O diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, classificou de “obscurantista e autoritária” a proposta de criação do Conselho de Comunicação do Estado (Cecs), aprovada pela Assembleia Legislativa do Ceará, por iniciativa da deputada Raquel Marques (PT). O conselho estadual segue diretrizes estabelecidas pela 1.ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).
Essas diretrizes chegaram a integrar o programa de governo da presidenciável Dilma Rousseff (PT), apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Diante da polêmica em torno das propostas, elas acabaram sendo retiradas do texto pela petista.
De acordo com o texto aprovado, o conselho integrará a Secretaria da Casa Civil do governo tendo entre suas competência a de “definir a política de comunicação estadual, por meio de estudos, pareceres e recomendações, além de acompanhar o desempenho e a atuação dos meios de comunicação local”.
A ANJ teme que, na prática, o futuro órgão, cuja existência ainda precisa passar por sanção do governador Cid Gomes (PSB), acabe sendo usado para controlar a imprensa. “Quem deve controlar os veículos de comunicação deve ser sua audiência.
Não cabe a nenhum órgão do Estado exercer este papel”, defendeu Pedreira. A proposta de criação do conselho foi aprovada por unanimidade na Assembleia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: www.jconline.com.br
Tayse Falcão
Matérias com um olhar crítico e acima de tudo ético. Visando um respeito e responsabilidade ao transmitir as informações à sociedade. Mostrar a população as várias "faces" do jornalismo.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
"OS LEITORES E A IMPRENSA: Perguntas, perguntas, perguntas"
Bem...
Começo aqui antes de mais nada, que quem acompanha meu blog, percebeu que passei um tempo, um bom tempo para esta grande mídia que é hoje 'internet', e por ela que parei mesmo, e me dei 'tempo', e após este, volto as minhas origens (talvez antagônicas) para fazer um "mini protesto", ou melhor, para aliar-me diante deste artigo escrito por: Washington Araújo, me fez voltar à tona, vamos dizer sonho e trabalho!
Por: Tayse Falcão
Qual o problema do jornalismo? De onde vem esse sentimento de que o nosso jornal já não é mais o nosso jornal? Desde quando o nosso jornal deixou de ser o nosso jornal? Como foi que se tornou árdua a leitura do jornal diário? Por que tenho a impressão que o meu jornal mudou de endereço, de idéias, de linhas editoriais e de eixo? Será que, bem antes que eu trocasse de jornal, este me trocou por outro tipo de leitor?
O que fazer com essa carga de lembranças que eu e o jornal fomos construindo ao longo de tantos anos? Por que me é difícil ler um editorial por inteiro sem levantar três ou quatro bem fundadas suspeitas de que estou sendo enganado e umas cinco ou seis de que eles estão me sonegando algo? Por que o meu jornal muda tanto de roupagem, mas não se arrisca a mudar, ao menos, de erros? Mudei eu ou mudou o jornal?
Por que é que quando o meu jornal diz que errou nunca está se referindo ao erro que realmente me incomodou e perturbou? Por acaso, estamos diante de uma epidemia a contagiar apenas jornalistas e deixá-los tão desaprendidos do ofício de fazer jornal diário? Estarei sendo punido por meu jornal por dedicar mais tempo ao jornalismo virtual que ao impresso? Quando a minha profissão, mesmo sem necessitar mais de diploma, continuará a exigir decência e retidão de caráter?
Físico e virtual
Por que tenho o estranho pressentimento que trocaram a tinta de impressão por naftalina líquida? Onde foi que guardei aquela minha velha ansiedade para ver o jornal do dia seguinte? Por que não verificam se já foi criado algum mecanismo para aferir a vitalidade das ideais de nossos editores, colunistas, repórteres? Terá chegado o momento de buscar o Arquivo Geral quando desejar usufruir a leitura de um bom texto jornalístico? O que fizeram com as grandes reportagens? Por que as notícias se tornaram tão extensamente opinativas e tão exageradamente burocráticas?
Quando é que passei a desconfiar que meu jornal sofria de dupla personalidade, aquela que fazia jornalismo e a outra que realizava atividade político-partidária? Por Deus, posso até ter mudado, mas não tanto quanto o meu jornal, aquele que me apresentava o mundo de ontem e de anteontem.
Por que dezenas de diários estão quebrando em todo o mundo? Por que, apenas nos últimos oito anos, nos Estados Unidos da América 120 jornais diários fecharam suas portas? Por que nem mesmo se salvam aqueles que considero como jornais de referência: El País da Espanha, Le Monde na França, The Times e The Independent no Reino Unido, Corriere della Sera e La Repubblica na Itália? Por que todos eles acumulam fortes perdas econômicas, quando não estão simplesmente no vermelho estão sempre rolando dívidas? E por que os grandes jornais constatam impressionante encolhimento de sua carteira de assinantes?
Por que a empresa editora do Chicago Tribune e Los Angeles Times, assim como a Hearst Corporation, dona do San Francisco Chronicle, decretaram falência? Por que o poderoso grupo de Rupert Murdoch, a News Corp., que edita Wall Street Journal, apresentam prejuízos anuais na casa dos milhões de euros? Por que, para diminuir custos, muitas publicações estão simplesmente reduzindo o número de suas páginas? Por que o Washington Post cancelou a impressão de seu prestigioso suplemento literário "Bookworld"? Por que o Christian Science Monitor decidiu acabar com sua edição de papel e passar a existir apenas na internet? Por que aconteceu o mesmo com o nosso Jornal do Brasil? Por que o Financial Times propôs semanas de apenas três dias para seus redatores? O que pretendem com isso?
Cargas de pessimismo
Por que a imprensa diária paga se encontra à beira do precipício e anseia desesperadamente por fórmulas que lhe garantam a sobrevivência no médio prazo? Por que a imprensa diária continua levando a sério um modelo econômico e industrial que não funciona? Quem garante que a opção por construir grandes grupos multimídia internacionais, como aconteceu nos anos 1980 e 1990, conseguirá enfrentar a proliferação dos novos modos de difusão da informação?
