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domingo, 24 de janeiro de 2010
Fórum Social Mundial vê crise global dos partidos
Neste ano, um dos pontos em discussão no evento será a possibilidade de constituição de agremiações partidárias globais devido ao caráter internacional de muitas questões ali tratadas. Mas o fórum continuará longe de virar partido.
A reunião no Rio Grande do Sul será um dos 27 encontros regionais programados pela organização do fórum para este ano. O grande evento internacional, que agora só acontece de dois em dois anos, está marcado para janeiro de 2011, em Dacar, no Senegal.
A edição de Porto Alegre, onde o fórum começou, dez anos atrás, se estenderá para municípios da região metropolitana da capital. São esperadas cerca de 20 mil pessoas. “O fórum não é um partido mundial, é um fórum”, diz Cândido Grzybowski, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), um dos veteranos do movimento iniciado em 2001. “A crise dos partidos preocupa quem está no fórum, mas não é o fórum que vai resolver isso.
Outro fundador, Sérgio Haddad, afirma que a relação entre fórum e partidos é tranquila. “Os partidos não propõem atividades”, explica. “Há um diálogo com eles, porque quem viabiliza propostas são governos, e os governos são produto dos partidos.”
Fonte: Agência Estado
Cerca de 3 mil devem participar de atividades em acampamento da juventude
As barracas começaram a ser montadas neste sábado (23), mas a organização do acampamento começou há mais tempo, com a difícil decisão de retirar o alojamento provisório do centro da capital, onde foi instalado nas edições anteriores do fórum.
O representante da coordenação Thomas Enlazador afirma que a prefeitura de Novo Hamburgo, na Grande Porto Alegre, ofereceu mais condições para a montagem do campo.
“A prefeitura daqui nos ajudou a trazer o acampamento para cá. Ofereceu tendas, apoio da Defesa Civil, articulação com os grupos de agroecologia, de agricultura familiar, facilitou o abastecimento de água e a coleta seletiva de lixo”, afirmou. “Não foi um apoio em dinheiro o determinante, mas em infraestrutura.”
Dividido em seis bairros, o acampamento da juventude tem praça de alimentação, três palcos para shows, telecentros com vários computadores, rádio comunitária, centro de produção multimídia, tendas para realização de oficinas culturais e debates, além de infraestrutura de banheiros, saúde, segurança e até uma “ecoescola” para crianças. A expectativa é de que 100 crianças - que acompanham os pais ou que sejam filhos de pessoas que trabalham no local - participem do evento.
“Oferecemos para as crianças prática de plantio, coleta de sementes, o trabalho com o barro, pisoteando o barro, vamos ter oficina de circo, de musicalidade... Cada um vem passar um pouquinho do que sabe para as crianças e as mães se revezam aqui”, explicou a responsável pela ecoescola, instalada no bairro Aldeia da Paz, Siele Pontault.
A estudante de história Kelly Fernandes, 21 anos, diz que os espaços criados no acampamento favorecem o contato entre as pessoas e permite que os participantes conheçam novas ideias. Por isso, trocou o apartamento em Porto Alegre, pólo dos principais debates do FSM, pelo acampamento em Nova Hamburgo. “Temos a possibilidade de fazer amizade com pessoas de outros países e conhecer, por meio de relatos, realidades [de vida] diferentes das nossas”, afirmou.
Para promover a convivência e a diversidade cultural, a organização do acampamento decidiu que o gerenciamento da rotina dos bairros será feito pelos próprios participantes, que devem definir as regras de cada campo, como a disposição das barracas, a limpeza do local e os horários para festas. No bairro Aldeia da Paz, onde está uma comunidade que defende valores sócio-ambientais, o consumo de álcool é proibido, por exemplo.
A participante da Bahia, a artesão Fábia Regina, 40 anos, elogia a ideia da autogestão. Mas cobra mais engajamento dos participantes, que somam cerca de mil pessoas nesse domingo (24). “Existe uma comunhão. Mas são poucas pessoas com uma mentalidade do cuidado. Se as pessoas se preocupassem em cuidar bem do espaço público, certamente, tudo ficaria melhor.”
Fonte: Agência Brasil
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
TRE ignora contestações e mantém concurso até segunda ordem
Diante da grande quantidade de questionamentos referentes à aplicação das provas do concurso público, no último domingo (17/01/2010), o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco vem prestar os seguintes esclarecimentos aos candidatos e aos demais interessados nesse processo seletivo:
1. Os problemas já detectados no concurso deste Tribunal ocorreram nos auditórios do Colégio Boa Viagem e da Faculdade Boa Viagem (R. Jean-Emile Favre), ressaltando que esses estabelecimentos de ensino não têm nenhuma responsabilidade pelos acontecimentos, uma vez que, apenas locaram as suas dependências à contratada para realização do concurso público.
2. A Fundação Conesul de Desenvolvimento, empresa contratada para a realização das provas, através de licitação pública (Pregão Eletrônico), identificou esses problemas durante o turno da manhã e, diante da superlotação verificada no auditório do Colégio Boa Viagem, admitiu de imediato que as provas para o cargo de Analista Judiciário - Área: Apoio Especializado - Especialidade: Análise de Sistemas poderiam ser anuladas.
3. Em reunião realizada neste Tribunal, em 18/01/2010, com representantes daquela fundação, foi confirmada por este TRE a anulação das provas para esse cargo, que deverão ser realizadas em data a ser divulgada posteriormente através de edital de convocação específico.
4. Nesse edital serão determinadas todas as regras para a participação dos candidatos nas referidas provas.
5. Este Tribunal continua apurando minuciosamente todas as denúncias de irregularidades apontadas nesse certame, e até a conclusão desses trabalhos o concurso mantém o seu trâmite normal.
