que a imprensa não tem uma estratégia clara para a cobertura da conferência.
Um simples boato é capaz de desmanchar todo o planejamento da edição. E os jornais ainda não enxergam a relação direta entre o tema de Copenhague e as enchentes quase diárias nas cidades brasileiras.
***
A política do avestruz
Luiz Egypto
"Diante de uma grave emergência." Este é o título de um editorial publicado na segunda-feira (7/12), simultaneamente, por 56 jornais de 45 países a propósito da abertura da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, reunida em Copenhague (Dinamarca), com término previsto para 18 de dezembro.
A iniciativa dos jornais é mais uma evidência da gravidade do problema que assola o planeta, até agora incapaz de equacionar a contento a questão energética e a emissão descontrolada de gases de efeito estufa.
"Se não nos unirmos para empreender ações decisivas", afirma o editorial, "a mudança climática causará estragos em nosso planeta e, com ele, em nossa prosperidade e em nossa segurança." O tom compreensivelmente alarmista continua ao longo do texto: "Agora, os fatos começaram a falar por si próprios: 11 dos últimos 14 anos foram os mais quentes já registrados, a calota polar do Ártico está derretendo e a incrível alta dos preços do petróleo e dos alimentos, no ano passado, nos oferece a antecipação do caos que se avizinha". E por aí vai. O texto termina com um recado aos dirigentes mundiais: Os políticos presentes em Copenhague têm o poder de determinar como nos julgará a história: uma geração que viu um desafio e o enfrentou, ou uma geração tão estúpida que viu o desastre mas não fez nada para evitá-lo."
Dessa ação de caráter simbólico, mas não por isso pouco relevante, participaram apenas dois jornais brasileiros – Zero Hora e Diário Catarinense – ambos vinculados ao grupo RBS. Os três chamados jornalões de circulação nacional desconheceram olimpicamente a iniciativa. Será que esses grandes veículos – e seus congêneres eletrônicos – estão de fato fazendo a parte que lhes cabe nessa guerra que a Humanidade deverá travar por sua sobrevivência? Esta, aliás, é a pergunta da enquete desta semana na edição online do Observatório: "A mídia tem conseguido vincular as catástrofes ambientais no Brasil ao processo de mudanças climáticas?". Cartas para a Redação.
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br
Mais um dia de caos em São Paulo após as chuvas fortes é a manchete inevitável dos grandes jornais paulistas e destaque no Globo.
No Globo, manchete para o aumento de preços de materiais de construção no Rio, destaque para as enchentes em São Paulo e para a conferência do clima, que começa em Copenhague.
Nos jornais paulistas, nenhuma atenção à conferência de Copenhague na primeira página. Apenas uma referência, no pé de um texto na manchete do Estado de S.Paulo: "Para estudiosos, as chuvas persistentes podem já ser resultado das mudanças climáticas".
Poucas aulas de jornalismo poderiam ser mais esclarecedoras do que a observação das edições de quarta-feira (9/12) dos jornais para se chegar à constatação de que a imprensa ainda não integrou o aquecimento global como tema transversal ao noticiário.
Apesar das evidências de que o fenômeno afeta praticamente todos os aspectos da vida comum, os jornais ainda o tratam como assunto isolado, distante do noticiário econômico, dos acontecimentos que afetam a qualidade de vida da população e das escolhas de políticas públicas.
Poder do boato
Acobertura dos debates em Copenhague ficou totalmente comprometida pelas controvérsias, alimentadas pela imprensa, em torno de um documento atribuído ao governo da Dinamarca, e que foi considerado desfavorável aos países em desenvolvimento. O documento, publicado pelo jornal britânico Guardian, provocou uma sucessão de informações desencontradas em sites noticiosos de todo o mundo.
Nas edições de papel de quarta-feira (9), fica claro que se tratava de um balão de ensaio para uma suposta negativa dos países ricos a pedidos de financiamento por parte das nações em desenvolvimento para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
O texto, sem assinaturas, circulou como se fosse um documento oficial, o que aumentou a confusão. Propõe medidas para limitar o crescimento da temperatura média do planeta ao máximo de 2 ºC em relação aos níveis do período pré-industrial, reconhece que as nações industrializadas são responsáveis pela maior parte das emissões de gases do efeito estufa e admite que as medidas para mitigar seus malefícios não podem ser partilhadas igualmente com os países em desenvolvimento, cuja prioridade é erradicar a pobreza.
A controvérsia, que seguia sem esclarecimento, indica que a imprensa não tem uma estratégia clara para a cobertura da conferência.
Um simples boato é capaz de desmanchar todo o planejamento da edição. E os jornais ainda não enxergam a relação direta entre o tema de Copenhague e as enchentes quase diárias nas cidades brasileiras.
***
A política do avestruz
Luiz Egypto
"Diante de uma grave emergência." Este é o título de um editorial publicado na segunda-feira (7/12), simultaneamente, por 56 jornais de 45 países a propósito da abertura da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, reunida em Copenhague (Dinamarca), com término previsto para 18 de dezembro.
A iniciativa dos jornais é mais uma evidência da gravidade do problema que assola o planeta, até agora incapaz de equacionar a contento a questão energética e a emissão descontrolada de gases de efeito estufa.