Por que aumenta o número de jornalistas desempregados? Por que desde janeiro de 2008 foram fechados 21 mil vagas de trabalho nos jornais com sede nos Estados Unidos da América? Por que na Espanha, entre junho de 2008 e abril de 2009, 2.221 jornalistas perderam seus empregos? Por que alguns analistas mostram-se reticentes quanto à continuidade de jornais impressos?
Por que Michael Wolf, da Newser, vaticina que muito em breve ao menos 80% dos jornais impressos norte-americanos desaparecerão? O que leva Rupert Murdoch carregar no pessimismo ao prever que na próxima década (que, aliás, já nos bate à porta) todos os diários simplesmente deixarão de existir?
Onde, onde?
O que é que agrava tão mortalmente a velha deliquência da imprensa escrita diária? Será que a devemos debitar apenas à crise econômica global que provoca enormes perdas da publicidade e ao mesmo tempo forte restrição de crédito? Quando foi que a informação passou a ser mercantilizada de forma tão escancarada? Como a perda de credibilidade tem contribuído para o ocaso da imprensa escrita? Caminha para ser letal ao segmento da informação impressa a concorrência com a imprensa gratuita?
O envelhecimento dos leitores tem papel determinante na caótica situação atual? Que outros males estruturais poderíamos citar para reflexão dos que se interessam por assuntos da mídia? Por que, hoje, cerca de 35 milhões de pessoas no Brasil já usam o celular para navegar na rede e, em uma imaginária "outra ponta", o número de leitores de jornais só faz cair, ano a ano?
Por que no Brasil a questão da sobrevivência da imprensa escrita é secundária à questão da liberdade de expressão? O horror econômico que se avizinha para a imprensa brasileira é decorrente do cerceamento à liberdade de expressão? Por que é mais seguro saber do desenvolvimento alcançado no Brasil por intermédio da imprensa que circula no exterior do que através da nossa imprensa? Por que é que diante dos novos "pecados capitais" do jornalismo os cidadãos se sentem vulneráveis em seus direitos? Onde é que vamos buscar informação confiável e de qualidade sobre qualquer assunto importante? Onde buscar a verdade dos fatos? Onde buscar a verdade? Onde buscar? Onde?
Por: Washington Araújo em 14/10/2010
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br
Começo aqui antes de mais nada, que quem acompanha meu blog, percebeu que passei um tempo, um bom tempo para esta grande mídia que é hoje 'internet', e por ela que parei mesmo, e me dei 'tempo', e após este, volto as minhas origens (talvez antagônicas) para fazer um "mini protesto", ou melhor, para aliar-me diante deste artigo escrito por: Washington Araújo, me fez voltar à tona, vamos dizer sonho e trabalho!
Por: Tayse Falcão
Qual o problema do jornalismo? De onde vem esse sentimento de que o nosso jornal já não é mais o nosso jornal? Desde quando o nosso jornal deixou de ser o nosso jornal? Como foi que se tornou árdua a leitura do jornal diário? Por que tenho a impressão que o meu jornal mudou de endereço, de idéias, de linhas editoriais e de eixo? Será que, bem antes que eu trocasse de jornal, este me trocou por outro tipo de leitor?
O que fazer com essa carga de lembranças que eu e o jornal fomos construindo ao longo de tantos anos? Por que me é difícil ler um editorial por inteiro sem levantar três ou quatro bem fundadas suspeitas de que estou sendo enganado e umas cinco ou seis de que eles estão me sonegando algo? Por que o meu jornal muda tanto de roupagem, mas não se arrisca a mudar, ao menos, de erros? Mudei eu ou mudou o jornal?
Por que é que quando o meu jornal diz que errou nunca está se referindo ao erro que realmente me incomodou e perturbou? Por acaso, estamos diante de uma epidemia a contagiar apenas jornalistas e deixá-los tão desaprendidos do ofício de fazer jornal diário? Estarei sendo punido por meu jornal por dedicar mais tempo ao jornalismo virtual que ao impresso? Quando a minha profissão, mesmo sem necessitar mais de diploma, continuará a exigir decência e retidão de caráter?
Físico e virtual
Por que tenho o estranho pressentimento que trocaram a tinta de impressão por naftalina líquida? Onde foi que guardei aquela minha velha ansiedade para ver o jornal do dia seguinte? Por que não verificam se já foi criado algum mecanismo para aferir a vitalidade das ideais de nossos editores, colunistas, repórteres? Terá chegado o momento de buscar o Arquivo Geral quando desejar usufruir a leitura de um bom texto jornalístico? O que fizeram com as grandes reportagens? Por que as notícias se tornaram tão extensamente opinativas e tão exageradamente burocráticas?
Quando é que passei a desconfiar que meu jornal sofria de dupla personalidade, aquela que fazia jornalismo e a outra que realizava atividade político-partidária? Por Deus, posso até ter mudado, mas não tanto quanto o meu jornal, aquele que me apresentava o mundo de ontem e de anteontem.
Por que dezenas de diários estão quebrando em todo o mundo? Por que, apenas nos últimos oito anos, nos Estados Unidos da América 120 jornais diários fecharam suas portas? Por que nem mesmo se salvam aqueles que considero como jornais de referência: El País da Espanha, Le Monde na França, The Times e The Independent no Reino Unido, Corriere della Sera e La Repubblica na Itália? Por que todos eles acumulam fortes perdas econômicas, quando não estão simplesmente no vermelho estão sempre rolando dívidas? E por que os grandes jornais constatam impressionante encolhimento de sua carteira de assinantes?