6. Assim, ficam mantidos todos os prazos fixados em edital, especialmente os pertinentes aos recursos quanto à aplicação das provas e gabaritos preliminares das provas objetivas, que deverão ser feitos exclusivamente através do site www.conesul.org , conforme previsão no item 13-DOS RECURSOS, do Edital nº 1, que regula o concurso para o provimento de vagas neste Tribunal.
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Google briga com a China mas o tiro pode sair pela culatra
No dia 12 de janeiro, a direção da Google anunciou que estava estudando a possibilidade de fechar a sua subsidiária na China sob a alegação de que técnicos chineses teriam entrado ilegalmente nos bancos de dados da empresa norte-americana para espionar o correio eletrônico de membros da oposição clandestina ao governo comunista de Pequim.
Tudo indicava que a empresa que domina o mercado mundial de buscas na Web estava tentando ganhar pontos na opinião pública norte-americana, depois de ser acusada de oportunismo político ao negociar com o governo da China uma fatia no mercado chinês, dominado pelo sistema local de buscas, chamado Baidu.
Mas não demorou muito a surgirem especulações de que a invasão do banco de dados da Google era bem mais nebulosa do que parecia à primeira vista. Primeiro, surgiram versões de que a ação só teria sido possível porque os invasores descobriram uma falha grave no navegador Explorer e a usaram para entrar nos computadores da Google.
A falha no Explorer foi admitida oficialmente pela fabricante do software, a Microsoft, a principal concorrente da Google. Mas o reconhecimento, em vez de acalmar, agitou ainda mais o mercado mundial da internet. O jornal The New York Times divulgou que a Microsoft sabia da falha há tempos, mas não pôs nenhum aviso na internet, temendo perder ainda mais clientes. A insegurança foi tanta que os governos da Alemanha e da França decidiram imediatamente banir o Explorer dos computadores usados em repartições públicas.
No auge da confusão na Europa, os chineses saíram com um comunicado no qual procuravam desviar a atenção da questão dos direitos humanos e da invasão de computadores alheios, colocando a iniciativa da Google num contexto puramente comercial. O governo de Pequim estaria disposto a pagar para ver a aposta da Google, baseado no fato de que o mercado chinês é grande e atrativo demais para ser deixado de lado.
Os chineses estariam também interessados num tudo ou nada com a Google para ampliar o mercado do sistema de buscas Baidu, criado em 2000, por um engenheiro chinês que estudou nos Estados Unidos. O Baidu, onde a Google já teve uma participação financeira, tem hoje sete mil empregados e controla 55% das buscas na internet chinesa, deixando a sua ex-parceira num distante segundo lugar, com menos de 20% do mercado.
O caso Google pode marcar uma reviravolta nas relações dos chineses com empresas estrangeiras, em particular com as norte-americanas. Eles estariam endurecendo o jogo explorando as debilidades das concorrentes externas. Pode comprovar também um fato pouco mencionado, que é a redução cada vez maior da influência norte-americana na internet mundial.
O NYT publicou esta semana um artigo mostrando como os países europeus estão adotando a políticas próprias em matéria de regulamentação da internet, contrariando muitas vezes posições que os norte-americanos consideram críticas, como é a questão dos direitos autorais.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
TRE confirma receber denúncias de irregularidades em todos os cargos
Os concurseiros que participaram do processo seletivo para os cargos de analista e técnico judiciário do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), no último domingo (17), podem ter uma supresa a qualquer momento. Isto porque a comissão organizadora do concurso o TRE tem recebido inúmeras denúncias de irregularidades referentes ao exame em geral e não apenas para o cargo de analista de sistemas - categoria de analista judiciário, que teve as provas canceladas ontem.
Sendo assim, os 85.721 inscritos precisam ficar atentos para o risco de ter todo o concurso anulado. O presidente da comissão que está avaliando o caso, Marco Antônio Capella, informou que todas as denúncias estão sendo criteriosamente analisadas e investigadas. Ele revelou ainda que, caso as irregularidades sejam comporvadas, o concurso pode sim ser cancelado. "O importante é não prejudicar todos os candidatos que participaram da avaliação", declara.
A empresa responsável pela organização das provas, Fundação Conesul de Desenvolvimento, informou que não está ciente das novas denúncias de irregularidades. Quando perguntado sobre uma possível troca de empresa, Marco Antônio, da comissão organizadora do concurso, revelou que esse não é um processo simples. Segundo ele, a proposta ainda não está em pauta mas que, se for necessário, será feito. Por enquanto, a única certeza é de que a seleção para o cargo de analista de sistemas foi suspensa e aguarda a divulgação da nova data da prova.
Candidatos com provas anuladas não sabem quando terão outra chance
Do JC Online Marília Banholzer
Depois de confusão e denúncias de irregularidades na realização das provas do concurso público do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) desse domingo (17), os 1.987 inscritos para as vagas analista de sistemas, uma das categorias do cargo de analista judiciário, terão que aguardar a divulgação de um novo edital para saber qual será a nova data do exame. Aqueles que faltaram ou não assinaram a ata de presença precisam aguardar a divulgação do documento para saber se terão direito de refazer a avaliação, que foi anulada nesta segunda-feira (18).
O cancelamento das provas aconteceu após uma reunião entre representantes da Fundação Conesul de Desenvolvimento- órgão responsável pela realização das avaliações -, o presidente da comissão organizadora do concurso, Marco Antônio Capella, e o presidente do TRE, o desembargador Roberto Ferreira Lins. O encontro foi realizado na sede do TRE, bairro das Graças, no Recife. A anulação dos exames se restinge ao cargo de analista de sistemas.