"Se não nos unirmos para empreender ações decisivas", afirma o editorial, "a mudança climática causará estragos em nosso planeta e, com ele, em nossa prosperidade e em nossa segurança." O tom compreensivelmente alarmista continua ao longo do texto: "Agora, os fatos começaram a falar por si próprios: 11 dos últimos 14 anos foram os mais quentes já registrados, a calota polar do Ártico está derretendo e a incrível alta dos preços do petróleo e dos alimentos, no ano passado, nos oferece a antecipação do caos que se avizinha". E por aí vai. O texto termina com um recado aos dirigentes mundiais: Os políticos presentes em Copenhague têm o poder de determinar como nos julgará a história: uma geração que viu um desafio e o enfrentou, ou uma geração tão estúpida que viu o desastre mas não fez nada para evitá-lo."
Dessa ação de caráter simbólico, mas não por isso pouco relevante, participaram apenas dois jornais brasileiros – Zero Hora e Diário Catarinense – ambos vinculados ao grupo RBS. Os três chamados jornalões de circulação nacional desconheceram olimpicamente a iniciativa. Será que esses grandes veículos – e seus congêneres eletrônicos – estão de fato fazendo a parte que lhes cabe nessa guerra que a Humanidade deverá travar por sua sobrevivência? Esta, aliás, é a pergunta da enquete desta semana na edição online do Observatório: "A mídia tem conseguido vincular as catástrofes ambientais no Brasil ao processo de mudanças climáticas?". Cartas para a Redação.
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
PEC dos Jornalistas é aprovada na CCJC do Senado
A PEC 33/09, que restitui a exigência do diploma de jornalista, foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado ontem (2/12). Na semana passada, o presidente do Senado, José Sarney, prometeu a dirigentes sindicais dos jornalistas que se empenhará na agilização da tramitação da matéria. Representantes da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) reunem-se ainda nesta semana com a Frente Parlamentar em Defesa do Diploma para definição dos próximos encaminhamentos.
A apreciação da matéria na CCJ começou às 11h, com pronunciamento de vários senadores. Posta em votação às 14h15, a PEC 33/09 foi aprovada por 20 votos contra dois. Posicionaram-se contra apenas os senadores Demóstenes Torres (DEM/GO) e ACM Júnior (DEM/BA). A matéria agora segue para apreciação em plenário.
“Os patrões vieram para a disputa e jogaram pesado”, conta o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade. Prova disto foi o acompanhamento da reunião da CCJC pelo próprio presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), Daniel Slaviero, que, antecedendo os debates, fez um corpo-a-corpo junto aos parlamentares , inclusive distribuindo panfleto da entidade.
Para Murillo, a presença de representantes do empresariado reforçou o que a FENAJ já vinha apontando, que a questão do diploma não está ligada às liberdades de expressão e de imprensa, mas sim às relações trabalhistas entre empregados e patrões. “Foi mais uma vitória importante do movimento pela qualificação do jornalismo”, disse o presidente da FENAJ. “Mas ainda temos muito trabalho pela frente”, completou, controlando o tom comemorativo de outros dirigentes da entidade e de Sindicatos de Jornalistas que o acompanhavam.
Nesta semana deve ocorrer, ainda, uma reunião entre os autores e relatores das PECs que tramitam na Câmara dos Deputados e do Senado, juntamente com a coordenação da Frente Parlamentar em Defesa do Diploma e com dirigentes da FENAJ. A o objetivo da reunião é estabelecer ações para que a tramitação das matérias avance ainda mais em 2009.
* Texto: Site FENAJ.
A apreciação da matéria na CCJ começou às 11h, com pronunciamento de vários senadores. Posta em votação às 14h15, a PEC 33/09 foi aprovada por 20 votos contra dois. Posicionaram-se contra apenas os senadores Demóstenes Torres (DEM/GO) e ACM Júnior (DEM/BA). A matéria agora segue para apreciação em plenário.
“Os patrões vieram para a disputa e jogaram pesado”, conta o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade. Prova disto foi o acompanhamento da reunião da CCJC pelo próprio presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), Daniel Slaviero, que, antecedendo os debates, fez um corpo-a-corpo junto aos parlamentares , inclusive distribuindo panfleto da entidade.
Para Murillo, a presença de representantes do empresariado reforçou o que a FENAJ já vinha apontando, que a questão do diploma não está ligada às liberdades de expressão e de imprensa, mas sim às relações trabalhistas entre empregados e patrões. “Foi mais uma vitória importante do movimento pela qualificação do jornalismo”, disse o presidente da FENAJ. “Mas ainda temos muito trabalho pela frente”, completou, controlando o tom comemorativo de outros dirigentes da entidade e de Sindicatos de Jornalistas que o acompanhavam.
Nesta semana deve ocorrer, ainda, uma reunião entre os autores e relatores das PECs que tramitam na Câmara dos Deputados e do Senado, juntamente com a coordenação da Frente Parlamentar em Defesa do Diploma e com dirigentes da FENAJ. A o objetivo da reunião é estabelecer ações para que a tramitação das matérias avance ainda mais em 2009.
* Texto: Site FENAJ.
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