Por que a empresa editora do Chicago Tribune e Los Angeles Times, assim como a Hearst Corporation, dona do San Francisco Chronicle, decretaram falência? Por que o poderoso grupo de Rupert Murdoch, a News Corp., que edita Wall Street Journal, apresentam prejuízos anuais na casa dos milhões de euros? Por que, para diminuir custos, muitas publicações estão simplesmente reduzindo o número de suas páginas? Por que o Washington Post cancelou a impressão de seu prestigioso suplemento literário "Bookworld"? Por que o Christian Science Monitor decidiu acabar com sua edição de papel e passar a existir apenas na internet? Por que aconteceu o mesmo com o nosso Jornal do Brasil? Por que o Financial Times propôs semanas de apenas três dias para seus redatores? O que pretendem com isso?
Cargas de pessimismo
Por que a imprensa diária paga se encontra à beira do precipício e anseia desesperadamente por fórmulas que lhe garantam a sobrevivência no médio prazo? Por que a imprensa diária continua levando a sério um modelo econômico e industrial que não funciona? Quem garante que a opção por construir grandes grupos multimídia internacionais, como aconteceu nos anos 1980 e 1990, conseguirá enfrentar a proliferação dos novos modos de difusão da informação?
Por que aumenta o número de jornalistas desempregados? Por que desde janeiro de 2008 foram fechados 21 mil vagas de trabalho nos jornais com sede nos Estados Unidos da América? Por que na Espanha, entre junho de 2008 e abril de 2009, 2.221 jornalistas perderam seus empregos? Por que alguns analistas mostram-se reticentes quanto à continuidade de jornais impressos?
Por que Michael Wolf, da Newser, vaticina que muito em breve ao menos 80% dos jornais impressos norte-americanos desaparecerão? O que leva Rupert Murdoch carregar no pessimismo ao prever que na próxima década (que, aliás, já nos bate à porta) todos os diários simplesmente deixarão de existir?
Onde, onde?
O que é que agrava tão mortalmente a velha deliquência da imprensa escrita diária? Será que a devemos debitar apenas à crise econômica global que provoca enormes perdas da publicidade e ao mesmo tempo forte restrição de crédito? Quando foi que a informação passou a ser mercantilizada de forma tão escancarada? Como a perda de credibilidade tem contribuído para o ocaso da imprensa escrita? Caminha para ser letal ao segmento da informação impressa a concorrência com a imprensa gratuita?
O envelhecimento dos leitores tem papel determinante na caótica situação atual? Que outros males estruturais poderíamos citar para reflexão dos que se interessam por assuntos da mídia? Por que, hoje, cerca de 35 milhões de pessoas no Brasil já usam o celular para navegar na rede e, em uma imaginária "outra ponta", o número de leitores de jornais só faz cair, ano a ano?
Por que no Brasil a questão da sobrevivência da imprensa escrita é secundária à questão da liberdade de expressão? O horror econômico que se avizinha para a imprensa brasileira é decorrente do cerceamento à liberdade de expressão? Por que é mais seguro saber do desenvolvimento alcançado no Brasil por intermédio da imprensa que circula no exterior do que através da nossa imprensa? Por que é que diante dos novos "pecados capitais" do jornalismo os cidadãos se sentem vulneráveis em seus direitos? Onde é que vamos buscar informação confiável e de qualidade sobre qualquer assunto importante? Onde buscar a verdade dos fatos? Onde buscar a verdade? Onde buscar? Onde?
Por: Washington Araújo em 14/10/2010
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Multa a Ana Arraes é mantida
O pleno do TRE julgou e indeferiu, nessa terça-feira (17), recurso da Frente Popular de Pernambuco e da deputada federal e candidata à reeleição, Ana Arraes, contra condenação anterior do Tribunal. O pleno aplicou multa de R$ 5.530,00 por inobservância de limite legal de propaganda eleitoral, que deverá ser dividida entre a Frente e a candidata socialista. A ação inicial foi da coligação Pernambuco Pode Mais contra a chapa majoritária governista e a deputada-candidata.
A coligação oposicionista acusou a Frente Popular de realizar pintura irregular em muro particular, enquanto a deputada Ana Arraes foi acionada por instalar outdoor de dimensão superior à estabelecida pela legislação em seu próprio comitê.
Ainda ontem, duas reclamações por propaganda irregular em emissoras de rádio foram impetradas no TRE: uma da Frente Popular contra a Pernambuco pode Mais e outra da Pernambuco pode Mais contra a Frente.
Por sua vez, a Prefeitura de Afogados da Ingazeira ingressou com reclamação contra a ex-prefeita e candidata a deputada estadual Gisa Simões (PMDB), por abrir um comitê ao lado da sede da municipalidade. A legislação determina distância mínima de 200 metros de prédios públicos para atividades eleitorais.
Fonte: www.jconline.com.br
A coligação oposicionista acusou a Frente Popular de realizar pintura irregular em muro particular, enquanto a deputada Ana Arraes foi acionada por instalar outdoor de dimensão superior à estabelecida pela legislação em seu próprio comitê.
Ainda ontem, duas reclamações por propaganda irregular em emissoras de rádio foram impetradas no TRE: uma da Frente Popular contra a Pernambuco pode Mais e outra da Pernambuco pode Mais contra a Frente.
Por sua vez, a Prefeitura de Afogados da Ingazeira ingressou com reclamação contra a ex-prefeita e candidata a deputada estadual Gisa Simões (PMDB), por abrir um comitê ao lado da sede da municipalidade. A legislação determina distância mínima de 200 metros de prédios públicos para atividades eleitorais.
Fonte: www.jconline.com.br
terça-feira, 10 de agosto de 2010
15 anos sem o mestre Florestan Fernandes
O sociólogo Florestan Fernandes, um dos maiores pensadores da realidade brasileira, morreu em São Paulo há 15 anos, em 10 de agosto de 1995. Durante o velório, seu caixão foi coberto pela bandeira do MST.