O cancelamento de apenas uma parte do concurso deixou o candidato Fernando Coelho revoltado. "Todo concurso deveria ter sido anulado por causa da falta de organização. A sensação é de ser lesado, de que você foi passado para trás. Existem regras e elas não foram cumpridas" desabafa. A opinião dele é reforçada pela também candidata Karina Carvalho. "É um verdadeiro absurdo, o concurso inteiro foi manchado", reclama.
LEIA MAIS:» Novas denúncias colocam seriedade de concurso à prova
O desembargador Roberto Ferreira informou que a responsabilidade pela prova e pelos atropelos na realização da mesma é de inteira responsabilidade da empresa contratada. Em reunião com a imprensa, o gerente de concursos Nelson Guarda, representante da Conesul, afirmou que os candidatos que faltaram ao exame não terão o direito de refazer a avaliação. Mas, segundo o presidente da comissão organizadora do concurso, essa questão ainda será analisada pelo TRE, já que durante a confusão ocorrida no momento da prova muitos candidatos não assinaram as atas de presença.
Ainda de acordo com o representante da empresa Conesul, as provas realizadas no período da tarde para o cargo de técnico judiciário não serão canceladas pois não houve denúncias comprovadas de fraude nessas avaliações. Caso haja reclamações envolvendo tais provas, as informações serão apuradas em conjunto pelo TRE e Conesul para que seja analisada a possibilidade de suspensão.
Outra divergência de opiniões entre TRE e Conesul é sobre o local das provas que serão refeitas. Para o órgão público os locais devem ser mudados. Já a Conesul alega que os pontos de realização dos exames permanecem. A justificativa seria o fato de que no período da tarde as avaliações foram realizadas sem problemas.
Sobre aqueles candidatos que precisaram viajar até os locais de prova, a Conesul afirma que irá avaliar a possibilidade de ressarcimento dos gastos. Porém, no dia da avaliação, uma representante da empresa que estava responsável pelo prédio do Colégio Boa Viagem, Zona Sul do Recife, teria assinado um documento garantindo que os candidatos receberiam o dinheiro de volta. O compromisso teria sido firmado após seis candidatos e Sabrina Sbardeloto, identificada como gerente de concursos da Conesul, assinarem uma ata.
A comissão organizadora do concurso reforça o pedido de que os candidatos devem denunciar as falhas encontradas durante a realização das provas, principalmente as que dizem respeito ao cargo de técnico judiciário, pois, só assim poderão ser tomadas as medidas necessárias.
Os candidatos que quiserem fazer denúncias devem dirigir-se ao protocolo do TRE, no prédio sede do órgão, que na Av. Agamenon Magalhães, nº 1160, nas Graças, das 13h às 19h, de segunda a sexta-feira portando um comprovante de participação no concurso, ou através do link fale conosco no site do órgão. Informações pelo telefone 4009-9200. Aqueles que desejarem fazer uma reclamação formal devem procurar o Ministério Públio Federal, localizado na Av. Gov. Agamenon Magalhães, nº 1800, Espinheiro, no horário das 12h às 19h, segunda a sexta-feira.
CONFUSÃO - Na manhã desse domingo (17), candidatos que fariam as provas para o concurso público do TRE no Colégio Boa Viagem e na Faculdade Boa Viagem denunciaram desorganização, atrasos e violações dos pacotes de provas. Por causa disso centenas de pessoas se negaram a fazer a avaliação.
CONCURSO - O concurso do TRE teve 85.721 inscritos. Pela manhã, foram aplicadas as avaliações para analista judiciário e, pela tarde, para o cargo de técnico judiciário. Ao todo, foram 60 locais de prova.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
UFPE oferece dez vagas para mestrado em enfermagem
Publicado em 18.01.2010, às 16h17Do JC Online
Estão abertas até o dia 11 de fevereiro o período de inscrições para o processo seletivo do curso de mestrado em enfermagem. Serão disponibilizadas dez vagas para as seguintes linhas de pesquisa: saúde da família nos cenários do cuidado de enfermagem e enfermagem e educação em saúde nos diferentes cenários do cuidar.
Podem se inscrever profissionais formados em enfermagem, pedagogia, psicologia, serviço social ou cursos das ciências da saúde. As graduações devem ser devidamente reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC).
A seleção para o mestrado será feita em quatro etapas: prova de inglês, prova de conhecimento (prova escrita), defesa do pré-projeto e avaliação do Curriculum Vitae.
Mais informações sobre calendário, documentos para inscrição e etapas da seleção estão disponíveis no edital.
TRE decide que apenas os candidatos ao cargo de analista judiciário farão novas provas
Do JC Online
A diretoria do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) decidiu que apenas os candidatos ao cargo de analista judiciário, que fizeram as avaliações pela manhã nesse domingo (17), farão novas provas. A decisão foi tomada durante uma reunião realizada na sede do órgão nesta segunda-feira (18).
CONCURSO - O concurso do TRE teve 85.721 inscritos. Ao todo, foram 60 locais de prova.
Mais informações em instantes
Confusão e denúncias de irregularidades marcam o dia de provas do TRE
Do JC Online
Atualizada à 0h56, de 18/1/10
Confusão e denúncias de irregularidades marcaram o dia de provas do concurso do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE) neste domingo (17). Candidatos insatisfeitos denunciaram atrasos nas provas, falta de fiscalização com relação aos celulares e até violação de avaliações. Procurada pelo JC Online, a diretora geral em exercício do TRE, Marília Berquó, informou que o órgão só irá se pronunciar após uma reunião que será realizada com a presidência às 10h desta segunda-feira (18) na sede do órgão.
Pela manhã, no Colégio Boa Viagem, Zona Sul do Recife, os candidatos foram colocados no auditório D da escola e a avaliação só foi distribuída às 9h, quando o horário previsto era 8h. "A prova foi distribuída às 9h mas não tinham autorizado para o início. Teve gente tirando foto da prova. Eu mesmo saí do colégio com o cartão de respostas no bolso", explicou um dos inscritos que quis se identificar apenas como Célio.
Um outro candidato, Fernando Coelho, que fez prova pela manhã para o cargo de analista judiciário e à tarde para técnico judiciário, as duas na Faculdade Boa Viagem, Bairro do Ipsep, Zona Sul do Recife, informou que não viu o pacote dos exames ser aberto na frente dos inscritos. "Quando vi já estava aberto. Muita gente entrou com celular, com relógios, apostilas, bolsas, sem assinar a ata, não tinha lugar marcado", completa.
» Documento diz que candidatos de concurso do TRE não terão prejuízo
Pela tarde, a confusão continuou, ainda segundo Fernando houve até violação de exames. De acordo com o candidato, no gabarito, as pessoas tinham que assinalar o tipo de prova se era A, B, C ou D, porém essa orientação não constava na instrução das avaliações e nem os fiscais informaram. "Quando foi na parte da tarde, o pessoal avisou. Isso criou aquele tumulto. Todo mundo foi para coordenação".
Ele contou que com medo de serem desclassificados, após as provas, os inscritos que tinham feito os exames pela manhã e também optaram para fazer o de técnico judiciário à tarde foram até a coordenação da faculdade para tentar assinalar o gabarito. No local, o candidato informou que os pacotes foram abertos.
No vídeo abaixo, enviado por um inscrito, é possível ver ao menos um fiscal abrindo uma caixa e pegando um saco onde supostamente estariam as provas para que, à tarde, alunos que fizeram as avaliações pela manhã e não marcaram o tipo de exame no cartão de respostas pudessem fazer isso. É possível, inclusive, ouvir uma candidata ao celular dizendo que aguarda a oportunidade de marcar o seu cartão.
Internautas também denunciaram ao JC Online que uma prova amassada foi encontrada dentro do banheiro feminino do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Federal de Pernambuco às 16h10, quando, segundo o mesmo internauta, a avaliação só poderia ser levada às 17h45.
A candidata Lorena Rodrigues, que é de Salvador e veio para Recife só para fazer o concurso, também está insatisfeita e pretende ir nesta segunda-feira (18) ao Ministério Público Federal junto com mais dez pessoas fazer uma denúncia contra a Conesul, organizadora do concurso, e o TRE. "Eu sou uma pessoa que estou estudando há um ano e meio só para concurso do TRE. Dá uma sensação de frustração, você abre mão do tempo de lazer por um sonho seu", diz. Ela também conta que, pela manhã, na sala em que ela estava, o celular de uma candidata tocou durante a prova, um fiscal foi chamado mas apenas foi feita uma anotação na ata.
CONCURSO - O concurso do TRE teve 85.721 inscritos. Pela manhã, foram aplicadas as avaliações para analista judiciário e pela tarde para o cargo de técnico judiciário. Ao todo, foram 60 locais de prova.
Fonte: www.jconline.com.br
Loucos por uma crise
Não era nada, apenas problemas operacionais típicos de um país mergulhado no caos, sem profissionais e equipamentos para as tarefas essenciais, sem autoridades para referendar critérios de administração de passageiros em trânsito.
A chegada constante de aviões com suprimentos, grupos de voluntários e medicamentos, de várias partes do mundo, sem coordenação na origem, agravava a situação no aeroporto semidestruído.
Segundo os jornais, um avião da Força Aérea Brasileira que levava um hospital de campanha, com médicos e remédios, demorou 24 horas para obter permissão de aterrissagem.
O episódio, somado ao fato de as tropas americanas terem instalado um perímetro de segurança sob seu controle em torno do aeroporto, levou alguns comentaristas apressados – e loucos por mais uma crise – a interpretar a operação corriqueira como um sinal de que as tropas brasileiras haviam sido desbancadas.
Pau para toda obra
No fim de semana, jornais brasileiros especulavam que os Estados Unidos pretendem enviar 10 mil soldados e retirar do Brasil o comando das forças da ONU.
Na sexta-feira (15/1), alguns sites informativos já haviam esclarecido que a ONU considerava importante reforçar a presença militar em Porto Príncipe, por causa de violências praticadas nas favelas da cidade por gangues de criminosos que haviam fugido de prisões destruídas pelo terremoto.
Já havia sido noticiado, então, que a Minustah, força de paz internacional, continuaria sendo comandada por militares brasileiros, e que os americanos ajudariam a organizar a ajuda humanitária e ofereceriam equipamentos para restabelecer condições mínimas de funcionamento da infraestrutura do país.
No entanto, quem ouviu programas jornalísticos de rádio no fim de semana ainda era submetido às especulações dos palpiteiros de sempre, plantonistas do telefone celular, que ficam permanentemente à disposição da imprensa para dar pitacos sobre qualquer coisa.