Por causa da sua história de luta, empenho em transformar o pensamento em ação política e social e seu exemplo de vida e coerência, o MST fez uma homenagem ao lutador do povo batizando com seu nome a sua escola nacional, em Guararema, interior de São Paulo.
O pensador e ativista político está vinculado à pesquisa sociológica brasileira. Sociólogo e professor universitário com mais de 50 livros publicados, transformou as ciências sociais no país e estabeleceu um novo estilo de pensamento.
“Um grande intelectual revolucionário, como foi Florestan Fernandes, deve ser pensado em conexão com os grandes movimentos radicais, como é o MST. A conjunção de ambos neste evento é natural e anima a nossa esperança”, afirma Antônio Candido, crítico literário e professor emérito da USP.
Nascido na capital paulista em 22 de julho de 1920, Florestan começou a lutar já na infância para conquistar o próprio nome. A patroa de sua mãe o chamava de Vicente, por considerar que seu nome não era nome de pobre. Aos seis anos começou a trabalhar e, por isso, não conseguiu completar o curso primário. Terminou o ensino fundamental por meio do curso de madureza, conhecido hoje por supletivo.
Na adolescência, foi vendedor de produtos farmacêuticos. Aos 18 anos, começou a estudar na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em 1947. Formou-se em ciências sociais e fez doutorado em 1951. Trabalhou como assistente catedrático, livre docente e professor titular na cadeira de sociologia.
Em 1964 se efetivou na cátedra. Foi mestre de sociólogos renomados.
Defensor da educação pública, gratuita e de qualidade, nos anos 60 participou de uma campanha pelo país a favor da escola pública, expondo uma das falhas mais dramáticas da sociedade brasileira, que é o descaso pela democratização e generalização do ensino.
Cassado com base no AI-5, em 1969, deixou o país e deu aulas nas universidades de Columbia (EUA), Toronto (Canadá) e Yale (EUA). Voltou ao Brasil em 1972 e passou a lecionar na PUC-SP. Não procurou reintegra-se à USP, da qual recebeu o título de professor emérito em dezembro de 1985.
Florestan esteve ligado ao Partido dos Trabalhadores (PT) desde sua fundação. Em 1986 filiou-se ao partido e exerceu dois mandatos de deputado federal. Foi um admirador e apoiador da luta dos trabalhadores Sem Terra.
"O subdesenvolvimento, em suma, tem alimentado o desenvolvimento. Esse paradoxo só desaparecerá quando os de baixo lutarem organizadamente contra a espoliação, exigindo transformações profundas na política econômica, nas funções do Estado e na estrutura da sociedade de classes", escreveu Florestan, que não via o destino da ex-URSS como o fim do socialismo e do marxismo, nem a globalização como a esperança dos excluídos.
Leia também
Florestan Fernandes segue vivo - homenagem do MST
Escola que leva nome do mestre pede ajuda
Fonte: http://www.mst.org.br/
Por causa da sua história de luta, empenho em transformar o pensamento em ação política e social e seu exemplo de vida e coerência, o MST fez uma homenagem ao lutador do povo batizando com seu nome a sua escola nacional, em Guararema, interior de São Paulo.
O pensador e ativista político está vinculado à pesquisa sociológica brasileira. Sociólogo e professor universitário com mais de 50 livros publicados, transformou as ciências sociais no país e estabeleceu um novo estilo de pensamento.
“Um grande intelectual revolucionário, como foi Florestan Fernandes, deve ser pensado em conexão com os grandes movimentos radicais, como é o MST. A conjunção de ambos neste evento é natural e anima a nossa esperança”, afirma Antônio Candido, crítico literário e professor emérito da USP.
Nascido na capital paulista em 22 de julho de 1920, Florestan começou a lutar já na infância para conquistar o próprio nome. A patroa de sua mãe o chamava de Vicente, por considerar que seu nome não era nome de pobre. Aos seis anos começou a trabalhar e, por isso, não conseguiu completar o curso primário. Terminou o ensino fundamental por meio do curso de madureza, conhecido hoje por supletivo.
Na adolescência, foi vendedor de produtos farmacêuticos. Aos 18 anos, começou a estudar na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em 1947. Formou-se em ciências sociais e fez doutorado em 1951. Trabalhou como assistente catedrático, livre docente e professor titular na cadeira de sociologia.
Em 1964 se efetivou na cátedra. Foi mestre de sociólogos renomados.
Defensor da educação pública, gratuita e de qualidade, nos anos 60 participou de uma campanha pelo país a favor da escola pública, expondo uma das falhas mais dramáticas da sociedade brasileira, que é o descaso pela democratização e generalização do ensino.
Cassado com base no AI-5, em 1969, deixou o país e deu aulas nas universidades de Columbia (EUA), Toronto (Canadá) e Yale (EUA). Voltou ao Brasil em 1972 e passou a lecionar na PUC-SP. Não procurou reintegra-se à USP, da qual recebeu o título de professor emérito em dezembro de 1985.
Florestan esteve ligado ao Partido dos Trabalhadores (PT) desde sua fundação. Em 1986 filiou-se ao partido e exerceu dois mandatos de deputado federal. Foi um admirador e apoiador da luta dos trabalhadores Sem Terra.
"O subdesenvolvimento, em suma, tem alimentado o desenvolvimento. Esse paradoxo só desaparecerá quando os de baixo lutarem organizadamente contra a espoliação, exigindo transformações profundas na política econômica, nas funções do Estado e na estrutura da sociedade de classes", escreveu Florestan, que não via o destino da ex-URSS como o fim do socialismo e do marxismo, nem a globalização como a esperança dos excluídos.