Do Programa Nacional de Direitos Humanos ao desempenho da economia, da crise no Haiti à questão climática, nada escapa a esses urubus oportunistas, especializados em fazer as coisas parecerem piores do que já são.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br (Por Luciano Martins Costa em 18/1/2010 Comentário para o programa radiofônico do OI, 18/1/2010)
domingo, 17 de janeiro de 2010
Extremo sul da Argentina registra terremoto de 6,3 graus
“O movimento não foi percebido na cidade, não há vítimas nem danos materiais”, informou o diretor da coordenação de Defesa Civil da província de Terra de Fogo, Hector Varela. “Não se percebeu tremor algum em nenhum lugar da província." O epicentro do terremoto aconteceu no mar, a 354 quilômetros de Ushuaia, a uma profundidade de 21 quilômetros.
Fonte: Agência Brasil
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
O jornalista quando chora
Miriam Leitão chorou. Não foi voz embargada, foi choro mesmo. Por acaso havia outros jornalistas na sala: todos choraram quando a veterana repórter deixou de lado sua cruzada ambientalista e suas análises sobre a economia para falar sobre Zilda Arns na edição de quarta-feira (13/1) do Repórter CBN (12h30).
Tirar lágrimas da audiência nem sempre é um recurso jornalisticamente correto. Sobretudo em trabalhos editados, parece truque. Mas comover-se ao vivo, diante do público, torna a profissão do jornalista mais humana, menos burocrática. Neutraliza os rancores que ela própria produz, irradia solidariedade.
Miriam Leitão chorou quando falou em solidariedade – Zilda Arns trouxe a noção de solidariedade para a vida pública brasileira. (Alberto Dines)
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Zilda Arns: chamado que salvou vidas
José Maria Mayrink
Reproduzido do Estado de S.Paulo, 14/1/2010; intertítulos do OI
Se os homens fecham as janelas, Deus abre uma porta – assim pensou a médica Zilda Arns Neumann, depois de conversar com o cardeal d. Paulo Evaristo Arns, um de seus 12 irmãos, que lhe telefonara para perguntar se aceitava empreender uma obra capaz de salvar milhões de crianças. Pediatra e sanitarista, viúva e mãe de cinco filhos, ela estava encostada atrás de uma mesa da burocracia da Secretaria da Saúde do Paraná, após 23 anos de trabalho – os últimos 13 como diretora de Saúde Materno-Infantil do Estado, em Curitiba.
D. Paulo, então arcebispo de São Paulo, ligou para dar um recado do secretário executivo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), James Grant, com quem acabara de se encontrar em Genebra, na Suíça. "Por que a Igreja Católica, que tem tanta influência nas camadas mais pobres da população, não faz uma campanha contra a desnutrição?", propôs Grant, dispondo-se a financiar a obra se d. Paulo quisesse começar por sua arquidiocese. O cardeal argumentou que não teria tempo para tal empreitada, mas sugeriu o nome de Zilda.
"Tenho uma irmã que é especialista na área e pode fazer isso", respondeu o cardeal, e imediatamente levou a proposta adiante. "Não tenho grande mérito, a não ser o de aceitar a ideia", disse d. Paulo 20 anos depois, como se sua participação tivesse parado aí. Não parou. Foi ele também quem indicou o nome do então arcebispo de Londrina, d. Geraldo Majella Agnelo, para ajudar na organização de um projeto para reduzir a mortalidade infantil que se transformaria no ano seguinte, setembro de 1983, na Pastoral da Criança. Foi um trabalho árduo que Zilda iniciou em casa, numa noite de vigília e oração.
Começou conversando com os filhos na cozinha, onde se reunia com eles antes de irem dormir, para tomar uma vitamina e contar as coisas do dia. "D. Paulo me telefonou e a mãe vai preparar hoje à noite um projeto que vai salvar milhões de crianças no Brasil e no mundo", disse Zilda, explicando o que pretendia fazer. Tomou um café preto para espantar o sono, pediu que Deus a ajudasse – "Vinde, Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis" – e se pôs a meditar sobre aquele trecho do Evangelho que narra o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes. "Se Jesus mandou que seus discípulos dessem de comer, eles mesmos, ao povo que estava com fome, achei que, em vez de ficar dependendo do governo, nossas famílias deviam se organizar para cuidar de seus filhos."
Escolheu-se então o município de Florestópolis – 14.700 habitantes, 73% deles trabalhadores boias-frias – para a implantação do projeto. Situado a 80 quilômetros de Londrina, arquidiocese de d. Geraldo Agnelo, que poderia acompanhar tudo de perto, era o campo ideal. "Florestópolis era o fim do mundo, tinha o maior índice de mortalidade infantil do Estado e vivia sob a influência de uma usina de açúcar de Porecatu que pagava os boias-frias com vales que eles tinham de gastar no mercado da fazenda, comprando coisas de que não precisavam", lembra d. Geraldo Agnelo, atualmente cardeal primaz de Salvador e ex-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Três freiras
Quando Zilda voltou a Florestópolis, um mês após o lançamento do projeto, os líderes envolvidos, todos voluntários, já eram 76, quase todos funcionários públicos, principalmente professoras.
"Era muita gente, mas não dispensei ninguém, para não desanimar", disse a fundadora da Pastoral da Criança, que então dividiu os voluntários em cinco grupos, cada um encarregado de uma ação básica. Com a ajuda de técnicos da Secretaria da Saúde, a pediatra e sanitarista distribuiu apostilas para orientação dos primeiros coordenadores.
As coisas iam caminhando bem no segundo semestre de 1983, quando a Igreja decidiu transformar em Pastoral da Criança o projeto de redução da mortalidade infantil. O exemplo de Florestópolis suscitou iniciativas semelhantes em São Paulo – onde o então bispo auxiliar d. Luciano Mendes de Almeida repetiu a experiência na região episcopal do bairro do Belém – e, logo em seguida, no Rio Grande do Sul. A nomeação de d. Geraldo Majella Agnelo para a Comissão Episcopal de Pastoral (CEP) facilitou o processo, pois ele viajava com frequência para Brasília, onde tinha contato não só com outros bispos da CNBB, mas também com a direção do Unicef.
Antes de se mudar para a sede atual, a Pastoral da Criança funcionava na casa da dra. Zilda, que tinha ali também seu consultório particular de pediatria. Meio apertado, mas deu para conciliar enquanto os colaboradores não eram tantos e não havia tanto material como hoje. Como a médica trabalhava também no serviço público, as coisas foram ficando cada dia mais complicadas, pois não havia tempo nem espaço para tudo.
Os pobres, principalmente os pobres, recorriam sempre a ela – o que significava 18 consultas de graça em cada 20. A situação ficou ainda mais difícil quando a coordenadora da Pastoral da Criança passou a viajar com mais frequência, com ausências de semanas seguidas. "Fico pouco em Curitiba, apenas alguns dias por mês."
Nelson Arns Neumann, que também é médico pediatra e assumiu a função de coordenador nacional adjunto, substituía a mãe durante suas constantes viagens. Mergulhou de cabeça no programa, cujas atividades vem acompanhando desde a fundação – ele e os outros irmãos. Seguiram tudo de perto, apoiando e dando palpites - o voluntariado em família.
Eram adolescentes e crianças, em 1983, quando a dra. Zilda aproveitou a conversa, naquela noite em que fazia uma vitamina para eles na cozinha, para falar do telefonema de d. Paulo, o tio cardeal. Agora, Rubens é veterinário, Heloísa é psicóloga e Rogério é administrador de empresas. Sílvia, que também era administradora de empresas, morreu num acidente de carro em 2003 e deixou um filho, de 3 anos, que foi morar com a avó.
A família tem uma chácara, a 20 minutos do centro de Curitiba, que mãe e filhos compartilhavam, cada um em sua casa, como faziam os Arns em Forquilhinha, na colônia de imigrantes alemães de Santa Catarina, onde Zilda e seus irmãos – eram sete mulheres e seis homens – nasceram. Além de d. Paulo, havia mais um frade na família, frei Crisóstomo, franciscano como o cardeal. Três das mulheres se tornaram freiras.
Clima de guerra
Zilda queria ser médica e missionária, mas acabou se casando. Perdeu o marido, Aloysio, que morreu afogado, aos 46 anos, quando tentava salvar das ondas uma adolescente que o casal tinha sob sua tutela. A moça se salvou. Os Arns moravam num colônia alemã de Forquilhinha, em Santa Catarina, mas costumavam passar férias no litoral do Paraná, onde ocorreu o acidente.
Durante a Segunda Guerra, Zilda e seus irmãos acordavam de madrugada para ajudar a mãe a queimar livros e revistas escritos em alemão, porque tinham medo de seu pai ser preso. Uma noite, enterraram um gramofone e uma coleção de cem discos no meio do mato.
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O Nobel da Paz brasileiro
Eliane Cantanhêde
Reproduzido da Folha de S.Paulo, 14/1/2010; intertítulo do OI
Zilda Arns foi o que todas nós, ou muitas de nós, gostaríamos de ser ou de ter sido: uma mulher de infinita dedicação às suas crianças, à sua gente, ao seu país e ao seu mundo.
Ela morreu como viveu: chacoalhando em desconfortáveis jipes militares, aos 75 anos, numa guerra contra a pobreza, a sujeira, a ignorância. A favor da vida. Morreu para que tantos outros vivessem no pequeno Haiti, o mais miserável país da América Latina, quase um encrave da África pobre na região.
Médica, especializada em educação física e pediatria, coordenadora da Pastoral da Criança da CNBB, Zilda foi indicada três vezes pelo Brasil para o Prêmio Nobel da Paz.
Merecia, e seria uma honra para cada um de nós. Mas ela não era só brasileira, era do mundo.
Personagem única
Suas soluções simples, baratas e enormemente eficazes cruzaram fronteiras e foram salvar vidas em 15, 20 países pobres da América Latina e da África. Coisas assim como lavar as mãos, tomar banho, aproveitar os alimentos até o último detalhe. Quem não leu sobre macerar cascas de ovos para adicionar cálcio à alimentação de pobres? Quem não sabe da mistura caseira para salvar crianças de desnutrição e desidratação?
Sua história e seus ideais se confundem com os de um ícone mundial, que foi Madre Tereza de Calcutá. Mas Zilda não era freira, não usava hábito e dedicou sua vida à vida alheia, mantendo-se bonita, vaidosa, imensamente feminina. Não interpretou um papel. Era apenas ela mesma em ação.
Se Zilda Arns tivesse morrido de uma doença qualquer, de um acidente qualquer, mesmo assim sua morte teria imensa repercussão e geraria uma tristeza nacional. Quis o destino, ou a sua saga, que ela morresse no Haiti, num terremoto.
Torna-se, portanto, uma personagem única, cercado por símbolos e exemplos que deixam marcas, rastros. Zilda, definitivamente, não passou pela vida em vão.
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Zilda Arns, a mãe do Brasil
Frei Betto
Reproduzido da seção "Tendências/Debates" da Folha de S.Paulo, 14/1/2010; intertítulos do OI
Pode-se repetir que ninguém é insubstituível, mas a dra. Zilda Arns, vítima do terremoto que arruinou o Haiti, era, sim, uma pessoa imprescindível. Nela mostrava-se imperceptível a distância entre intenções e ações. Formada em medicina e movida por profundo espírito evangélico -era irmã do cardeal dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo-, fundou a Pastoral da Criança, alarmada com o alto índice de mortalidade infantil no Brasil.