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Escola que leva nome do mestre pede ajuda
Fonte: http://www.mst.org.br/
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Frei Betto: Congresso absolve MST
Frei Betto, do Correio Braziliense
O MST jamais desviou dinheiro público para realizar ocupações de terra — eis a conclusão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito(CPMI), integrada por deputados federais e senadores, instaurada para apurar se havia fundamento nas acusações, orquestradas pelos senhores do latifúndio, de que os movimentos comprometidos com a reforma agrária se apoderaram de recursos oficiais.
Em oito meses, foram convocadas 13 audiências públicas. As contas de dezenas de cooperativas de agricultores e associações de apoio à reforma agrária foram exaustivamente vasculhadas. Nada foi apurado. Segundo o relator, o deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP), “foi uma CPMI desnecessária”.
Não tão desnecessária assim, pois provou, oficialmente, que as denúncias da bancada ruralista no Congresso são infundadas. E constatou-se que entidades e movimentos voltados à reforma fundiária desenvolvem sério trabalho de aperfeiçoamento da agricultura familiar e qualificação técnica dos agricultores.
O que os denunciantes buscavam era reaquecer a velha política — descartada pelo governo Lula — de criminalizar os movimentos sociais brasileiros. Esse tipo de terrorismo tupiniquim a história de nosso país conhece bem: Monteiro Lobato foi preso por propagar que havia petróleo no Brasil (o que prejudicou os interesses norte-americanos); foram chamados de comunistas os que defendiam a criação da Petrobras; e, de terroristas, os que lutavam contra a ditadura e pela redemocratização do país.
A comissão parlamentar significou, para quem insistiu em instaurá-la, um tiro saído pela culatra. Ficou claro para deputados e senadores bem intencionados que é preciso votar, o quanto antes, o projeto de lei que prevê a desapropriação de propriedades rurais que utilizam trabalho escravo em suas terras. E resolver, o quanto antes, a questão dos índices de produtividade da terra.
A investigação trouxe à luz não a suposta bandidagem do MST e congêneres, como acusavam os senhores do latifúndio, e sim a importância desses movimentos no atendimento à população sem terra. Eles cuidam da organização de acampamentos e assentamentos e, assim, evitam a migração que reforça, nas cidades, o cinturão de favelas e o contingente de famílias e pessoas desamparadas, sujeitas ao trabalho informal, ao alcoolismo, às drogas, à criminalidade.
Segundo Jilmar Tatto, os inimigos da reforma agrária “fizeram toda uma carga, um discurso muito raivoso, colocaram dúvidas em relação ao desvio de recursos públicos e perceberam que a montanha tinha parido um rato. Porque não havia desvio nenhum. As entidades e o governo abriram todas as suas contas. Foram transparentes e, em nenhum momento, conseguiu-se identificar um centavo de desvio de recurso público. Foram desmoralizados (os denunciantes), e resolveram se ausentar dos trabalhos da CPMI. (...) Foi um trabalho produtivo, no sentido de deixar claro que não houve desvio de recurso público para fazer ocupação de terras no Brasil. O que houve foi a oposição fazendo uma carga muito grande contra o governo e o MST”.
Os parlamentares sensíveis à questão social no Brasil se convenceram, graças ao trabalho da comissão, de que é preciso aumentar os recursos para a agricultura familiar; garantir que a legislação trabalhista seja aplicada na zona rural; e incentivar sempre mais os plantios alternativos e os alimentos orgânicos, sobre cuja qualidade nutricional não paira a desconfiança que pesa sobre os transgênicos. E, sobretudo, intensificar a reforma agrária no país, desapropriando, como exige a Constituição, as terras improdutivas.
Dados recentes mostram que, no Brasil, se ocupam 3 milhões de hectares com a lavoura de arroz e 4,3 milhões com feijão. Segundo o geógrafo Ricardo Alvarez, se compararmos com os 851 milhões de hectares que formam este colosso chamado Brasil veremos que as cifras são raquíticas. Apenas 0,85% do território nacional está ocupado com o cereal e a leguminosa. Um aumento de apenas 20% na área plantada significaria passar de 7,3 para 8,7 milhões de hectares, com forte impacto na alimentação do povo brasileiro.
Para Alvarez, o aumento da produção levaria à queda de preços, ruim para o produtor, bom para os consumidores. Caberia, então, ao governo implantar uma política de ampliação da produção de alimentos, garantir preços mínimos, forçar a ocupação da terra, combater o latifúndio, gerar empregos no campo e atacar a fome. Ação muito mais eficiente, graças aos 20% de acréscimo na área plantada, do que o assistencialismo alimentar.
O latifúndio ocupa, hoje, mais de 20 milhões de hectares com soja. No início dos anos 1990, o número beirava os 11,5 milhões. A cana-de-açúcar foi de 4,2 para 6,5 milhões de hectares no mesmo período. Arroz e feijão sofreram redução da área plantada. Hoje o brasileiro consome mais massas do que a tradicional combinação de arroz e feijão, de grande valor nutritivo.
Alvarez conclui: “Não faltam terras no Brasil, faltam políticas de distribuição delas. Não faltam empregos, falta vontade de enfrentar a terra improdutiva. Não falta comida, falta direcionar a produção para atender as necessidades básicas de nossa população”.
Fonte: www.mst.org.br
O MST jamais desviou dinheiro público para realizar ocupações de terra — eis a conclusão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito(CPMI), integrada por deputados federais e senadores, instaurada para apurar se havia fundamento nas acusações, orquestradas pelos senhores do latifúndio, de que os movimentos comprometidos com a reforma agrária se apoderaram de recursos oficiais.
Em oito meses, foram convocadas 13 audiências públicas. As contas de dezenas de cooperativas de agricultores e associações de apoio à reforma agrária foram exaustivamente vasculhadas. Nada foi apurado. Segundo o relator, o deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP), “foi uma CPMI desnecessária”.