Em iniciativas de voluntariado podem-se mapear dois tipos de pessoas: as que, primeiro, agem, põem o bloco na rua e depois buscam os recursos, e as que se enredam no cipoal das fontes financiadoras e jamais passam da utopia à topia.
Zilda Arns arregaçou as mangas e, inspirada na pedagogia de Paulo Freire, encontrou, primeiro, recursos humanos capazes de mobilizar milhares de pessoas em prol da drástica redução da mortalidade infantil: mães e pais das crianças de 0 a seis anos atendidas pela pastoral transformados em agentes multiplicadores.
Ela, sim, fez o milagre da multiplicação dos pães, ou seja, da vida. Aonde chega a Pastoral da Criança, o índice de mortalidade infantil cai, no primeiro ano, no mínimo 20%. Seu método de atenção às gestantes pobres e às crianças desnutridas tornou-se paradigma mundial, adotado hoje em vários países da América Latina e da África. Por essa razão, ela estava no Haiti, onde pagou com a morte sua dedicação em salvar vidas.
Sem temor
Trabalhamos juntos no Fome Zero.
No lançamento do programa, em 2003, ela discordou de exigir dos beneficiários comprovantes de gastos em alimentos, de modo a garantir que o dinheiro não se destinasse a outras compras.
Oded Grajew e eu a apoiamos: ressaltamos que apresentar comprovantes não era relevante, valia como forma de verificar resultados. Haveria que confiar na palavra dos beneficiários.
Em março de 2004, no momento em que o governo trocava o Fome Zero pelo Bolsa Família, ela me convocou a Curitiba, sede da Pastoral da Criança. Em reunião com José Tubino, da FAO, e dom Aloysio Penna, arcebispo de Botucatu (SP), que representava a CNBB, debatemos as mudanças na área social do governo. Expus as tensões internas na área social, sobretudo a decisão de acabar com os comitês gestores, pelos quais a sociedade civil atuava na gestão pública.
Zilda Arns temia que o Bolsa Família priorizasse a mera transferência de renda, submetendo-se à orientação que propõe tratar a pobreza com políticas compensatórias, sem tocar nas estruturas que promovem e asseguram a desigualdade social.
Acreditava que as políticas sociais do governo só teriam êxito consolidado se combinassem políticas de transferência de renda e mudanças estruturantes, ações emergenciais e educativas, como qualificação profissional.
Dias após a reunião, ela publicou, neste espaço da Folha, o artigo "Fôlego para o Fome Zero", no qual frisava que a política social "não deve estar sujeita à política econômica. É hora de mudar esse paradigma. É a política econômica que deve estar sujeita ao combate à fome e à miséria".
E alertava: "Erradicar os comitês gestores seria um grave erro, por destruir uma capilaridade popular que fortalece o empoderamento da sociedade civil; (...) por reforçar o poder de prefeitos e vereadores que nem sempre primam pela ética e pela lisura no trato com os recursos públicos. O governo não deve temer a parceria da sociedade civil, representada pelos comitês gestores".
Título eterno
O apelo da mãe da Pastoral da Criança não foi ouvido. Os comitês gestores foram erradicados e, assim, a participação da sociedade civil nas políticas sociais do governo. Apesar de tudo, o ministro Patrus Ananias logrou aprimorar o Bolsa Família e o índice de redução da miséria absoluta no país, conforme dados recentes do Ipea. Falta encontrar a porta de saída aos beneficiários, de modo a produzirem a própria renda.
Zilda Arns nos deixa, de herança, o exemplo de que é possível mudar o perfil de uma sociedade com ações comunitárias, voluntárias, da sociedade civil, ainda que o poder público e a iniciativa privada permaneçam indiferentes ou adotem simulacros de responsabilidade social.
Se milhares de jovens e adultos brasileiros sobreviveram às condições de pobreza em que nasceram, devem isso em especial à dra. Zilda Arns, que merece, sem exagero, o título perene de mãe da pátria.
[Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, 65, frade dominicano, é assessor de movimentos sociais e escritor, autor de A Mosca Azul - Reflexão sobre o Poder (Rocco), entre outros livros. Foi assessor especial da Presidência da República (2003-2004)]
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
ANJ primeiro atira, depois pergunta quem vem lá
O estado de espírito recomendável para a imprensa – grande ou pequena – é o de alerta. Não é por acaso que um dos primeiros periódicos editados no Brasil (1822) ostentava o título de
Sentinela da Liberdade. Na verdade o bravo baiano Cipriano Barata editou diversas Sentinelas, à medida que eram fechadas ou ele trancafiado.
Vigilância é uma coisa; dedo no gatilho, outra.
Nossa imprensa não se tocou com a Conferência Nacional de Direitos Humanos, realizada em dezembro de 2008, que desenhou o arcabouço do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos. E quando este foi lançado, em 21 de dezembro de 2009, os porteiros (e porteiras) das redações estavam mais interessados na aparência de Dilma Rousseff (que aparecia pela primeira vez sem peruca) do que no teor do programa.
Trabalho escravo
As primeiras matérias pretendiam apenas exacerbar as naturais divergências entre a área militar encabeçada pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, e as entidades e militantes dos direitos humanos em torno da chamada Comissão da Verdade – para apurar violências e crimes cometidos durante a ditadura. Na verdade não se tratava de criar a comissão, mas um grupo de trabalho para propor ao Legislativo a sua constituição. Aliás o nome é rigorosamente impróprio: não existe verdade, existe a busca da verdade. Jornais deveriam estar atentos a estas sutilezas.