Não tão desnecessária assim, pois provou, oficialmente, que as denúncias da bancada ruralista no Congresso são infundadas. E constatou-se que entidades e movimentos voltados à reforma fundiária desenvolvem sério trabalho de aperfeiçoamento da agricultura familiar e qualificação técnica dos agricultores.
O que os denunciantes buscavam era reaquecer a velha política — descartada pelo governo Lula — de criminalizar os movimentos sociais brasileiros. Esse tipo de terrorismo tupiniquim a história de nosso país conhece bem: Monteiro Lobato foi preso por propagar que havia petróleo no Brasil (o que prejudicou os interesses norte-americanos); foram chamados de comunistas os que defendiam a criação da Petrobras; e, de terroristas, os que lutavam contra a ditadura e pela redemocratização do país.
A comissão parlamentar significou, para quem insistiu em instaurá-la, um tiro saído pela culatra. Ficou claro para deputados e senadores bem intencionados que é preciso votar, o quanto antes, o projeto de lei que prevê a desapropriação de propriedades rurais que utilizam trabalho escravo em suas terras. E resolver, o quanto antes, a questão dos índices de produtividade da terra.
A investigação trouxe à luz não a suposta bandidagem do MST e congêneres, como acusavam os senhores do latifúndio, e sim a importância desses movimentos no atendimento à população sem terra. Eles cuidam da organização de acampamentos e assentamentos e, assim, evitam a migração que reforça, nas cidades, o cinturão de favelas e o contingente de famílias e pessoas desamparadas, sujeitas ao trabalho informal, ao alcoolismo, às drogas, à criminalidade.
Segundo Jilmar Tatto, os inimigos da reforma agrária “fizeram toda uma carga, um discurso muito raivoso, colocaram dúvidas em relação ao desvio de recursos públicos e perceberam que a montanha tinha parido um rato. Porque não havia desvio nenhum. As entidades e o governo abriram todas as suas contas. Foram transparentes e, em nenhum momento, conseguiu-se identificar um centavo de desvio de recurso público. Foram desmoralizados (os denunciantes), e resolveram se ausentar dos trabalhos da CPMI. (...) Foi um trabalho produtivo, no sentido de deixar claro que não houve desvio de recurso público para fazer ocupação de terras no Brasil. O que houve foi a oposição fazendo uma carga muito grande contra o governo e o MST”.
Os parlamentares sensíveis à questão social no Brasil se convenceram, graças ao trabalho da comissão, de que é preciso aumentar os recursos para a agricultura familiar; garantir que a legislação trabalhista seja aplicada na zona rural; e incentivar sempre mais os plantios alternativos e os alimentos orgânicos, sobre cuja qualidade nutricional não paira a desconfiança que pesa sobre os transgênicos. E, sobretudo, intensificar a reforma agrária no país, desapropriando, como exige a Constituição, as terras improdutivas.
Dados recentes mostram que, no Brasil, se ocupam 3 milhões de hectares com a lavoura de arroz e 4,3 milhões com feijão. Segundo o geógrafo Ricardo Alvarez, se compararmos com os 851 milhões de hectares que formam este colosso chamado Brasil veremos que as cifras são raquíticas. Apenas 0,85% do território nacional está ocupado com o cereal e a leguminosa. Um aumento de apenas 20% na área plantada significaria passar de 7,3 para 8,7 milhões de hectares, com forte impacto na alimentação do povo brasileiro.
Para Alvarez, o aumento da produção levaria à queda de preços, ruim para o produtor, bom para os consumidores. Caberia, então, ao governo implantar uma política de ampliação da produção de alimentos, garantir preços mínimos, forçar a ocupação da terra, combater o latifúndio, gerar empregos no campo e atacar a fome. Ação muito mais eficiente, graças aos 20% de acréscimo na área plantada, do que o assistencialismo alimentar.
O latifúndio ocupa, hoje, mais de 20 milhões de hectares com soja. No início dos anos 1990, o número beirava os 11,5 milhões. A cana-de-açúcar foi de 4,2 para 6,5 milhões de hectares no mesmo período. Arroz e feijão sofreram redução da área plantada. Hoje o brasileiro consome mais massas do que a tradicional combinação de arroz e feijão, de grande valor nutritivo.
Alvarez conclui: “Não faltam terras no Brasil, faltam políticas de distribuição delas. Não faltam empregos, falta vontade de enfrentar a terra improdutiva. Não falta comida, falta direcionar a produção para atender as necessidades básicas de nossa população”.
Fonte: www.mst.org.br
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Os rostos da tragédia
Quem se acostumara a ouvir sobre enchentes devastando extensas regiões da Ásia, sabia da destruição causada por aqueles furacões com nomes próprios a castigar os Estados Unidos, e dos sempre temidos e inesperados terremotos criando cenários apocalípticos com regularidade espantosa na China e no Haiti, também no Chile, Peru... e na China, passou a sentir na própria pele que o Brasil não ficaria imune em uma acelerada globalização dos desastres naturais.
Nos últimos doze meses sofremos a dor dos brasileiros que com suas lágrimas aumentaram o volume das águas despejadas sobre São Paulo, Santos, São Luiz do Paraitinga, Rio, Niterói, Florianópolis e agora, neste momento, novas dores causadas por fortes chuvas que atingem parte da região Nordeste desde o dia 18 de junho e que já provocaram a morte de 54 pessoas e fizeram mais de 150 mil pessoas deixarem suas casas. As duas últimas mortes confirmadas são de uma criança de 2 anos e um homem de 34, nas cidades de Recife e de Gameleira, ambas em Pernambuco.
Conta pesada
A Defesa Civil do Estado de Pernambuco registra, além das mortes, 12 cidades em estado de calamidade pública e outras 27 em estado de emergência. São nada menos que 26.966 desabrigados na terra do frevo e do maracatu. Mas estas ao menos conseguiram abrigo em casas de parentes e de amigos. O que não é o caso de outros 55.643 pernambucanos desalojados, a depender exclusivamente de alojamentos providos pelo poder público. Nesta tristíssima tragédia temos ainda 142 pontes danificadas devido às chuvas.