De repente, irrompem a galope as corporações empresariais da mídia comandadas pela intrépida Associação Nacional de Jornais (ANJ) e subvertem um debate sério e grave que a sociedade brasileira finalmente parecia disposta a encarar. A Joana D´Arc das liberdades considera mais importante pinçar do 3º PNDH sugestões e indicações de propostas que vinculam conteúdos da mídia (eletrônica) a violações de direitos humanos do que punir torturadores. Passa-se uma borracha nos Anos de Chumbo e cria-se um factóide preventivo.
A
edição do Estado de S.Paulo de sábado (9/1) é exemplo de uma cruzada enganosa empreendida principalmente pelos jornalões paulistanos. "Plano de Direitos Humanos provoca onda de protestos", berrou a manchete da capa. Na página interna (A-4): "Igreja e até ministro de Lula reagem ao programa de Direitos Humanos".
É capciosa a laranjada que procura justificar o título: a igreja católica tem sido intransigente na apuração dos crimes cometidos pelos órgãos de segurança durante o regime militar. Discorda do 3º PNDH numa das sugestões secundárias: banir símbolos religiosos do interior de instalações públicas para garantir a laicidade e isonomia do Estado (tal como já aconteceu na Espanha, país mais católico do que o Brasil).
O ministro que contestou o programa foi o da Agricultura, Reinhold Stephanes, que, como todos sabem, esqueceu a agricultura como um processo multifacetado e multifuncional para tornar-se porta-voz da ala dos ruralistas. Esqueceu que trabalho escravo é violação de direitos humanos.
Primeiro indício
Os repórteres não têm culpa, quando a ANJ sopra as trombetas vale tudo: a matéria do Estadão (que naquela data completava 162 dias sob censura judicial) é um paradigma de manipulação. O mais importante e mais original está escondido e mutilado no pé da página: uma entrevista do cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, autoridade mundial e relator da ONU, que relata a história dos três planos nacionais de direitos humanos desde 1996, no primeiro mandato de FHC, todos igualmente amplos e multidisciplinares, coerentes com as concepções internacionais.
Título: "Especialista defende abrangência do plano e diz que Lula e FHC acertaram" (ver aqui, para assinantes).
Quando jornalismo era profissão valorizava-se o que era novo. Agora os manuais de jornalismo são redigidos pelos luminares da ANJ.
Quem teve a ousadia de vincular baixaria televisiva com violação de direitos humanos foi o jurista José Gregori, então Secretário Nacional de Direitos Humanos. Promovido a ministro da Justiça, Gregori manteve a rigorosa postura. As empresas de TV tentaram espernear, mas calaram-se: o governo estava estribado no artigo 220 da Constituição, que exige a classificação da programação televisiva de acordo com a faixa etária.
A ANJ já existia, já era um lobby industrial em defesa de interesses setoriais como outro qualquer, porém discretamente, com alguma prudência. Não menosprezava a razão social das empresas afiliadas, procurava ser uma entidade "jornalística". Agora perdeu a compostura, desembesta ao primeiro indício de contrariedade. Como não dispõe de um quadro de consultores especializados, confia nas "sentinelas" da grande imprensa. E estas – por cansaço ou sob o efeito do mormaço estival – primeiro atiram e, depois, perguntam quem vem lá.
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Os fanáticos ensandecidos
Comentário para o programa radiofônico do OI, 11/1/2010
Mais uma vez a mídia se afoba, se atrapalha e acaba passando para a sociedade informações enganosas.
Quando o governo apresentou o 3º Programa de Defesa dos Direitos Humanos, em 21 de dezembro, a grande imprensa comportou-se com naturalidade: não fechou a questão nem investiu contra a instalação de um grupo de trabalho que criará a Comissão da Verdade para investigar episódios de tortura, morte e desaparecimento ocorridos durante o regime militar.
Jornalões deram cobertura à posição do ministro da Defesa, Nelson Jobim, que fecha com os militares, mas também acolheu protestos e manifestações individuais e coletivas contra a tentativa de sepultar o passado.
Tudo levava a crer que se tratava de um debate democrático e responsável.
A grande imprensa, apesar das atuações geralmente conservadoras, é sensível às denúncias a respeito das violências nos Anos de Chumbo. Talvez para aliviar consciências culpadas, de qualquer forma como prova de sua maturidade. Exemplo foi a publicação na página de opinião do Globo, na sexta-feira (8/1), do veemente protesto do cineasta Sílvio Tendler contra as atuais posições do ministro Jobim.
Ano novo
De repente, entra em cena a famigerada ANJ – Associação Nacional de Jornais, que foi pinçar no novo programa de direitos humanos uma antiga reivindicação que relaciona direitos humanos com qualidade de programação da mídia eletrônica. Sua parceira, a Opus Dei, aproveitou para fazer onda contra o item que reforça o Estado laico e proíbe símbolos religiosos dentro – repito dentro – de prédios públicos.
De repente, o que parecia um debate racional converteu-se em cruzada ensandecida e fanática. A mídia deixou de lado a sua função de mediar e partiu para uma escancarada pressão lobista.
Nesta transmutação esqueceu que o 3º PNDH de Lula é uma continuação dos anteriores apresentados nos mandatos de Fernando Henrique Cardoso, em 1996 e 2002. E ambos tinham a mesma abrangência do programa de Lula.
Quando José Gregori ocupava a Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, participou de diversas edições do Observatório da Imprensa na TV, quando se tratou pela primeira vez de estabelecer uma conexão entre a baixaria televisiva e os atentados aos direitos humanos.
O ano novo já começou, porém as corporações da mídia comportam-se como no ano passado. De triste memória.