Da maior parte das cidades pernambucanas em calamidade nunca se havia ouvido falar. Entram em meu imaginário as cidades de Água Preta, Barra de Guabiraba, Barreiros, Correntes, Cortês, Jaqueira, Palmares, São Benedito do Sul, Vitória de Santo Antão, Primavera, Catende e Maraial.
Em Alagoas, as enxurradas dos últimos dias provocaram 34 mortes e deixaram 76 desaparecidos. Oitenta mil pessoas afetadas, das quais cerca de 75 mil tiveram que deixar suas casas. Desses, 47.897 estão desalojados e 26.618 desabrigados. Além disso, há ainda o registro de 135 pessoas que deixaram suas casas e não foram localizadas ainda.
Cito aqui apenas os números para atender a essa sede – sempre insaciável – por quantificar a infelicidade: quantas vidas perdidas, quantas pessoas desalojadas, sem casa e sem ter para onde ir, qual o tamanho dos prejuízos materiais. Leio na Folha de S.Paulo que...
Cito aqui apenas os números para atender a essa sede – sempre insaciável – por quantificar a infelicidade: quantas vidas perdidas, quantas pessoas desalojadas, sem casa e sem ter para onde ir, qual o tamanho dos prejuízos materiais. Leio na Folha de S.Paulo que...
"...apenas na semana passada, o estado de Alagoas chegou a divulgar um levantamento parcial em que apontava que os prejuízos causados pelas chuvas já totalizavam cerca de R$ 740 milhões. Desse valor, R$ 575 milhões corresponde aos prejuízos relacionados a danos em casas, que já totalizam mais de 19 mil destruídas."
E não ficamos por aí: teremos prejuízo de 137 milhões de reais apenas com a destruição de estradas e de pontes. O inventário da destruição é muito maior.
Da melhor qualidade
"Nenhuma fotografia e nenhum filme demonstra a gravidade da situação que a gente vê quando entra nas ruas da cidade", disse o presidente Lula em sua visita à Rio Largo. Mas, é fato, a imprensa tem meios extraordinários capazes de transportar para nossas casas e nosso cotidiano a tragédia que ora se abate sobre Pernambuco e Alagoas.
É graças à imprensa que proliferam doações de bens duráveis e de pecúnia para minorar a dor de nossos irmãos. Para isso há que se ter sensibilidade – mais que social apenas, humana.
E foi o que aconteceu quando meu bom amigo (e de tantos anos) Lunaé Parracho, morando em Salvador, partiu para Alagoas. Mestre que é na arte de captar imagens que vibram e sonham, premiado com trabalhos na National Geographic, Lunaé me enviou um lote de fotografias na terça-feira (29/6). Destaco quatro delas para que possamos nos acercar dos longos silêncios graves que aprisionam essas cidades.

Uma semana após as chuvas que atingiram o município de Murici, a menina Jaquelina Maria da Silva, 9 anos, segura duas bonecas que vieram com as doações em um dos galpões improvisados como abrigo à beira da estrada, onde vive há mais de uma semana com a mãe Maria da Silva, 33. "Ninguém sabe o que vai ser da gente", diz. Esta foto poderia ser chamada solidariedade das bonecas, quando não sabemos exatamente quem abraça quem.

Sebastião José da Silva, 79 anos, avô de Jaqueline, guarda silêncio... Sebastião é daqueles seres humanos feito com barro de primeiríssima qualidade. Já passou por muitas secas e muitas enchentes e quem o conhece deve saber que foi pensando nele que Euclides da Cunha escreveu no seu Os Sertões que "o nordestino é antes de tudo um forte".

Maria Helena, 30, carrega um vaso sanitário em União dos Palmares. Foi a única coisa intacta que encontrou nos escombros da casa onde morava com o marido e dois filhos. Esta imagem traz consigo um choque de realidade. Maria Helena tem tudo para ser uma dos milhares de beneficiários do Bolsa Família (que alguns chamam de Bolsa Esmola).
É do Brasil que não mais se contenta em ser aquele gigante (sempre) adormecido em berço esplêndido. Do mesmo Brasil que pensa seriamente em ocupar a quinta posição dentre as maiores economias do mundo.

Em uma fotografia vemos não apenas o que está para ser visto, mas também o que desejamos ver. Neste pequeno Francisco, Carlos, André, Antonio ou Jeová, é ele que me olha. Há um quê de dignidade, uma aura de pequeno herói, uma altivez insuspeitada não fosse a destruição trazida com as águas.
Se o Brasil conquistar na África do Sul seu hexacampeonato é este menino que deveria ser chamado para levantar a taça. Porque existem momentos em que precisávamos ser abraçados com os braços de todas as mães do mundo.
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/ Por Washington Araújo em 30/6/2010 - Fotos de Lunaé Parracho
terça-feira, 29 de junho de 2010
Moças do tempo e as mudanças climáticas
Vai chover, o tempo vai virar, o clima está mudando? Aparentemente banais, essas perguntas hoje resumem uma das mais graves aflições do planeta. E a nossa mídia não percebeu o seu papel conscientizador neste processo. Uma nuvem negra no horizonte pode representar algo mais tenebroso do que algumas gotas de chuva aqui embaixo.
O dilúvio que desabou há duas semanas sobre o Nordeste poderia ter sido menos desastroso se os alarmes fossem acionados com antecedência. Pouco adianta identificar a formação de um "evento meteorológico máximo" se não existe uma rede de comunicação confiável, capaz de levar esses avisos aos governantes e governados.
Os ingleses sabem quando pendurar o guarda-chuva no braço porque os seus jornais, rádios, televisões – e agora sua internet – jamais esquecem de avisá-los de que vai chover, ventar ou nevar. Ainda que levemente.
A mídia brasileira nunca prestou muita atenção à previsão do tempo, os editores a tratam como obrigação, chatice que só interessa aos idosos, imaginam que ninguém as lê, por isso não vale a pena caprichar, nem investir.
Nos telejornais em horário nobre, as lindas "moças do tempo" não conseguem explicar que a [temperatura] mínima em Curitiba nada tem a ver com a [temperatura] máxima em Tocantins. A culpa não é delas, é do jornalismo mundano e superficial que se adota no Brasil.
A obsessão pelos números – no caso a temperatura máxima e mínima – eliminou os dados analíticos e contextuais. O barômetro e o anemômetro são tão uteis ao leitor quanto a coluna de mercúrio do termômetro. Satélites e computadores oferecem elementos conjunturais que devem ser convertidos em informação sobre sensação térmica, duração, intensidade e periculosidade dos fenômenos.
Nada casual
Este Observatório já tratou deste serviço público repetidas vezes. Agora é obrigatório trazê-lo de volta diante da repetição e intensidade das tormentas – e porque as recentes plásticas operadas no Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo foram cosméticas e implacáveis com a meteorologia. Ambos encolheram ainda mais os quadrinhos do tempo da primeira página, esquecidos de que são o elo entre as mudanças climáticas e o cotidiano dos leitores.
No Estadão o quadro do tempo para o estado de São Paulo ou para o Brasil (na edição dita nacional) perdeu a sua porção essencial: desapareceu ou tornou-se irrelevante o pequeno texto que indicava a movimentação das massas de ar frio ou quente e demais elementos para uma razoável antecipação. A Folha (que vai muito na onda do Estadão) manteve a sua seção de meteorologia com dois mapas (estadual e nacional), desacompanhado de avaliações complementares.
O Globo oferece o mais completo conjunto de informações meteorológicas (dividas pelas zonas do Rio e regiões do estado, capitais do país e do mundo), mas é produzido por um empresa especializada.
Este é o problema: quantos jornais, rádios e emissoras de TV regionais dispõem de recursos e disposição para investir num serviço que os jornalões paulistas esnobam de forma tão flagrante?
O site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) fornece continuamente, online, um excelente acervo de informações meteorológicas, mas esta massa de informações precisa ser sintetizada e traduzida em linguagem corrente. Há redatores de meteorologia em nossas redações? Quantas escolas de jornalismo oferecem cursos de jornalismo científico?
"Vai chover?" deixou de ser umas pergunta casual. Pode ser a última antes que o seu carro ou sua casa sejam arrastados por uma inesperada enchente.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br; Por Alberto Dines em 29.06.2010
O dilúvio que desabou há duas semanas sobre o Nordeste poderia ter sido menos desastroso se os alarmes fossem acionados com antecedência. Pouco adianta identificar a formação de um "evento meteorológico máximo" se não existe uma rede de comunicação confiável, capaz de levar esses avisos aos governantes e governados.
Os ingleses sabem quando pendurar o guarda-chuva no braço porque os seus jornais, rádios, televisões – e agora sua internet – jamais esquecem de avisá-los de que vai chover, ventar ou nevar. Ainda que levemente.
A mídia brasileira nunca prestou muita atenção à previsão do tempo, os editores a tratam como obrigação, chatice que só interessa aos idosos, imaginam que ninguém as lê, por isso não vale a pena caprichar, nem investir.
Nos telejornais em horário nobre, as lindas "moças do tempo" não conseguem explicar que a [temperatura] mínima em Curitiba nada tem a ver com a [temperatura] máxima em Tocantins. A culpa não é delas, é do jornalismo mundano e superficial que se adota no Brasil.
A obsessão pelos números – no caso a temperatura máxima e mínima – eliminou os dados analíticos e contextuais. O barômetro e o anemômetro são tão uteis ao leitor quanto a coluna de mercúrio do termômetro. Satélites e computadores oferecem elementos conjunturais que devem ser convertidos em informação sobre sensação térmica, duração, intensidade e periculosidade dos fenômenos.
Nada casual
Este Observatório já tratou deste serviço público repetidas vezes. Agora é obrigatório trazê-lo de volta diante da repetição e intensidade das tormentas – e porque as recentes plásticas operadas no Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo foram cosméticas e implacáveis com a meteorologia. Ambos encolheram ainda mais os quadrinhos do tempo da primeira página, esquecidos de que são o elo entre as mudanças climáticas e o cotidiano dos leitores.
No Estadão o quadro do tempo para o estado de São Paulo ou para o Brasil (na edição dita nacional) perdeu a sua porção essencial: desapareceu ou tornou-se irrelevante o pequeno texto que indicava a movimentação das massas de ar frio ou quente e demais elementos para uma razoável antecipação. A Folha (que vai muito na onda do Estadão) manteve a sua seção de meteorologia com dois mapas (estadual e nacional), desacompanhado de avaliações complementares.
O Globo oferece o mais completo conjunto de informações meteorológicas (dividas pelas zonas do Rio e regiões do estado, capitais do país e do mundo), mas é produzido por um empresa especializada.
Este é o problema: quantos jornais, rádios e emissoras de TV regionais dispõem de recursos e disposição para investir num serviço que os jornalões paulistas esnobam de forma tão flagrante?
O site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) fornece continuamente, online, um excelente acervo de informações meteorológicas, mas esta massa de informações precisa ser sintetizada e traduzida em linguagem corrente. Há redatores de meteorologia em nossas redações? Quantas escolas de jornalismo oferecem cursos de jornalismo científico?
"Vai chover?" deixou de ser umas pergunta casual. Pode ser a última antes que o seu carro ou sua casa sejam arrastados por uma inesperada enchente.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br; Por Alberto Dines em 29.06.2010
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